De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Sobre um outro dia, pouco tempo atrás...

A gente vê com certa frequência por ai notícias falando de como um grupo, uma comunidade, se junta para ir no aniversário de uma criança, após um dos pais postar nas redes sociais que nenhum dos colegas convidados foi.

Eu sempre via essas histórias e me perguntava, se apesar da resposta das pessoas ser positiva e muitos se disporem a ir na festa, se esse tipo de exposição era uma boa coisa para a criança.

Até que esse ano aconteceu uma coisa que eu demorei pra lidar e vir aqui contar.

Todos os anos nós comemoramos o aniversário da Rebeca em etapas. São várias comemorações de forma a tentar englobar todas as opções, família, escola, clube, amigos.

Postei aqui sobre o dia do aniversário dela, de como foi bom, como nos divertimos preparando tudo, e como apesar das dificuldades conseguimos tirar o melhor proveito.

Mas acontece que nos tinhamos ainda uma última programação, para os amigos de fora da escola e familiares além do nosso pequeno nucleo residencial.

O plano era fazer um passeio em um parque de diversões durante o dia e um jantar num rodízio de pizza a noite, com bolo e parabens.

Dai aconteceu.

O passeio do parque e o jantar eram todos no esquema cada um paga o seu. Com isso eu já esperava que não fossemos ter companhia de outras pessoas no parque, pela entrada ser cara e tudo mais e muitas pessoas estarem com problemas por causa da crise. Dito e feito, fomos apenas eu e a Rebeca mesmo, foi divertido, mas ficou faltando alguma coisa.

A noite ela se arrumou toda para irmos a pizzaria. Estava animada, esperançosa.

E a única pessoa que apareceu foi um amigo meu, muito querido e próximo, mas adulto.

Só.

Não teve outras pessoas, outras crianças.
De repente estávamos em uma mesa grande para comportar as pessoas que haviam dito que iriam, apenas nós 4.

A pizza podia ser boa, mas o gosto amargo de nenhum dos amigos ter ido, nenhum dos primos...

E então eu fiquei me perguntando como seria se eu tivesse postado uma foto dela nas redes sociais, sozinha na mesa. Que bom eu teria feito a ela.

Eu conheço minha filha o suficiente pra saber quanto ela ficou magoada.
Focamos na parte que deu certo, a festa na escola, no ballet... Mas sei que isso será lembrado.

Eu escolhi não divulgar essa história até agora porque a intenção não é a de ganhar confete, causar pena, fazer qualquer comoção.

Tem a ver com como eu vejo isso, como eu senti e vi o que ela passou. Como eu decidi lidar com isso.

Me sinto ainda hoje muito culpada. Ter escolhido fazer o passeio no lugar da festa foi uma decisão movida por tudo que vivemos em casa esse ano. Mas como me arrependo. Sei que muitos dos que não foram teriam comparecido se a festa fosse em casa.

E o que eu quero contando isso aqui e deixar um registro. Não quero esquecer.
As vezes as pessoas tomam pequenas ações, como confirmar presença em um aniversário e não comparecer, na certeza que não será importante. Quem iria imaginar que praticamento todos os convidados, cada um por seu motivo, iriam deixar de comparecer e uma criança se veria sem nenhum coleguinha na mesa em seu aniversário?

Pois eu também achava improvável, até acontecer conosco.

Não foi certo o que aconteceu, nem foi justo. Foi triste. E eu sei que quando chegar a hora de planejar algo pro aniversário dela do ano que vem e dos proximos isso será lembrado, por ela e por mim.

Eu nunca convidei qualquer um para as festas da Rebeca. Os convidados sempre foram escolhidos pensando em reunir pessoas que ela gosta, outras crianças, aqueles que se mostraram mais próximos.

Esse ano nos sentimos mais sozinhos.

