De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Sobre projetos, planos, e como me perco facil...

Estamos no final de Julho e estamos de semi-quarentena aqui em São Paulo desde final de março. Tudo dura muito mais do que deveria, do que é aceitavel, do que é possivel...

Com a quarentena Taz não pode ir trabalhar. Ele trabalhava dirigindo transporte escolar e estava transitando para passar a ser motorista de aplicativo. Haviamos acabado de fazer um investimento voltado pra isso quando a quarentena começou. Com o Corona virus tão disseminado na população ele continuar trabalhando com isso é arriscado demais e ele é basicamente o suprassumo do grupo de risco: homem, obeso, hipertenso, pre diabetico e asmatico.

Não, sem chances, se expor é arriscado demais.

Mas então fazer o que?

Temos alguns projetos em andamento. Temos planos. Muitas ideias. E outras tantas surgem a todo momento. Poucas, infelizmente, chegam a uma conclusão. Nenhuma delas é para retorno imediato.

E eu me vejo perdida no meio das ideias, tentando produzir algum conteudo aqui e ali nas diversas frentes que se apresentam. Tento focar e isso me parece impossivel. As vezes passo dias sem conseguir fazer algo concreto para ter dois ou três dias de maior produtividade. Mesmo assim não consigo concluir nada e a sensação de frustração cresce.

O dia a dia cobra minha presença, minha atenção. A rotina, a casa, as contas, o marido doente, a escola da filha...

Esse fim de semana eu não fiquei muito bem. Esses ultimos dias... E o que houve foi que eu quis fugir e me esconder onde encontrei conforto. Me desligar da realidade por algumas horas, alguns dias, me perder nos momentos de aconchego. Dengo.

Mas se é facil me perder nessa vontade, é o oposto voltar a cabeça para o que precisa ser feito.

Tento não me cobrar demais. A verdade é que me cobrar me culpando pelo que não fiz, ou pelo que fiz e não deveria ter feito, ou por me permitir, não leva a absolutamente lugar nenhum. A culpa nunca nos leva a lugar nenhum que seja bom.

Chacoalho a cabeça tentando afastar esse sentimento. Deito a cabeça no travesseiro e durmo o maximo que posso. Sim, essa é a resposta para os momentos de angustia, dormir. Meu mais fiel tratamento, sempre funciona, é apenas uma questão de dose: algumas noites a mais ou a menos, mas sempre funciona.

Acordo no dia seguinte com a energia renovada, com a cabeça mais limpa, e procuro encontrar na tela do computador o foco perdido.

Temos planos, projetos, ideias, e eu quero poder fazer o que depende de mim, o que eu me propus, o que me diverte e me faz sentir mais util.

Mexo no site aqui, escrevo mais um pouco ali... Coordeno a criação de uma musica. Coordeno as pessoas a minha volta, organizo a rotina da casa, me mostro disponivel para ajudar um amigo.

Faço café.

Farei um pouco mais hoje. O importante é não desanimar e continuar em frente, mesmo que devagar.

Apenas levantar e continuar em frente.

Tomo meu café e escrevo. Isso me preenche. O café é doce.

Não existe açucar demais.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Sobre o medo do Corona Virus

Essa semana que passou o Taz, meu marido, ficou doente.

Começou na noite de segunda feira. Ele havia saido para acertar umas coisas do projeto que estamos montando e quando voltou no meio pro fim da tarde reclamava que se sentia mal. Uma dor de cabeça e dor de garganta.

Naquela noite ele já estava um pouco febril, mais quente que o normal, na hora de dormir. Na manhã de terça ele mal conseguia levantar devido a dor no corpo, nas juntas, e a falta de força. A garganta doia muito e ele estava com dificuldade para engolir. A respiração também estava dificil e ele, asmatico, se cansava muito rapido.

Nós já estavamos preocupados e ficamos sabendo que a familia de uma pessoa que tivemos contato apresentava sintomas de COVID semelhantes aos dele. Nosso alerta tocou e ele tentou ir ao PS pela primeira vez.

Antes de tentar ir no PS ele fez uma teleconsulta com um medico credenciado do convenio. O medico não passou nem pedido para exames e nem medicação, disse apenas que ele deveria ir ao PS. Ou seja, não ajudou em nada. Ele foi para o PS...

A primeira tentativa foi em um hospital particular da nossa cidade que atende pelo nosso convenio. Ele chegou lá para fazer a triagem e logo foi informado que o hospital estava lotado, que eles não estavam fazendo o exame de COVID e o encaminharam para o hospital municipal.

No hospital municipal não foi diferente. Também lotado, o encaminharam para um PS de bairro. Mas avisaram que também não estavam efetuando os testes.

Cansado, frustrado, e sabendo que não iriam nem investigar seu caso, ele voltou pra casa. Pensamos em fazer o exame num laboratorio particular, mas nossa filha mais velha que mora com a mãe insistiu que ele tentasse ir ao PS que costumamos leva-la em SP. Referencia do convenio ele teria mais chances de ser atendido lá.

