De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

segunda-feira, 21 de junho de 2010

PERSEVERANÇA = Resposta a pergunta do comentario no post "quando eu decidi que ia ser mãe"

Me foi feita uma pergunta nos comentarios do post "quando eu decidi que queria ser mãe" que eu achei importante responder assim, em aberto.

A pergunta foi, se entendi coretamente, como seria uma gravidez e uma mãe bipolar com um historico ruim antes disso.

Eu gosto muito de responder questões contando historias minhas primeiro.

Eu acredito que o que originou a questão na verdade é a duvida: "devo confiar emminha namorada, que em um momento de crise decidiu jogar tudo para o alto e sair para gerar e criar meus filhos?" "devo confiar"?

Eutenho, particularmente, sofrido muito por causa dessa questão que a bipolaridade agrega a confiança. Tenho certeza que deve ser muito muito dificil confiar em alguém aparentemente não teve dificuldades em mudar de ideia e largar tudo de uma hora pra outra. AH, e sem uma explicação boa, lembrando.

Eu tenho que lidar, todos os meus dias, com a desconfiança dos outros em mim, e a minha propria.

Em uma discussão recente com minha mãe, tentando enteder onde foi que eu errei que originou a falta de confiança que meus pais tem hoje em mim, ao ser questionada, a resposta da minha mãe me chocou:

" Você desistiu da natação. Você desistiu de tudo que começou. Você não termina as coisas, como eu posso confiar em você pra fazer algo? Nâo sei se isso tem a ver com a sua bipolaridade, mas se você tem culpa de alguma coisa para que não confie em você foi de ter nascido assim."

Esse post, inclusive, sobre quando eu decidi ser mãe, foi feito no mesmo dia em que essa discussão ocorreu e eu recebi essa resposta.

Eu passei o dia inteiro me perguntando se ela tinha razão, se de fato eu nunca tinha levado a cabo nenhuma das minhas decisões. Passei o dia me sentindo um lixo, completamente irresponsavel, e duvidando de mim mesma.

O incidente da natação ocorreu quando eu tinha 7 anos se não me engano. É...
Me chocou o fato de que a primeira coisa que passou na cabeça da minha mãe para demonstrar a minha falta de confiabilidade foi algo que eu fiz aos sete anos de idade.

Não que fosse mentira, veja bem. Mas, deve ser considerado todo o quadro ai, então vou tentar colocar aqui mais ou menos as coisas que foram passando pela minha cabeça:

- eu larguei a natação. Eu fiz isso por que o professor insensivel e louco que estava subtituindo minha professora regular, que estava em licença maternidade, na aula anterior a minha decisão, afundou minha cabeça na agua involuntariamente, acreditando que eu estava sendo "sabidinha" desobedecendo as instruções dele. Meus pais não acreditaram em mim quando contei, acharam que era um exagero, e chegaram a conclusão que eu inventei essa historia pois estava chateada com a minha professora por ela não estar dando as aulas. Eles acreditam na versão deles ate hoje.

- Eu larguei as aulas de piano. Meus pais nunca souberam o por que. Eu mesma não lembro bem o motivo exato, sei que estava sendo criticada pelo professor. Lembro que tinha uma professora boa, rigida, mas simpatica, de uma forma dela. Por algum motivo que eu não sei qual foi ela deixou de me dar as aulas e ele passou a faze-lo. Durante 2 aulas ele deixou de fazer isso, me dando apenas alguns exercicios para praticar enquanto ele dava aulas a outras pessoas. e uma ou outra vez vinha ver se eu estava me saidno bem. Teve uma vez que ele voltou apneas quando terminou a aula, me ouviu tocar uma unica vez e me dispensou. Depois desse dia eu não voltei mais.

- O Teatro eu nem posso falar nada, mal quis entrar, mas não lembro de ter sido algo que eu larguei, e sim que o grupo, pequeno, que fazia comigo se dispersou e simplesmente acabou.

- Na quinta serie meus pais me trocaram de escola. Fiz diversos vestibulinhos para diversas hiper escolas de São Paulo, mas acabei indo para a mesma que a minha irmã, pois eu estava insegura. Meus pais chegaram a ser chamados na escola devido ao tema das minhas redações no vestibulinhos. Eles davam risda da minha imaginação. Me pergunto o que um terapeuta diria sobre uma criança de 10 anos que escrevia as mesmas coisas que eu...