E eu agradeço todos os dias por Rebeca ser a pessoa incrível que ela é. Compreensivel, calma, alegre, sempre tentando tirar o melhor de cada situação. E por ela ser criança e ter muitos aniversários pela frente para poder deixar esse pra trás com as memorias boas apagando as ruins.

Eu no entanto não sou mais criança.
E minha memória é muito boa.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Sobre passado, presente e futuro

Quando eu era pequena, com uns 8 anos +-, eu fugi de casa.

Assim, fugi naquelas... Brava com meus pais por terem brigado comigo por alguma coisa que hoje já não lembro mais, eu fui decidida ao meu quarto, esvaziei minha mochila da escola e coloquei ali as coisas que achava essenciais. Quando me dei por satisfeita e não cabia mais nada na mochila, fui até a sala, fiz uma despedida dramática e sai porta afora para o mundo!

Não lembro tudo o que coloquei na mochila. Lembro de roupas, gibis... Na garagem de casa esquivei das nossas cachorras querendo brincar, abri o portão e fui pra rua.

Cheguei ate a esquina. Era de noite, a rua estava escura e vazia. Tive medo e voltei para casa. No entanto, sem querer dar o braço a torcer, e querendo que sentissem minha falta e se arrependessem de ter brigado comigo injustamente e viessem atrás de mim, decidi não entrar em casa e ficar na garagem. Lá havia uma casinha de cachorro enorme para nossas 4 cadelinhas, onde eu subi e fiquei sentada em cima pelo que me pareceram horas.

Cansada e com sono e sem ninguém ter vindo atrás de mim, vencida, entrei em casa. Meus pais, sentado no sofá da sala, me olham espantados e me perguntam onde eu estava.

Se foi verdade ou não que eles não sabiam eu não sei. Hoje eu conto essa história e eles nem ao menos se lembram do acontecido. Para mim a sensação de que eles nem ao menos perceberão minha ausência ou sentiram minha falta foi desoladora.


Mas minhas tentativas de mostrar minha frustração com broncas e querer que eles se arrependessem e demonstrassem isso não parou por ai. Desisti de fugir de casa, mas passei a me esconder embaixo da escada da nossa casa, um sobrado, e ficava lá embaixo, o mais fundo que podia, para que se eles olhassem só de longe não conseguissem me ver, e esperava que eles me procurassem.

Não lembro deles me procurarem mas acredito que eles o tenham feito. O que me lembro é das vezes que esperei em vão. A mais longa delas eu acabei adormecendo ali escondida e acordei horas depois sem ninguém ter ido me chamar.

Eventualmente desisti dessa prática, não sem um profundo sentimento de abandono.


Hoje olho pra trás e se por um lado olho para minhas próprias atitudes e penso em como estava sendo manhosa e mimada, por outro lado não tenho certeza se acredito nisso.

Talvez meus pais fizessem isso de proposito, exatamente para não me mimar demais. Talvez alguém tenha dito a eles que eu não podia vencer essas disputas pois isso tiraria a autoridade deles, ou faria com que eu respeitasse menos quando fizesse algo errado. Não sei. Todas essas hipóteses foram coisas que ouvi e li falarem sobre crianças ao longo dos anos.

No entanto, como meu terapeuta costumava me dizer, e como minha terapeuta atual me diz, e ate como uma astróloga que fez meu mapa astral anos atrás também comentou, eu sou uma pessoa muito consciente de mim mesmo.

E tenho ótima memória. E memória emocional.

E durante a gravidez da Rebeca eu me conectei muito comigo mesma e encarei medos, seguranças, sonhos, lembranças.
E uma das muitas coisas que trouxe dessa experiência foi a de tentar entender como minha filha se sente, e levar isso em consideração quando fizesse minhas escolhas de como lidar com ela.

Eu não queria, ou quero, que ela carregue esse tipo de sentimento de abandono como eu carreguei.

Isso nunca significou no oferecer disciplina, ou fazer todos os desejos, mas significou levar em consideração o modo.

