De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Sobre ter uma filha incrível!

Com frequência as pessoas me perguntam, com um misto de surpresa e curiosidade, como eu fiz pra Rebeca ser uma criança tão educada, comportada, prestativa entre outros adjetivos.

Eu sei, ok, é minha filha e eu sou coruja, mas eu preciso dizer: eu tenho uma filha incrível!

Diversas são as vezes em que me vejo num grupo de mães e pais falando de seus proprios filhos, muitas vezes reclamando de algum comportamento e simplesmente me calo. Não tenho do que reclamar.

Já me peguei pensando em reclamar de algum hábito, ou forçar um pouco pra pensar em alguma coisa ruim, mas a verdade é que, de modo geral, eu realmente não tenho do que reclamar.

Rebeca não é perfeita, claro. Não existe perfeição. Mas ela e, sem sombra de dúvida, ė tudo que eu poderia querer em uma filha.

Rebeca é uma pessoa calma. Ela não é dada a reclamar das coisas ou de responder atravessado. Não grita, pelo contrário, tende a falar baixo. É bem humorada, acorda de bom humor e é muito otimista.
Tenta sempre se dar bem com as outras crianças, costuma se esforçar e ceder se necessário para aproveitar a companhia que tem. Consegue se entender com crianças mais velhas, e cuidar das pequenas. É muito paciente.

Se tem algo que nos desentendemos é com o tempo. Eu sempre fui uma pessoa pratica, Rebeca faz tudo com muita calma. Eu sou apressada e ela tem o tempo dela pra fazer as coisas. Mas ainda sim não considero algo que eu possa reclamar. Entendendo a mecânica dela e respeitando seu jeito e o seu tempo ela faz as coisas com capricho.
E assim desde sempre. Tomou seu tempo para engatinhar, andar, falar... É como se ela só fizesse as coisas quando tem certeza do que está fazendo. Engatinhou mesmo só com 10 meses, antes disso ia na base dos pulinhos, mas no dia que engatinhou parecia que fazia isso a meses. Andar foi a mesma coisa. Falar então... Desde pequenininha, ainda trocando as letras, se expressava bem, com muito vocabulário e no tempo verbal correto.

Essa caracterisca dela se mantém ate hoje. E só é um problema quando eu estou com pressa ou emocionalmente abalada. E veja que aí o problema é comigo e não com ela. Quando percebo isso, paro, explico a situação, e ela se esforça para se adequar a necessidade daquele momento. Sem briga. Pelo contrário, sempre disposta a ajudar.

Ela e muito determinada. E bastante persistente. Quando gosta de alguma coisa e decide algo ela se esforça para conseguir. Se entende que lhe faltam meios ela da uma recuada e espera. Não desiste, espera. Guarda dentro de si aquela decisão e se prepara internamente. Quando a situação parece favorável ela relembra e retoma.

Na escola é um pouco distraída, mas muita dedicada. Gosta muito da escola, não apresenta dificuldades com as matérias, faz a lição de casa sem preguiça, sem onda.

Tem dificuldade, talvez, em lidar com pressão. Com frustrações. É bastante perfeccionista e fica muito mal quando as coisas não saem como ela espera. Desde um trabalho de escola a um penteado novo.

Conversa muito. Comigo principalmente. Quer entender o mundo, as pessoas. É muito curiosa e está sempre buscando saber coisas novas. Adora música e já entende mais disso do que eu. Adora dançar, cantar... Tudo na vida dela tem trilha sonora.

Se leva uma bronca ou recebe uma ordem, questiona, no máximo resmunga, mas aceita. E isso eu tomo crédito pra mim sim. Eu sempre conversei e expliquei o motivo pra tudo pra ela. Cada bronca, cada castigo, cada ordem, tudo sempre tem uma razão de ser. Eu acredito que isso criou uma relação de confiança e permite que ela saiba que quando eu falo algo, ou mando ela fazer alguma coisa, mesmo que na hora ela não entenda, ela saiba que tem uma razão. E aceita. Se não concorda, questiona. E nos resolvemos na conversa, se não imediatamente em uma hora mais apropriada.

