De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Sobre Depressão, e a batalha de viver todos os dias.

Eu faço tratamento para Transtorno Afetivo Bipolar há aproximadamente 13 anos. Quando eu iniciei o tratamento eu já sabia que possuía a doença há alguns anos, mas tanto por minha imaturidade quanto pelo falta de conhecimento de minha família, só iniciei o tratamento realmente aos 21 anos durante uma crise de depressão e ciclotimia muito severa.
Depois de aproximadamente 2 meses de tratamento medicamentoso e terapia, sem um avanço efetivo do tratamento, a médica responsável pelo tratamento na época decidiu ouvir meu apelo e solicitou minha internação. Internação essa que eu sei ter sido decisiva naquele momento da minha vida e no sucesso do tratamento todos esses anos.

Eu troquei de médica duas vezes depois disso, sempre por motivos financeiros. O tratamento para bipolaridade é caro, os remédios são de uso continuo e nem sempre a mesma substancia vai ter o mesmo efeito vindo de laboratórios diferentes, e você pode ter que pagar mais caro para ter o retorno necessário. Mas eu continuo aqui, muito e talvez principalmente, pela minha própria capacidade de entender e racionalizar a doença.

Essa característica pessoal foi o que me tornou capaz de mesmo em meio a uma crise aguda, aos 20 anos, ser capaz de entender que o que eu vivia não era real e sim uma série de sintomas de uma doença que poderia e deveria ser tratada.
Foi o que me fez persistir com um tratamento que inicialmente me deixava dopada e incapaz de me reconhecer, por saber que era a persistência nesse tratamento e a confiança naqueles ao meu redor que buscavam a minha melhora que iria me fazer passar por aquilo e voltar a ser eu mesma novamente.
Foi o que me fez ter paciência para esperar um momento oportuno para dar uma pausa nesse mesmo tratamento, e com orientação e acompanhamento, buscar um sonho de longa data, o de me tornar mãe.
Foi o que me fez entender que era mais importante ser uma mãe sã, não apenas de corpo, mas da mente, do que manter um comportamento ou uma atitude que pudessem parecer socialmente corretos mas que ao serem colocados na lente que mostrava a minha vida, não eram aplicáveis.
Foram essas características, não, foram não, são essas características que me peritem sentar e avaliar cada decisão que eu tomo, buscando um equilíbrio que para muitos pode parecer utópico ou até mesmo desestimulante, mas que para mim é vital. E que as vezes eu terei de abrir mão de certas coisas, ou adaptá-las a minha realidade.

Eu não deixei de ter Transtorno Afetivo Bipolar. Eu não deixei de ter crises de depressão, ou de mania. Mas hoje elas são raras perto de como minha vida foi um dia. Hoje eu sou capaz de identificar cada uma dessas fases, normalmente brandas mas que quando alimentadas por um gatilho podem vir tão fortes quanto um furacão, e tão repentinas quanto também. E sou capaz de tentar tomar o que eu acredito serem as melhores decisões para lidar com cada uma delas.

Infelizmente não são todos os que tem essa sorte.

Eu perdi um amigo ha duas semanas atrás para a depressão. Ele lutava sua própria batalha, e uma noite não diferente de tantas outras, ele perdeu a luta. Da janela de sua casa ele encontrou um final para sua história, deixando para trás apenas a dor e a saudade de todos os que o amaram.

Ele não era mais fraco, nem nada do gênero. Ele não era burro, ou covarde. Ele era uma das pessoas mais inteligentes e sagazes que eu conheci. Era gentil e bondoso, e buscava uma carreira em uma área de pouca atuação no Brasil, com o sonho de buscar seu lugar lá fora. Mas em algum momento algo quebrou dentro dele, e eu sei exatamente o que é sentir isso. E eu sei que cada dia a partir dai ele lutou, a cada vez que el acordava para cada hora que ele conseguia dormir, ele lutou.

A depressão é uma doença muito injusta por que ela engana não apenas aqueles que convivem com ela dentro de si mas aqueles que convivem com o adoecido. Eles não podem vê-la, ou senti-la, e é algo tão difícil de compreender que muitas vezes ela é minimizada. Por que ela ataca pessoas que amamos de uma forma muito forte, e os machuca de uma forma que muitas vezes não sabemos como ajudar, e nossa, como é horrível ver alguém sofrer e não poder ajudar!

Eu infelizmente não posso fazer meu amigo voltar. A luta dele já acabou, e agora me resta honrar sua memória continuando a viver. Continuando a lutar. E se eu puder, ajudando a luta de outras pessoas também.

Existem muitas pessoas no mundo que hoje lutam uma batalha sobre a qual não sabemos nada a respeito.
Sejamos gentis, sempre.

E se você tiver contato pessoal com alguém que esta sofrendo, ou que você suspeita que possa estar sofrendo, de depressão, ofereça ajuda. Ajude-a a buscar informação. Esteja presente. As vezes apenas estar lá já é tudo o que uma pessoa precisa.
E se for você a pessoa, saiba que você não esta sozinho.
E que isso é uma doença, e que ela tem tratamento. Ele é lento, mas funciona. E você pode e vai se sentir melhor.
A dor não dura pra sempre.
Isso vai passar.
Apenas continue a nadar.
Um dia de cada vez.