No começo um pouco mais dura, hoje talvez mais livre, eu procurava e procuro observar a ação e a reação.

Quando ela era pequena e nos precisávamos ir embora de algum lugar onde ela se divertia, era claro que ela não ia querer parar de brincar. Então eu começava com um aviso: "Daqui 10 min vamos embora!". Dali a pouco um segundo aviso: "Só mais 5 min!". Até chegar no "vamos embora!". Entre os 1 ano e meio e uns 3 anos essa parte era seguida de choro, de não querer ir, de se jogar no chão.
Sim, é sempre assim. E eu aceitava esse comportamento dela e entendia sua frustração e a amparava. Abraçava, dizia que estava tudo bem, que era normal o que ela estava sentindo e tentava ajudá-la a se acalmar. Pacientemente. E quando ela parava eu levantava e dizia que iríamos embora.

Por vezes tive que esperar e fazer esse trabalho 2, 3 vezes até ela se acalmar e aceitar ir embora. Mas conforme os meses iam passando ela se acalmava mais rápido, insistia menos, até que finalmente os avisos se tornaram suficientes.

A ideia de que era possível ser coerente e firme nas decisões e ao mesmo tempo amparar e ser solidária ao que ela sentia fazia parte da essencia do tipo de mãe que eu desejava ser.


Hoje Rebeca tem 9 anos e está vivendo uma novidade em seu comportamento. É uma novidade que não vai passar. Não, é o começo de algo que depois reconhecemos como adolescência.

É um movimento tímido ainda, mas presente. Ela agora responde, quer ser ouvida, quer ser levada a serio. Quer demonstrações que confiamos nela.

Mesmo nos momentos que ela sabe que a gente sabe que ela não está sendo lá tão sincera.

Nada grave. Coisas simples, como dizer que já penteou o cabelo para ir a escola, ou que esqueceu de colocar o tênis nos dias de educação física e por isso estava de sapatilhas.

Conversamos, explicamos. Quantas vezes são necessarias e um pouco mais.

As vezes pedimos algo ou perguntamos alguma coisa que ela já explicou antes só para ouvir um "mas eu já disse isso! Você não ouviu?".

Ela nunca grita. Nem nós.

Ela questiona porque de algumas ordens. E fica magoada verdadeiramente se mandamos ela fazer algo ou chamamos sua atenção por alguma coisa de pouca importância ou que ela sente que não estava errada.

Hoje meu trabalho é o mesmo. Amparar e acolher. Explicar. Dar disciplina sim. Mas saber voltar atrás e pedir desculpas e mostrar pra ela que ela foi ouvida, que sua opiniao importa, que seus sentimentos são levados em consideração e que é possível ela estar certa e nos errados. E isso tudo sem deixar de ser firme quando necessário. Sem deixar de ter regras claras e rotinas. Sem fazer todos os seus desejos. Mostrando limites sim.

E tudo que eu espero é ter a chance de agir com ela como eu acho certo. Como senti falta de ter comigo.

Posso estar errada.

Mas as vezes ser mãe e isso. Ter a chance de tentar fazer diferente e cometer nossos próprios erros.


Mas ca entre nós?

Por enquanto eu acho que está dando certo...

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Sobre mudanças, calma e planejamento

Não sei se é só comigo, mas eu tenho muita dificuldade de lidar com mudanças.

Apesar de ter um lado meu bem forte que gosta de ter as coisas em movimento, no fundo eu me sinto mais confortável e segura quando a vida é mais estável.

Apesar dos altos e baixos nos últimos anos, as coisas por aqui estavam relativamente estáveis. Não estavam boas, longe do ideal, mas ainda sim estaveis.

Esse ano essa estabilidade foi passear e deixou pra trás uma séria de dúvidas, medos e inseguranças. Levou consigo o tapete que escondia questões pessoais, e expôs sentimentos de inadequação, de tristeza, e tantos mais.