Sempre muito disposta a ajudar e a fazer a sua parte, ela assume os cuidados com seu cachorro sem reclamar muito. Como toda criança ela não gosta de ter que parar um momento de diversão para limpar sujeira, mas mesmo assim ela faz. Limpa sujeira, da banho, comida, brinca, faz carinho.

Com as pessoas sua dedicação é ainda maior. Cuida com a mesma naturalidade com que é cuidada. Ouve, fala, responde e pergunta. E compreensiva com os sentimentos dos outros, e sempre que pode tenta fazer as pessoas sorrirem.

Tem uma imaginação incrível. Inventa histórias, personagens, viagens, músicas... Inventa uma festa, um jantar, uma brincadeira...

Eu dei muita sorte, essa é a verdade...

Sou mãe de uma pessoa muito especial.

O mínimo que posso fazer em troca é ser o melhor de mim, por ela, pra ela. Fazer o melhor que puder e um pouco mais.

Por hoje eu sou grata por ter essa pessoa na minha vida.
Ela veio de mim, um privilégio. Tenho a chance de, com ela, dar ao mundo o melhor de mim. De colocar em prática cada valor meu, cada ideia, cada sonho, cada certeza de que com amor e possível.

Sou grata.
Hoje é só o que quero sentir.
...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Sentir, agir, viver, seguir

Seguimos.

A rotina ainda nem havia se instalado direito e já precisa ser revista.
E eu não sei como levar nem as pequenas responsabilidades.

Faço o possível.

Levo Rebeca pra aula. Recebo visitas. Essas são coisas que parecem ajudar, mas infelizmente duram pouco.

Na verdade o que dura pouco é o humor.

Não estou bem e tinha muito tempo que eu ficava tão mal por tanto tempo.

Por mais que nas férias eu tenha conseguido levar os dias razoavelmente bem, não chegou nem perto de ser bom. De poder dizer que eu não estava deprimida ou ansiosa. De poder bater no e dizer: "estável".

Se nas férias que eu estava um pouco melhor eu não conseguia fazer um bolo de aniversário, agora com mais atividades e a iminência das mudanças e problemas de saúde voltando a ser mais presentes, tenho dificuldade de fazer o almoço. Tirar roupas do varal. Escrever. Levantar da cama. Dormir...
Tudo requer um esforço muito maior. Como se o tempo todo eu carregasse um saco de 5kg de arroz em cada ombro, cada pé...
Pensar e interagir exigem concentração, calma. Sinto como se estivesse o tempo todo de mal humor. Tenho dormido pouco.
Com mais dificuldade de adormecer fico na cama torcendo que o tempo passe e o dia seguinte chegue e eu não precise me sentir culpada por estar acordada: já é dia.
Não consigo aproveitar o tempo extra acordada nem pra assistir filmes. Sozinha de madrugada fico com medo de ficar na sala ou outro lugar da casa que não o quarto fechado e seguro. Me sinto exposta. Vulnerável. E por dividir o quarto com o marido e a filha não uso muito o celular para não correr o risco de acordar qualquer um dos dois...

Então o que consigo fazer é apenas seguir.
Um dia de cada vez.
Quando me sinto mais disposta adianto alguma coisa. No resto do tempo procuro me permitir não estar bem ao máximo do que é possível com toda a culpa que me consome.

Se o ciclo de me sentir incapaz já não fosse suficiente ele se auto alimenta me impedindo de fazer o que preciso. Vivo do mínimo e tento aceitar.

Eu sei que é só uma fase. Sei que isso vai passar. Sei que demora, que é difícil, mas também sei que passa.

Sempre passa.

A certeza de, mesmo durante a tempestade, saber que o sol vai brilhar de novo amanhã. Só não o vemos por trás das nuvens mas ele continua ali.

Espero por ventos melhores para soprar esse mal estar de dentro de mim. Espero.
Quando posso faço os meus esforços para ajudar a mim mesma e virar essa página mais rápido.
Mas não adianta ter pressa por mais que o desespero apareça para assombrar minhas parcas tentativas. Tem mais a ver com resiliência. Com continuar aqui e seguir em frente independente de qualquer coisa.
De seguir.
Ter a certeza que o caminho e longo mas não e todo de barro. Que a estrada vai voltar a fluir.
Enquanto isso, presto atenção nas flores.
Paro, respiro, sigo em frente.

