De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

segunda-feira, 18 de março de 2019

Sobre rotina e segurança

Antes de começar meu tratamento para bipolaridade eu abominava a ideia de rotina. Sei que muita gente, especialmente jovens, acham a ideia de rotina algo impensável.

Como se ater a fazer as mesmas coisas todos os dias do mesmo jeito?

Mas a verdade é que não entendemos a ideia da rotina no nosso bem estar.

Tomar remédio todo dia no mesmo horário, por consequência, era um desafio real. E complicado adotar um tratamento de longo prazo se você não sabe nem onde vai estar todas as noites, não é?

Mas eu olho pra trás e penso que eu subestimava o bem que a rotina podia fazer por mim, e superestimava a minha "falta de rotina".

Nos primeiros meses do tratamento, la em 2003, eu não conseguia seguir horários muito regrados, esquecia de tomar os remédios, desobedecia instruções médicas e tomava doses extras quando achava que devia. Era um comportamento perigoso, e que intensificou a necessidade de uma internação.

Vou contar pra quem chegou agora que naquele momento eu fui internada, fiquei 14 dias no hospital onde tive um tratamento intensivo e foi quando eu considero que realmente meu tratamento começou a funcionar.

Durante a internação eu fiz o que não conseguia fora do hospital: dormir. Sai de uma rotina, que eu não sabia que tinha pois não era voluntária, de passar 72h sem dormir para dormir 6h e depois mais 72h acordada, para dormir o dia todo enquanto estava no hospital devido a medicação.

E era exatamente o que eu estava precisando.

Dali em diante, anos para frente, muitas coisas aconteceram, idas e vindas, troca de remédios, de medicos, mas uma coisa foi sempre priorizada: dormir. Se começo a oscilar demais a primeira reação é dormir mais e melhor por alguns dias.

Quase como dar um reboot no cerebro.

Depois que tive a Rebeca eu entendi e adotei a rotina como parte integrante da minha vida.

Se antes eu já havia me entendido com a rotina da medicação, a maternidade me ajudou a fazer as pazes com os horários e com atividades e comportamentos repetitivos.

Rotina, eu descobri, é o que nos faz sentir em casa. Nos faz sentir seguros. É a ação que fazemos sem precisar de esforço e que nos permite prever os acontecimentos. E saber o que vai acontecer nos permite relaxar.

Num mundo que nos mantém ligados o tempo todo, atentos, de prontidão, que nos cobra atenção constante e em uma cidade onde a sensação de segurança falha, ter esses momentos de paz são essenciais para manter nossa sanidade.

Num mundo louco a sanidade é ouro.

Num mundo louco a rotina pode ser nossa âncora de segurança.

quinta-feira, 7 de março de 2019

Derrapa, escorrega, cai, levanta e segue em frente

Ansiedade. Insegurança. Medo.
São definições para muito do que venho sentindo.

Incapaz de mudar como me sinto, passo os dias me distraindo e tentando não pensar muito no que me aflige. E considero bons os dias em que as coisas não pioram de quadro.

O trabalho do Taz começou muito mal esse ano. Estamos hoje com metade do número de clientes que precisaríamos estar nessa altura do ano. Diversas manutenções tiveram de ser feitas no carro de trabalho e devido a problemas externos não conseguem ser finalizadas, fazendo com que tenhamos menos procura do serviço do que o esperado.

Com os problemas no trabalho somados aos da casa, Taz não consegue se sentir seguro do que está fazendo. Inseguro, ansioso e deprimido, ele não consegue ver ou agir para melhorar o quadro no trabalho, ou a si mesmo. Duvidando de si e de sua capacidade ele tenta apenas seguir fazendo o que sabe e consegue, mas vê com temor como isso não é o suficiente.

Se pergunta o tempo todo se está fazendo a coisa certa. E apesar de minha insistente tentativa de anima-lo, em sua cabeça as respostas que ouve de si mesmo não o ajudam a reencontrar o caminho.


Precisamos nos ajudar. Fazemos isso tentando ajudar os outros. Um amigo que se sente tão perdido quanto nós e precisa de um lugar seguro para se abrigar? Ok, venha. Aqui sempre será um local neutro e nossa hospitalidade será sempre a mesma para aqueles que queremos bem. Não chegou o tempo em que negarei ajuda ou abrigo.

Se sentir perdido parece uma constante nesse momento para muita gente.

Se o que podemos fazer e nos juntar para um jogo ou um jantar para ter um momento de relaxamento e felicidade então e o que faremos.

E quem sabe encontremos uns nos outros o apoio necessário para encontrar nossas respostas.

Hoje resolvemos um dos inumeros problemas que temos à resolver.
Hoje já é um dia bom...