Passar por isso tem sido difícil mas insisto em achar que necessário. Não olhar para o que não está bom nos deixa fadados a inércia, e ai meu amor, quando o caldo entornar você não vai estar preparado pra lidar com as consequências.

Mas reagir ao invés de agir tem sido a constante da minha vida há anos, meio que desde que eu me conheço por gente. A regra sempre foi "deixa assim e depois a gente vê o que faz".

Preciso dizer que isso nunca deu muito certo né?

É claro que sempre existem imprevistos. Mas e possível passar por eles com mais calma se você puder se planejar para imprevistos de uma forma geral, mesmo sem prever aquele específico.

Eu acho.

Vou fazer um Jabá e falar que há anos sigo o @Vidaorganizada. Conheci o blog la no comecinho da minha própria vida de blogueira e acompanho desde então. E apesar de ter dificuldade pessoal de seguir muitas das dicas, existem aquelas que consegui trazer pra minha vida e realmente ajudaram muito.

Terminei de ler o primeiro livro da Thaís Godinho (você pode adquirir o mesmo em formato impresso ou digital nas livrarias) e sinto que isso tem me ajudado a dar um norte para esse momento de mudança que vivo hoje. Olhar um pouco mais claramente para o caminho a seguir, tentar descobrir meus objetivos.

Meu maior plano e o que eu de fato consegui seguir e alcançar meu objetivo foi ser mãe. Ele envolveu dedicação e compromisso desde a idealização e mantém-se assim ate hoje. Porque ser mãe é um projeto de vida, ele é permanente, ė possível ver onde ele começa sim, mas ele nunca termina. Ele se adapta.

Com minha terapeuta estou trabalhando trazer de volta essa determinação e tentar desvendar as travas que me impedem de levar isso as outras áreas da minha vida.

E com a ajuda do blog e do livro, esmiuçar meus sonhos e desenhar os passos para torná-los reais.

Essa semana tivemos que apagar o incêndio que surgiu no trabalho. Ainda é uma ação presente, isso continua acontecendo nesse exato momento. Aí a vontade é de tomar decisões impulsivas.

Estamos tentando ter calma. E deixar o fogo cessar, a poeira baixar, e aí sim olhar para tudo de forma objetiva.

Existe uma pergunta que já podemos nos fazer: O que queremos? Onde queremos chegar?

Depois planejamos como chegar lá.

Mas temos que saber responder essas perguntas primeiro.

Eu sei o que eu quero. Eu acho que sei o que eu quero.

E você?

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

Limões, limonada

Com tudo o que esse ano nos reservou é claro que ele não podia chegar perto do final sem mais problemas.

Taz trabalha com perua escolar e semana passada a perua quebrou.

Ele trabalha num bairro de periferia na cidade e estamos diretamente afetados pela crise que assola o país. São as pessoas mais humildes quem mais sentem os efeitos do desemprego. Com baixa escolaridade são eles que tem mais dificuldade de conseguir nova colocação no mercado de trabalho após uma demissão. Também por isso estão sujeitos a trabalhos cada vez mais mal remunerados e trabalho informal.

Isso pra dizer que muitos dos responsáveis que contratam o serviço de perua escolar, apesar de precisarem muito, tem mais dificuldade para fazer os pagamentos. Muitos perderam o emprego e com isso tiraram as crianças do serviço de transporte no meio do ano.

Tivemos então uma queda de cerca de 30% dos nossos rendimentos entre um semestre e outro. Mas as contas continuaram existindo.

E aí a perua quebrou feio semana passada.
E não tinha reserva para a manutenção.

Mas damos os pulos. Pedimos ajuda. Conseguimos dar um jeito e já encaminhamos tudo pra isso se resolver.

Respiramos.

Sabemos que isso vai afetar não só o fim do ano mas a confiança dos clientes para o ano que vem.
Mas vamos dar nosso jeito. Continuar em frente.


Eu falei no post anterior sobre como já estamos há um tempo vislumbrando a necessidade de mudança.