Hoje eu já consegui escrever.
Hoje já é um dia bom.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Sobre o que acontece por aqui...

Já contei em outros posts do blog sobre o processo de mudança que se iniciou por aqui no ano passado na época que minha mãe começou a ficar doente.

2018 terminou como se eu tivesse sido arrastada por um furacão. 2019 tem pouco mais de um mês que chegou e já me sinto atropelada.

Sei que muitos se sentem assim.

2019 vem para dar continuidade a esse movimento que minha vida entrou ano passado.

Se não tenho controle sobre o que acontece lá fora o jeito é me concentrar no processo interno.

Queremos nos mudar de casa ainda nesse primeiro semestre. Esse é o plano.

Eu venho pensando muito no que quero, no que preciso, no que sou capaz.

Minhas respostas tem sido amargas e me levado para um desespero ainda maior que os próprios acontecimentos em volta. Mas eu preciso encontrar algumas respostas.

Uma questão que aparece várias vezes e que acaba sempre memlevando propmesmo lugar é se iremos morar próximo dos meus pais para podermos continuar nos ajudando ou não.

Um lado meu sente vontade de sair da cidade grande e ir para o interior. Uma parte de mim quer ir ainda mais longe e tentar a chance em outro país. Ir para algum lugar mais seguro onde minha filha possa crescer com a liberdade de ser ela mesma, sem medo.

No entanto a ideia de deixar meus pais pra trás é paralisante. Mesmo a ideia simples de deixar a cidade pra tentar a vida em outro lugar, sem eles me parece impossível depois de tudo que passamos no último ano.

Essas últimas duas semanas meu pai teve uma crise de labirintite. Ficou vários dias de repouso tomando remédio e voltou às atividades devagar conforme foi melhorando. Nossa rotina foi profundamente afetada visto que ele é o principal responsável por levar as pessoas de um lado pro outro (eu, Rebeca, minha mãe) e por fazer as compras.

Semana passada a médica de minha mãe voltou das férias e minha mãe decidiu parar de fingir que estava bem e aceitou ir ao PS depois do segundo dia de febre.

Lá a médica dela constatou uma nova pneumonia. Tratamento em casa, antibióticos mais fortes, e tudo o que já sabíamos.

Em casa após o médico minha mãe admite que vinha sentindo dores no peito há semanas, desde que voltou da praia, mas como a dor passava com analgésicos ela achava que estava tudo bem...

E isso me lembrou que podemos ter tido uma melhora sim, mas que essa história ainda não acabou...

No meio do caminho, vamos ver apartamentos na nossa cidade mesmo.

Meus pais vão precisar de ajuda e cuidado. Eles não vão ficar mais novos. Não vai ficar mais facil. E eu não conseguiria ficar bem comigo mesma se eu não tentasse oferecer à eles o mesmo cuidado que eles até hoje tem comigo. Então vamos mudar de casa sim, mas para 2 aptos no mesmo prédio, para ter a proximidade e a individualidade preservadas na medida.
Então estamos vendo aptos por perto.

Eu leio as notícias do dia e fico tonta.
Não sei se é melhor me alienar ou me manter informada.
Tento me concentrar em nós.

Acordo cedo e mantenho a rotina.

Eu não sei se tenho direito de opinar nas decisões da casa. Não me sinto capaz de mudar minha realidade.
Muitas coisas estão fora do meu controle.

Mas eu posso acordar cedo e trazer a Rebeca a aula de dança. Posso acompanhar ela até a escola, e ajudar na lição de casa. Posso me esforçar para ajudar meus pais em sua decisão e a entender que a palavra final e deles.

E eu posso vir aqui e escrever e contar um pouco disso tudo. Porque isso ajuda.

Quando tudo em volta parece se mover rápido demais vir aqui me ajuda a acompanhar o movimento.

E isso eu posso fazer...