- Larguei a escola na 7 serie apos 2 anos de total solidão escolar e meio ano de total e completa revolta. Episodios classicissimos de depressão e mania começaram ai.

- demorei 2 anos para terminar o ensino fundamental a partir dai, pulando de uma escola a outra, e fui terminar o colegial anos depois, fazendo supletivo. Foi quando EU decidi que queria fazer isso.

-Entrei na faculdade 6 vezes, não terminei nehuma. Estou falando aqui de USP e afins e UNIPS e afins tb.

- Eu soi fui ser diagnosticada de verdade e iniciar um tratamento depois disso tudo. E foi quando eu decidi ser mãe. Depois que eu pensei nisso, gostei da ideia, vi o quanto era algo que eu queria eu:

- mantive o tratamento para bipolaridade, sem parar ate a gravidez, e o retomei da melhor forma possivel depois da mesma. Ele consiste pra mim em terapia e medicamentos combinados a boas noites de sono. EU fiquei bem, considerada estavel, fazendo isso, por mais de 2 anos.

- Eu conversei com a minha medica sobre o meu desejo de ter filhos para entender qual era a linha que seguiriamos e o que eu teria que fazer e quando eu poderia me considerar pronta para isso.

- Eu refiz uma gastroplastia que eu tinha no intuito de perder peso suficiente e minimizar os riscos de uma pre-eclampsia.

- Eu demorei 5 anos entre o decidir ter filhos e o de fato tentar fazer com que isso se concretizasse, me cuidando, me preparando fisica e psicologicamente.

- voltei a estudar. Tentei, arduamente, voltar trabalhar diversas vezes.

- não desisiti em momento algum, e tentei fazer as coisas da forma mais responsavel possivel.

- quando a situação mudou de figura, minha situação financeira mudou, ou mostrava claramente que ia mudar muito, e eu teria que me dedicar a um trabalho por muito tempo, eu estava disposta a esperar mais tempo e me dedicar a uma coisa de cada vez para que pudesse fazer tudo com a maior segurança possivel.

- meu ultimo desafio pessoal, parar de fumar, aconteceu junto com o nascimento da Rebeca.

Isso foi possivel por que eu sabia o que eu tinha, sabia como tratar, confiava nas pessoas responsaveis por fazer isso, e sabia o que eu queria e que, com isso, eu não poderia voltar atras.

Eu tive que ter uma coragem muito grande de decidir que eu não mudaria mais de ideia.

Mas, ca entre nós? Eu acho que todos que decidem voluntariamente ter um filho, de forma planejada, tem que fazer isso. Se preparar, pensar no que querem e não querem, e no que estão dispostos a abrir mão ou não. Pra saber como irão criar seus filhos. E, quando pensarem nisso, questionarem se, ao encontrarem antes de ter filhos, um casal, uma pessoa, que age como eles estão pensando, qual seria o seu julgamento?

Aquele post que fiz diz sim o que pensei, o que eu decidi. Como foi esse processo dentro de mim.
A tragetoria que contei acima foi o processo externo que originou apenas esse post.

Nunca me foi questionado o por que de eu ter desistido de todas as coisas que desisti ao longo da minha vida, mas muito menos, o por que de algumas poucas eu ter levado ate o fim. O segredo, muitas vezes, esta no sentimento que as iniciou, no motivou pelo qual eu iniciei cada uma delas.

Eu não tenho a confiança das pessoas a minha volta que me conheceram antes de eu fazer um tratamento correto. Mas eu tenho total e completa confiança de quem me conhece de verdade, por inteiro, e de quem realemtne importa, por que é por quem eu fiz e continuo fazendo tudo isso.

MInha filha não tem motivos para duvidar de mim. Eu não dei isso a ela. Espero nunca ter que dar. Por ela, eu lutei durante 7 anos atras do mesmo objetivo.

Eu não deixei de ter uma doença que eu tenho que controlar com medicamentos e terapia para o resto da minha vida. Eu não fui curada. Eu consegui algo ainda melhor do que isso.

Eu tenho algo para me lembrar todos os dias que eu posso confiar em mim mesma, por que eu sou capaz sim de fazer todo o processo, e seguir todo o caminho, e me comprometer com algo para a vida toda. Sou capaz de tomar a decisão de que, para ter o que eu quero eu vou fazer o que for necessario, esperar quanto tempo for necessario. Vou me comprometer comigo e com a minha saude, pois isso faz parte do se comprometer com o outro.