Minha irmã já tem nos alertado a algumas semanas, meses, que temos que encarar as mudanças e dificuldades que passamos no país como algo mais duradouro e, ao aceitar e fazer essa análise, planejar e nos adequar.

Esse problema com o carro, com o trabalho, vem diretamente de encontro a isso.

Eu venho pensando em muitas coisas, muitas mudanças que gostaria e precisamos fazer.

Mas ainda sinto que temos que fazer as perguntas certas. Mas será que estou fazendo as perguntas certas?

O mundo em que eu vivo está em movimento. Qual a minha prioridade? O que é mais importante? Preciso mudar, mas o que eu quero fazer? Tenho medo e sinto necessidade de buscar mais segurança, mas como encontrar isso dentro das minhas possibilidades?

O que eu posso realmente fazer?

E com isso, começamos mais uma semana com mais perguntas que respostas.

Buscando uma boa receita.

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Sobre falar sempre da mesma coisa sem querer...

Hoje eu acordei de melhor humor.
O dia está quente, o sol brilha e queima ardido mesmo cedo de manhã. A noite fez muito calor e tivemos que dormir com o ventilador ligado no quarto pela primeira vez desde maio quando o frio do outono começou a amenizar as temperaturas...
O ventilador não era a melhor ideia considerando que estou resfriada, mas apesar dele acordei me sentindo menos doente, e talvez graças a ele, de melhor humor.

Ontem conversei muito com o Taz, sobre as dificuldades que estamos passando tanto emocionais como financeiras mesmo. Estamos naquele momento que vemos a mudança ser necessária mas não temos certeza de o que devemos fazer ou como.
Será que existe uma forma de mudar sem abrir mão das poucas coisas que mantemos?

E apesar de não termos chegado a nenhuma solução o simples fato de conversar foi bom. Colocar em voz alta, mostrar que estamos ali pra ouvir as angustias um do outro, lembrar que temos problemas práticos em conjunto. Lembrar que somos uma família e que devemos passar por tudo isso unidos.

Não acho que consigo ter conversas muito sérias sem ter uma crise de choro, ou de raiva.

Antes mesmo de conversar com o Taz, e o motivador para a conversa com ele ter existido, foi uma discussão, mais um desabafo mesmo, com meus pais sobre como viver numa situação desenhada para ser temporária por muito tempo tem me feito mal.

E por mais que nada do que eu sinto ou tenha dito ontem tenha mudado, ainda que nenhum dos fatores que geram minhas aflições e medos tenham sido resolvidos, ainda que eu ainda sinta que se ficar em silêncio por tempo demais vou ser engolida pela escuridão que me cega, ainda sim, hoje eu acordei de melhor humor.

Está calor. O sol brilha e queima ardido mesmo cedo de manhã. Levanto cedo mais uma vez, o corpo melado do suor por causa da noite quente, levo a Rebeca para as aulas de dança. Ela vai se apresentar no fim do ano e é importante não faltar nos ensaios até lá.

A noite deve ser quente, e noites quentes tornam o quintal convidativo para receber amigos ou apenas bater papo sem estar entre quatro paredes. Não temos isso a meses. Na verdade ainda não tinha acontecido de fazer calor a noite e não chover desde que mudamos para o andar de cima da casa onde fica o quintal.

É que até agora o quintal estava sendo aquele espaço descoberto entre os quartos e a cozinha que temos que passar meio correndo porque está chovendo, ou estava frio demais pra ficar por ali. Mas agora o calor parece ter chegado e o quintal é convidativo.

Terminei de ler mais um livro essa semana.

Consegui escrever o começo de uma história, assim, despretensiosamente mesmo, e fiquei feliz com o resultado.
Fiz um curso online rápido para dicas para escrever personagens e tramas de forma mais objetiva.

Estou de bom humor.

Amanhã é feriado.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Vai passar...

