De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Depressão, Robin Williams, e como isso acontece dentro de mim

Segunda feira passada o ator Robin Williams foi encontrado em sua casa. Tirou sua própria vida, no que se mostra como resultado de uma depressão profunda.

Depressão profunda.

Suicídio.

Vou parar aqui e dizer primeiro que se você se identificou, já de pronto, com esse pensamento, respira fundo e ouça: tirar sua vida não é, nem nunca será, uma saída. Procure ajuda.
Se hoje você não esta se sentindo bem nem para levantar da cama, quanto mais vencer o temível esforço de falar com outra pessoa pra pedir ajuda, respire fundo. Se de tempo. E tente de novo se levantar e falar com alguém. Pode ser daqui 1h. Pode ser hoje a noite, amanhã de manhã. Não importa. O importante é: não desista! Você pode sair dessa. Você vai! Continue tentando.


Agora voltando a história. Não do Robin Williams, a minha. Ou como a notícia se relaciona com a minha vida, ou ao que a minha vida foi.

Eu sei o que é uma depressão profunda. Eu já estive no fundo do poço sem ver saída. Primeiro aos 13 anos. Depois aos 20. Aos 20 foi bem duro e foi o que me levou ao meu tratamento - e incluiu uma internação, a volta para a casa dos meus pais, e anos tentando re-apreender como viver num mundo que eu não me reconhecia.

De 2003 para cá eu apenas fiquei sem medicação diária durante a gravidez da Beca. No entanto, para controlar possíveis crises, com doses quase homeopáticas de medicação, eu ia semanalmente a psiquiatra, ao psicologo, fazia acompanhamento nutricional e abri mão do trabalho e da maior parte da minha vida social. Não me arrependo de nada disso e faria de novo se fosse o caso.

Mas alguns meses antes de engravidar da Beca eu tive uma crise repentina de depressão. Foi forte. Eu havia acabado de voltar de viagem, de 2 semanas de mania extrema. E ao acordar no dia seguinte da viagem, a queda foi tão grande, que eu acordei pensando que não merecia viver.

Eu não queria morrer. Eu não tinha intenção nenhuma de fazer nada comigo mesma. Mas eu sentia uma dor tão grande, um desamparo, uma angustia tal, que me questionava o motivo de permanecer viva. Não fazia sentido.

Mas duas coisas foram essenciais nesse momento: 1ª e mais importante, eu acordei ao lado de meu marido, que estava pronto para me ajudar. Que esteve comigo antes e depois de eu começar a me tratar, que conhecia os sintomas e estava preparado para que isso pudesse acontecer. 2ª - eu estava medicada, estava em tratamento, e compreendia o que eu estava passando. Então quando eu consegui colocar em palavras a primeira coisa que eu fiz foi pedir ajuda, ao meu marido, para entrar em contato com minha médica para nos dar instruções do que fazer para lidar com isso.

Quando eu tive a minha crise em 2002, que me levou ao tratamento, eu consegui pedir ajuda pois eu estava bem informada sobre um possível diagnostico, que eu lembrava de quando tinha 13 anos. E num dia, não diferente de outro, eu acordei um pouco melhor. E consegui ter iniciativa de ligar para os meus pais e pedir ajuda. Eu pedi o telefone de psiquiatras do meu convenio, e disse que não estava bem.
Entre esse telefonema, que talvez tenha salvado a minha vida, e eu ficar bem de novo, foram mais de 3 anos.

Eu mal me lembro desses 3 anos.

Mas eu me lembro com clareza dos meus últimos 5 anos.
Eu sempre quis ser mãe. Ter a Rebeca foi a realização não só de um sonho, mas de anos de esforço consciente para isso. Eu sabia que para ter sucesso eu precisava ficar bem, estável. Eu sabia que mais importante quando ela nascesse era ter condições de cuidar dela.

Eu ouço as vezes quando me falam que eu deveria fazer mais, que eu não deveria aceitar minhas limitações.
Eu sei onde eu estive.
Eu sei onde você talvez esteja.
Aceitar meus limites não significa necessariamente deixar de fazer e de conseguir as coisas que eu quero ou preciso. Mas significa que eu vou fazer isso no meu tempo, do meu jeito.
As vezes a gente tem que abrir mão de algumas coisas para ter outras.
Abrir mão de nós mesmos não é uma saída. Nunca foi uma saída pra mim. Eu entendo isso. Em todas as suas formas.
Eu sou importante.
Eu mereço viver e ser feliz.
Eu mereço fazer outra pessoa feliz.
Eu mereço uma segunda chance.
E cada dia que eu acordo eu tenho uma nova chance de ficar bem.
Eu venci.
Eu venço essa batalha todos os dias.
Você também pode.