E eu sabia, no dia que eu estive disposta a fazer tudo isso, que eu era confiavel para ter filhos.

Então... Se você não confia nela para isso, amigo, a pergunta é: por que? Se a desconfiança existe por causa de uma doença, uma doença pode ser tratada e controlada. Agora, o que de fato ela teria que fazer para ter a sua confiança de volta? Se ela fizesse um tratamento ininterruptamente, desse uma pausa durante uma gestação e logo depois voltasse, você confiaria nela? O que você esta disposto?

Confiança é algo que vem dos dois lados, sempre. Se você não der a chance de verdade, se você não estiver disposto a fazer tudo ou mais que ela teria que fazer e passar, então, sera que você esta de fato disposto a voltar a confiar nela?

Tem um filme fantastico sobre isso que eu acho que vale a pena ver:

Amor alem da vida, com o Robin Willians.

BOm espero ter conseguido responder, ajudar, enfim... OU pelo menos elucidar um pouco mais as coisas. Boa sorte, e boa noite a todos.

6 comentários:

  1. Muito obrigado pelo retorno Di, te lendo até parece que estou lendo a minha namorada, até nos erros de português (risos). Mas falando sério, voce fala em outro post aqui, sobre sua dificuldade em ficar calada, nao revidar e ter mágoa guardada. É exatamente o que ela também tem e isso tem atrapalhado o relacionamento. Vc também fala que a criança sente o atrito e o mal-humor (e sente mesmo), pois é essa minha preocupaçao. Bom, começar as coisas e nao terminar, pelo jeito é assim mesmo, mas o que me assusta é o gasto excessivo e desontrolado em compras desnecessárias. Eu nao consigo fazer com que ela sente ao meu lado e planeje os gastos. Gostaria de conversar mais por email contigo se puder: sabiaknopp@hotmail.com Vcs sao muito, mas muito parecidas mesmo hehe. Grande beijo e muito obrigado mais uma vez. Ah, o Taz é seu marido?

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  2. Oi Di, li seu post e fiquei pensando: será que eu tb sou bipolar? Eu já desisti de muitas coisas quando eu era criança e adulta também e acho que era pelo fato de não gostar de verdade daquilo que estava fazendo. Hoje sou casada e tenho a minha filha, passei esse ano por uma dificuldade enoooorme e não desisti do meu casamento e nem da minha filha e acho que isso aconteceu por que eu AMO as duas coisas. Não acho que vc é pessoa que passe desconfiança, pelo contrário. Acho que vc é concentrada sim naquilo que diz, é uma mulher normal mesmo tomando os remédios. Eu também guardo mágoas e ressentimentos, tenho as minhas inseguranças.
    Para mim vc é tão normal quanto eu.
    Bjs
    Cátia e Sophia

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  3. Oi Di,
    parabéns pela coragem de fazer esse post.
    parabéns pela sua escolha.
    parabéns pela sua determinação.
    beijos
    Chris
    http://inventandocomamamae.blogspot.com/

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  4. Um dos melhores post que já li.
    Sincero, aberto, e mostra um pouco sobre essa assunto.
    Quando vc diz que desistiu de várias coisa, pensei comigo: "tb desisti"
    Não será isso do ser humano a busca interminavel pelo o que lhe traz felicidade?
    Me deixou pensativa...

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  5. Oi Di, eu tb fui afogada por um prof substituto e desisti da natação, tb parei o piano, o canto, o futebol, o basquete, o yoga...
    Mas pensando em confiança: acho q a doença não nos define. As pessoas não podem confiar ou ñ confiar na gt basedo na doença, mas sim, baseado na troca. Tds são um pouco "doentes", podem não ter crises de mania/depressão, mas tem crises de geniosidade, de tristeza, de braveza, de humanidade. Se o rapaz q está com dificuldade realmente amar a menina (piegas?), ele sabe q junto com tudo de bom q ela tem q atrai ele, virá as caracts de bipolar. Aí q ele entra como peça importante no tto. Ele a incentiva a se tratar? Ele sabe qdo falar ou qdo silenciar? Sabe qdo dar um carinho ou dar uma bronca? Como qq outro relacionamento, tem um "preço". Basta saber o qto vc quer pagar...

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Ai, que bom que você veio! Puxe uma cadeira,sente-se no chão e sinta-se na casa alheia.^^ Mas me da um toque :P