Na quarta feira, ainda muito mal, com febre a noite toda, sem conseguir dormir por não respirar direito e com muito medo, ele foi ao PS de referencia. Lá ele foi atendido. Bem atendido.

Passou pela triagem, o admitiram, a medica achou o caso suspeito e pediu alguns exames: sangue, raio-x, exames de COVID. Com os resultados, passaram uma medicação para diminuir a febre e a dor, a médica disse que acreditava não ser COVID por faltarem alguns elementos chave no quadro já que o pulmão dele parecia limpo. Mas o exame de COVID ainda não estava pronto, só sairia o resultado dali alguns dias. Ela o tranquilizou, pediu que voltasse para casa e tomasse a medicação que ela iria prescrever corretamente e repousasse, evitasse sair de casa pelo menos até o resultado do exame ficar pronto. No entanto se em 3 dias ele não apresentasse melhora e continuasse com febre e falta de ar que ele retornasse ao hospital pois ela iria interna-lo.

Perguntou se ele entendia, ele disse que sim.

No mesmo dia compramos os remedios - antibiotico, antinflamatorio, anaslgesico. Ele começou a tomar logo que compramos.

Na noite de quarta para quinta ele ainda teve febre mas suou a noite toda, efeito da medicação, e acordou na quinta feira sem febre.

Nós não estavamos preparados para ficar totalmente sem sair e eu precisei pedir ajuda a um amigo para ir comigo fazer compras de modo que pudessemos ficar em casa. Esse amigo já havia sido exposto a nós em outros dias da semana anterior e estava disposto a vir ajudar. Foi importante e nos trouxe tranquilidade muito mais do que apenas a parte pratica do ir e vir. Isso permitiu que Taz ficasse na cama e descansasse bastante.

Na sexta feira Taz já acordou muito melhor. Com os remedios começando a fazer efeito a febre não apareceu mais, a respiração começou a melhorar e a garganta já doia muito menos e ele já conseguia se alimentar melhor. Ja estava bem mais disposto e conseguia falar e conversar um pouco mais apesar de se cansar e perder o folego se insistisse muito.

Sabado... Domingo... No Domingo Taz já parecia outra pessoa. Ainda cansado, mas de bom humor, conseguia ficar muito mais tempo acordado e bem disposto. Brincou com o cachorro, insistiu em leva-lo para passear, lavou um pouco da louça, fez varias video chamadas com os amigos, conversou com nosso amigo, que como eu disse antes estava aqui nos ajudando esse dias, por muito mais tempo. Jogaram jogos de celular juntos. Sorriu. Deu risada.

No domingo a noite o exame dele de COVID ficou pronto e eu pude pegar o resultado pela internet: Negativo. Ele não esta com COVID. Foi um alivio. Como se fosse tirado uma sentença de suas costas. O medo é algo muito poderoso e muito pesado de se carregar.

Desviamos dessa vez. Demos sorte essa é bem a verdade.

Não podemos ficar em casa o tempo todo. Não podemos mais nos dar a esse luxo pois precisamos voltar a ter uma renda mais substancial e não apenas um auxilio e a ajuda de outras pessoas. Seguimos a quarentena como possivel mas chegamos ao limite e tivemos que traçar um plano de exposição e risco controlado. Mesmo assim, ele ficou doente e foi o medo que pairou como uma nuvem durante toda a semana aqui. Nossos amigos que estavam a par de sua condição de saude e de nossos receios acompanhavam de longe também apreensivos.

Como lidar com essa situação? Como lidar com a ineficacia dos protocolos que deveriam ser seguidos por não poder mais ficar em casa? Como lidar com o medo e com a responsabilidade? E com o medo de ser você o responsavel por eventualmente levar essa mesma vivencia para outras pessoas, outros lugares, outras familias que talvez não tenham a mesma sorte que você?

As coisas poderiam ter sido diferentes por aqui. É importante que saibamos disso.

Eu preferia não ter vivido isso e ao mesmo tempo estou grata por ter sido só um susto. E que ele me lembre que é importante continuar se cuidando. Mesmo que aqui a gente continue não podendo ficar mais em casa e ter que continuar com a nossoa propria flexibilização, no tempo certo quando Taz estiver recuperado totalmente... Extendendo nossa quarentena a poucos lugares e encontrando poucas pessoas de forma controlada, pessoas essas que também estão cientes do risco e aceitaram essas condições.

Mas não deveria ser assim. Não mais. Não depois de tanto tempo...

Me desculpem se nem sempre podemos ser um exemplo do ideal. Aqui trabalhamos com o possível.

Então, se pra você for possível, fique em casa.

sábado, 4 de julho de 2020

Daquilo que nos faz parar e da dificuldade de recomeçar

Olá! Quanto tempo não? Pois é... Hoje eu vou contar porque eu sumi de novo...

Eu fiquei doente no final do ano passado.

Foi isso que me fez parar de escrever no blog novamente.

Quando eu finalmente me recuperei e estava voltando a ter saúde física e mental para retomar nossos encontros a quarentena começou. E ai não houve saúde mental que desse conta...