Eu sei que passa.

Hoje eu tenho dificuldade de me concentrar.
Me comunicar, ter que falar com outras pessoas, por mais que eu queira, é difícil, requer esforço e cansa.
Hoje eu so sinto vontade de ficar quietinha, na cama, enrolada em uma coberta, me sentindo quentinha e segura. Mesmo que lá fora esteja um calor de 30°.
É verdade que sair desse estado da trabalho, mas pra algumas coisas eu ainda consigo fazer o esforço: Rebeca. Levar ela as aulas de dança, ajudar a fazer a lição de casa, dar um mínimo de atenção, responder os inúmeros questionamentos sobre o mundo na hora de dormir. Eu gosto, mas requer muito mais esforço que o normal.
Hoje, depois de passar o dia, quando finalmente me permito parar para jantar, eu estou tão exausta que não tenho energia para pensar em comer, o que comer, e a ideia de ter que preparar um prato que seja das sobras do almoço não alcança o meu desejo de me sentir acolhida, reconfortada, que acabo buscando na comida no fim do dia.
Cada um tem sua fuga, sua valvula de escape. Não tenho orgulho disso, no momento é um fato e um fator que não consigo mudar. Sem conseguir direcionar e encontrar essa sensação em mais nada, me parece desesperador tentar mudar isso agora.
Eu ainda sinto prazer nas coisas, eu ainda sinto vontade de fazer algumas coisas, mas é como carregar um enorme peso nas pernas, nos braços, nas costas, na mente...

Mas tudo isso passa.

Nas horas que minha mente simplesmente insiste em pensar apenas em coisas ruins, eu agradeço a existência do computador e do celular, tanto para distrair a Rebeca quando eu não me sinto capaz, quanto para derreter minha mente em redes sociais de forma que os pensamentos ruins escorram junto com a enorme quantidade de informações sem utilidade que se arrastam pela tela.

Mas eu sei que tudo isso passa.

Eu tento lutar o tempo todo com o sentimento de desespero que me assola. A voz que repete todo o tempo o quanto sou incapaz de fazer qualquer coisa, que não tenho controle nenhum sobre a minha vida, que sou dependente de outros inclusive nas poucas coisas que insisto em achar que faço bem. Que ecoa frases ouvidas em diferentes momentos da minha vida, os flashes repetidos de cenas vividas, a dor e a vergonha revivida a cada vez que pisco e perco o foco que tenho que manter para afastar tudo isso que escurece minha visão do mundo.

Hoje eu me sinto sozinha e desamparada, me sinto triste e perdida.

Mas eu sei que isso passa.

Então eu levanto pela manhã e me forço a abrir os olhos e continuar. Simplesmente continuar.

Não me sinto sem esperança, isso realmente não acontece. Eu tenho esperança, mais do que isso, eu tenho certeza, eu sei que isso tudo que eu estou sentindo vai passar.

Mas eu não quero que tudo passe. Acho que é importante ouvir um pouco do que esse lobo de escuridão tem a me dizer.

Tenho que ouvir minhas dores para poder mudar o que é real. Tenho que ouvir minhas dores para distinguir o medo e o exagero do que pode ser feito.

Para que depois eu possa usar minhas vitórias para me proteger.

Eu sei que isso passa.

Saiba você também.

Vai passar. FORÇA.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Sobre Natais passados...

Hoje é segunda feira de manhã. Acordo cedo para começar a rotina: trocar de roupa, arrumar Rebeca para a aula, tomar café...

Enquanto ela está na aula eu estou aqui pensando nas fotos que fiquei vendo ontem no meu domingo preguiçoso. Entre elas, fotos do Natal de quando eu era criança.

Eu tenho essa memória de uma época mais simples. De um Natal cheio de pessoas em casa, tios e primos, muita comida e bebida, presentes e mais presentes, bagunça das crianças e risadas dos adultos.

