De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

domingo, 27 de outubro de 2019

Sobre uma pequena historia do cotidiano...


Eis que um dia desses, eu, Taz e Rebeca passamos a tarde toda ajudando um amigo com um projeto de fotografia, um ensaio.

Rebeca e Taz e inclusive foram modelos

Ambiente descontraído, muita gente bonita e diferente. Aí estou eu e Rebeca sentada perto do maquiador a quem Rebeca presta atenção atentamente pois estava aprendendo sobre maquiagem, e conversando eu, o maquiador e meu amigo.

Em determinado momento o maquiador fala que uma das meninas que tinha ido embora era namorada desse amigo, ao que ele diz que não.

"Ué, mas eu vi você dando um beijo na fulana!"

Aí meu amigo explica que "não, que não foi um beijo, Beijo, foi um selinho, tipo assim" e se aproxima, olha pra mim esperando concordância e entendendo que sim me dá um selinho.

E foi a primeira vez que a Rebeca me viu fazer isso com alguém que não o Taz e abriu os olhos com cara "uou" impressionada, mas não crítica, eu diria que divertida.

Vi que ela ficou em dúvida mas não achei que o ambiente era o melhor pra conversar, então dei de ombros e passou o dia.

Aí...

Uns dias depois, na hora de dormir, que é a nossa hora de conversas difíceis, parei e perguntei:

 - Rebeca, ontem você me viu dando um selinho no meu amigo e eu vi que você ficou surpresa. Foi isso mesmo né? O que você pensou?

Ela deu aquela risada de quando a gente fica sem graça e respondeu:

- Foi, fiquei mesmo. Mas eu sei que você e meu pai tem um relacionamento aberto né? Então eu só pensei: eu sabia!

Eu ri.

- Sabia? Sabia o que? Rsrs… Você ficou chocada? Eu senti que a sua surpresa não foi crítica, como você se sentiu?

- Ah, sei lá, sabia... Ele vem tanto aqui, vocês conversam tanto....

- Mas filha, foi só um selinho. Não quer dizer nada. É carinho. A gente é só amigo. Poderia não ser o caso, mas agora é. Se não fosse, você acha que você está pronta pra ver a mim ou seu pai com outra pessoa, ou apresentando alguém falando que é alguém com quem estamos saindo?

- Entendi... Acho que sim. – Parou, pensou um pouco e perguntou - Mãe, como você descobriu que preferia um relacionamento aberto? Você conhecia pessoas com relacionamento aberto quando você era criança?

Aí fui contar pra ela como a ideia surgiu pra mim, como a monogamia nunca fez sentido, como eu assistia as comédias românticas quando criança e tinha o clássico triângulo amoroso de dois caras disputando uma mina e ela escolhendo um e eu me perguntando por que ela não ficava com os dois,culminando em assistir o filme "Três formas de amar" aos 12 anos e entender aquela relação a 3 como algo que fazia todo sentido pra mim. E contei a história do filme, o que fez seguirmos pro rumo seguinte da conversa:

- Mãe, eu tenho uma dúvida... Tanta gente que eu conheço é bissexual e eu não sabia... Meu pai, o fulano, a fulana... E você? Você também é bissexual?

- Não, infelizmente não. Pelo menos não que eu saiba. Nunca senti vontade de sair com outra mulher. Mas vai saber, ninguém sabe o dia de amanhã.

- Por que as pessoas acham que ser bissexual é errado?

Segui-se uma explicação sobre moral e conceitos conservadores cristãos vigentes no país.

- Mãe, por que as pessoas acham que Deus é homem? Deus podia ser uma mulher! Faria muito mais sentido!

Passei a explicar que existem religiões no mundo e que em muitas delas Deus é uma mulher, mas que no Brasil vigora o catolicismo.... Etc etc, ao que ela eventualmente dormiu.

E eu fiquei babando de amor... E precisava dividir esse momento!


terça-feira, 8 de outubro de 2019

Sobre ser pipa...

Aprendi com os tombos
A ter medo de ir muito alto.
De subir os degraus de uma escada dura demais para descer,
Mas com a descida tão certa quanto cada passo dado para cima.
Aprendi a ter medo dos exageros,
Das emoções fortes,
Das ideias loucas
E dos prazeres fugazes.
Prender os pés no chão,
Fincar fundo e se segurar
Quando a cabeça começa a flutuar
Como um balão de hélio subindo pro céu.
Aprendi com o tempo a ser como a pipa,
Que sobe com o vento o mais alto que pode
E tenta se segurar lá em cima o maior tempo possível,
Mas que desce ao puxar de seu mestre,
Carretel de sanidade na mão, um brinquedo.
Que seja assim, quem sabe?
Uma vida contada em floreios, ondas de vento e... O que era mesmo?