Começou no final de Novembro. Um desarranjo intestinal. Deve ser algo que eu comi, logo passa. Mais uma semana, duas... Está piorando. Vou ao banheiro diversas vezes ao dia. Chega perto do Natal, a comida começa a ter um gosto diferente. Sinto pouca necessidade de comer. Deve ser a mania... Sim, sem duvida estou numa crise de mania, dormindo bem pouco, comendo pouco, muito ativa, com o egocentrismo correndo louco assim como gastos excessivos... Deve ser a mania...
Mas o desarranjo intestinal continua... Falta uma semana pro Natal... Melhor ir ao médico...

Fui ao pronto socorro. Uma bronca leve por demorar tanto para ver um medico, ele me passa um antibiótico. Começo a tomar e tenho uma crise fortíssima de labirintite. Vou ficar com labirintite no Natal? De jeito nenhum, o Natal vai ser na minha casa! Depois das festas de fim de ano eu passo no medico de novo e peço por um antibiótico diferente pra tomar que não me de esse efeito colateral...

Natal em casa muito bom, Ano Novo maravilhoso com uma festona com os amigos no salão de festa do prédio! Ta tudo bem!

Mas o desarranjo não passa e eu me sinto cada vez mais fraca. Não consigo comer um prato de comida inteiro. Não consigo mais tomar Coca-cola. Mas eu sou viciada em Coca-cola! Não importa, não da, tem um gosto horrível. Hora essa, mas eu queria ha anos tirar a Coca-cola da minha vida, nem que fosse pra trocar por outro refrigerante, mas me livrar desse vicio. Ha males que vem para o bem... Mas é melhor ir ao médico de novo...

Volto ao PS e o médico é categórico: preciso ir em um especialista pois eu devo estar com algo grave. Não é normal uma pessoa ficar mais de 6 semanas como eu estou. Concordo, marco um gastro.

A médica que me atende é muito simpática e diz que o que eu tenho é muito sério, pode ter diversas causas, umas mais simples outras bem complicadas e ela precisa que eu faça exames para eliminar as possibilidades e ver o que esta acontecendo.

Faço os exames. Ultrasom, exames de sangue, colonoscopia... Não consigo fazer a colonoscopia, fico com medo, tenho crises de ansiedade, demoro, e quando finalmente faço o exame, em fevereiro, não consegui fazer o preparo corretamente. Tem que refazer.

Decido seguir a recomendação médica e efetuar o exame em ambiente hospitalar. Meu medo era de não aguentar o jejum, ter uma crise de hipoglicemia, do preparo piorar ainda mais minhas condições. Fazer o exame num ambiente mais controlado ajuda a lidar com a crise de ansiedade que me causa todos esses medos exagerados.

O exame da certo, retorno na médica, eliminamos todos os suspeitos mais graves, sobrou uma indicação no exame de sangue como vilão: tireoide. Hipotireoidismo em uma apresentação atípica. Agora tem que ir no endocrinologista e começar a medicar. Vai tomar mais um remédio pro resto da vida...

Endocrinologista simpática, atenciosa, concorda com a interpretação do exame, e com a avaliação de um quadro atípico, começa a medicar, volte daqui 3 meses pra refazer os exames.

Isso era meio pro final de fevereiro. Foram mais de 10 semanas passando mal. 12 quilos a menos.

Poucos dias tomando a medicação e o corpo já começa a reagir e a voltar ao normal... Março chega e o desarranjo finalmente passou e eu consigo me alimentar um pouco melhor a cada semana.

Não voltei a tomar Coca-cola.

Consigo pensar em outras coisas. Voltar a levar a filha no clube para as aulas de dança... Marcar de retirar aqueles sisos que estão esperando desde o ano passado... Minha disposição começa a melhorar, durmo melhor...

Pandemia...

Medo de sair, medo de ficar em casa e não conseguir se manter. Culpa. Paciência e resiliência... Vai passar se todo mundo fizer a sua parte.



Estamos em Julho. A Pandemia continua e cada vez mais forte, muitas mortes, descaso do poder publico... Mas eu estou bem agora.


Mesmo. Eu estou muito bem!

Depois dos primeiros dois meses de quarentena instável e  depressiva, vendo que precisava de energia extra, provoquei uma virada no humor. Sabia o que devia fazer para provocar um quadro de leve hipomania.

Sim, estou em hipomania agora. Tenho dormido menos, acordado cada vez mais cedo, tenho disposição e bom humor na maior parte do tempo. Com isso consegui ter a iniciativa necessária para planejar e desejar e colocar esses planos em andamento para se tornarem ações, desejos se tornarem objetivos.

Mas estou bem. Depois de tudo que passei nesses meses doente, fisicamente doente, me sentir bem novamente, feliz, é uma conquista enorme.

E hoje pela primeira vez desde que toda minha saga de saúde começou em Novembro eu finalmente consegui vir até aqui e contar essa parte da historia pra vocês.

Quem diria...

E vocês? Como vocês estão?

Senta, puxa uma cadeira, sinta-se em casa! Tenho tanta coisa pra contar ainda....