Uma das coisas que gostaria de ter feito diferente se pudesse seria ter mais filhos. Não tê-los não foi uma decisão fácil, mas foi sensata. Hoje eu dependo de ajuda para dar a minha filha o que posso, o melhor. Não seria possível fazer metade do que faço, dar a ela metade do que dou, se tivésse uma única boca a mais para alimentar.

No entanto essas fotos mexem comigo e fico pensando como seria possível fazer mais, dar a Rebeca memórias tão boas do Natal como as minhas...

Muito da graca do Natal estava em ter a família em casa. Meus tios por parte de mãe passavam a noite do dia 24 conosco numa enorme festa, ou é assim que eu me lembro.
Meus primos vinham e passávamos horas animados brincando juntos, bonecas, bolas, cordas de pular, rede na varanda, jogos e mais jogos. Em determinado momento o Papai Noel chegava e enquanto olhavamos para o céu, todos reunidos no jardim, na esperança de ver o bom velhinho passar, a árvore se enchia de pacotes embrulhados de papel colorido.

A ceia era farta, deliciosa. Lembro, claro, da vez que minha mãe deixou o Chester queimar. Suspeito que ela apenas tirou a casca queimada de fora e comemos o interior da carne queimada mesmo.

Lembro de passar a noite acordada com minha prima, conversando e fazendo chocolates na Fábrica de Chocolates que ela ganhou naquele Natal.

Lembro do último Natal que passei com minha avó Beth, tia da minha mãe, que me deu o meu primeiro vídeo game realmente meu, e uma linda arvorezinha de pedrinhas coloridas, essa última com o pedido que eu a guardasse com carinho e que sempre que olhasse para o pequeno enfeite lembrasse dela.

Eu tenho a arvorezinha ate hoje, e sim, sempre lembro dela.

Todo dia 25, desde sempre, acordavamos para o café, nos arrumavamos, e passávamos o almoço de Natal na casa da família do meu pai, no começo na casa de minha avó, depois que ela se foi, na casa da minha tia.

Mas conforme os anos foram passando as famílias foram se afastando. Primeiro meu tio e a família que decidiram passar os Natais com os pais da minha tia por valorizar o tempo com eles que já estavam com idade avançada. Depois minha tia que mudou-se para outro país com os filhos, para um doutorado, e mesmo quando ela voltou às coisas não foram as mesmas. Minha prima havia se casado e ficado no outro país, meu primo voltará anos antes mas manteve distância, minha tia continuou sua busca por si mesma.

O Natal passou então a ser com minha tia, prima de minha mãe, e meus primos menores. As vezes em nossa casa, depois na deles, num sítio no interior.

Depois que Rebeca nasceu isso mudou de novo. Por pedido de minha irmã e minha mãe passamos a fazer a véspera de Natal apenas com nosso núcleo.

E então eu não tive como dar essa experiência pra ela.

Sim, ainda passamos o almoço de Natal na casa da minha tia, e lá se reúnem tios e primos, crianças por todo lado, bagunça, risadas, muita conversa, muita comida e bebida.

Mas não é a mesma coisa.

Por mais que eu me esforce o dia 24 acaba sendo vazio. Falta vida, falta alegria, falta aquilo que faz o dia ser mágico, falta aquilo que cria boas memórias.

Minha irmã diz que não gosta de Natal e de trocar presentes nesse dia por ele ser muito comercial, muito voltado ao consumo. Mas ela não entende que quando você não tem uma festa, uma reunião, algo a esperar nesse dia, é aí que o foco acaba ficando apenas no ganhar.

E eu estou aqui, nessa crise que vocês têm acompanhado, saudosa desse tempo e pensando no futuro.

Como será o Natal esse ano? E o dos próximos anos?

Quando o que eu tenho hoje não existir mais, com quem estarei passando meu Natal daqui 10 ou 15 anos?

Como eu posso dar o que eu mais quero pra Rebeca nesse e nos próximos Natais?

Boas memórias...