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Sobre as alegrias e tristezas de completar uma década!

Rebeca completou sua primeira década.

São 10 anos de uma vida que chegou em meio a música e tem música em todos os seus momentos.

No dia que Rebeca nasceu eu não entrei em trabalho de parto. Eu tinha uma consulta marcada com minha médica para aquela tarde e estava bastante ansiosa.

Minha médica voltava de uma viagem de 3 semanas a Grécia naquele dia. É o tipo de coisa que desestabiliza um ser humano em reta final de gestação, imagina pra uma bipolar que estava absolutamente sub-medicada...

Eu estava cansada e sentia dores constantes. O quadril já estava aberto a semanas e andar de carro era uma tortura pois cada sacolejada era como um chute. Passei a gravidez toda sem dormir mais que 45min por piscada, acordando o tempo todo, incapaz de relaxar e descansar. Eu cheirava a cânfora o tempo todo devido a enorme quantidade de emplastos nas minhas costas. E minha hipoglicemia me obrigava a comer alguma coisa a cada 2h, então mesmo quando eu conseguia dormir um pouco mais acabava precisando acordar para comer ou a glicemia baixava perigosamente.

Para fechar a gravidez com chave de ouro eu havia passado os últimos 6 meses andando com um copinho a tira colo para ficar cuspindo. Estava com uma produção anormal de saliva e simplesmente não conseguia engolir tanto assim pois isso provocava ânsia e me fazia vomitar. Para não vomitar o tempo todo, cuspia.

Eu estava exausta.

Minha médica então me liga no meio da manhã:
 - Oi Adriana, bom dia. Pode ficar tranquila que já estou chegando no hospital viu? Já estou quase aí!"
Eu, sem entender, pergunto:
 - Como assim? Eu não estou no hospital!
- Não é você que as meninas no consultório me avisaram que está em trabalho de parto no hospital?
- Não... Mas se você achar que é uma boa ideia posso encontrar você lá!
- Não. A princípio vamos manter sua consulta a tarde e lá a gente conversa.

Quando fui a consulta já estava decidida. Conversei com minha médica, expliquei como me sentia, disse que não tinha mais condições de aguentar. Ela tentou me convencer de aguentar mais alguns dias. Eu já estava com mais de 39 semanas e tinha chegado ao meu limite. Marcamos a cesária para aquela noite.

Do consultório fui direto para o hospital dar entrada na internação. Alocada inicialmente numa sala de parto natural até a hora da cirurgia, meu marido estava comigo durante todo o tempo.
Para ajudar a passar as horas, cantamos.

Passamos horas cantado Legião Urbana. As enfermeiras entravam para fazer a preparação e se encantavam com nossa cantoria.

Na sala de cirurgia os médicos colocaram música para tocar. Na hora exata em que ela nasceu tocava uma música de Legião Urbana.

10 anos atrás tudo mudou ao som de Legião Urbana.

Ao longo de todos esses anos eu a faço dormir boa parte das noites cantando Legião Urbana.

Eduardo e Mônica, Tempo Perdido, Quase sem querer...

Hoje Rebeca já escolhe as músicas que quer ouvir no Spotify. Puxou a facilidade e a harmonia do pai e o gosto por todos os tipos de música e por conhecer coisas novas.

Rebeca as vezes canta enquanto dorme.

Nas aulas de dança, mesmo nos dias que tem mais sono e o ombro pesa com as dores de crescer nesse mundo, ela sai feliz. Cansada, mas feliz.

Quer aprender a tocar violão.

Quer ser cientista sim, e descobrir uma forma de fazer os humanos viverem pra sempre. Mas quer ser cantora também.
Pode ser os dois, ora bolas, porque não?

São dez anos que me encanto diariamente com a pessoa incrível que ela tem se tornado.

Hoje o mundo já dói. Hoje os amigos as vezes a magoam, as vezes a insegurança fala mais alto, os padrões estéticos da sociedade insistem em fazer com que ela sinta que tem algo errado com seu corpo.

Mas mesmo o mundo dizendo que esses dez anos tem seu preço, ela dá um sacode e encontra felicidade em cada dia. Muitas vezes na música.