De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

domingo, 25 de agosto de 2024

Sobre sobrecarga e maternidade solo

 Essa semana tive que recusar um trabalho.


Assim, dizer não. 

Era um trabalho que eu queria muito, que eu estou esperando pela oportunidade há anos, e quando finalmente a coisa se apresentou, eu tive que dizer não.

Era um trabalho em uma sala de roteiro. Roteirista Junior. Mas logo na conversa preliminar eu tive que pular fora.


Porque era uma vaga de período integral, presencial, longe da minha casa.


E eu não tenho essa disponibilidade.


Eu sou uma mãe solo que mantém o cuidado quase total com minha filha sozinha. E por mais que ela seja adolescente e em teoria poderia ficar sozinha e se virar no horário que eu estaria fora, ela está num momento com problemas de depressão, em tratamento, e requer um acompanhamento mais próximo. O fato é que eu não posso estar longe de casa o dia todo, e se eu sair, preciso ter a possibilidade de voltar facilmente e nunca com frequência diária.


Além disso eu sou o único apoio do meu pai, que mora no mesmo condomínio que o meu, nos cuidados com a minha mãe.

Minha mãe tem síndrome do pânico e uma serie de limitações físicas, e para que ele possa sair e resolver pendências na rua eu preciso estar disponível para ficar com ela.

Então eu não posso ficar pelo menos 10h por dia fora, em horário comercial. Eu preciso estar por perto.

Cheguei a perguntar na conversa sobre o trabalho se não haveria a possibilidade de fazer meio período presencial apenas ou fazer algo híbrido, mas eles não abriram essa opção.

Então eu tive que pedir mil desculpas e rejeitar o trabalho.


Não me arrependo.


Estou desenvolvendo outros projetos pessoais que eu espero possam me render algum retorno financeiro em breve e que me permitem ter essa flexibilidade de horário. 

São projetos de desenvolvimento de roteiro, de produção, e empreendedorismo, que vão me ocupar quase o dia todo, mas que eu posso fazer boa parte do tempo em casa e equilibrar melhor minhas saídas.

Sim, são mais de 2 projetos ao mesmo tempo.

E além disso eu tenho que continuar estudando e fazendo faculdade e cursos livres pra continuar me aperfeiçoando.

Tenho que cuidar da casa, nem que seja fazendo o mínimo pra subsistência, cuidar da minha saúde física e mental pra não deixar que a sobrecarga de coisas me prejudique, e continuar indo na academia pelo menos 4 vezes por semana.

E tenho uma gata e um cachorro pra cuidar também.


E aí, finalmente, eu chego nesse lugar: sobrecarga e maternidade solo.

Meu acordo de separação não limita visitas nem nada. Mas meu ex-marido tem uma série de problemas de saúde mental que está tratando também, o que limitam a capacidade dele de se manter presente. 

E tem parte grande do machismo estrutural, não vou dizer que não. É fácil dizer que você vai cuidar da sua saúde mental e que precisa de tempo e espaço se você tem uma outra pessoa assumindo toda a responsabilidade.

Mas é um processo de adaptação a realidade do estar separado que nós ainda estamos passando, nós 3. Aos poucos ele tem se aproximado e tentado estar mais presente, e eu tento incentivar que ele e minha filha mantenham contato constante nem que seja por telefone e online. 

Mas quem vive isso sabe que não é suficiente.

Mas ok. Eu vou ser muito sincera e dizer que eu já faço isso há tanto tempo, porque essas coisas já eram uma questão mesmo quando ainda estava casada, que acho que hoje eu prefiro que seja assim.

Faça o que pode e está ao seu alcance, só não me atrapalhe e questione as decisões que eu preciso tomar por ter que fazer 90% das coisas sozinha.

E ele não atrapalha e não questiona. Falando de coisas de ordem prática, claro. Pro emocional, graças a ajuda, temos terapia.

No fim eu a Beca vamos aprendendo a nos virar, e fazemos nossos planos mais entre nós duas que outra coisa.

No entanto, pra tudo isso dar certo, as vezes coisas assim acontecem: eu tive que rejeitar um trabalho. 

Eu sei que outras oportunidades vão surgir, e que boa parte delas vai me permitir fazer as coisas equilibrando com minha demanda pessoal, mas é uma decisão difícil. 

E a vida da mãe solo é de decisões difíceis e por vezes de abrir mão de coisas que não se encaixam no que a gente pode fazer.

De tudo que aprendi é que tudo tem seu tempo e nada é definitivo. Então eu trabalho com o que esta dentro das minhas limitações hoje.

Amanhã é outro dia.

Vida que segue.

sábado, 6 de julho de 2024

Sobre transtorno bipolar e filhos

Minha filha tem 14 anos e desde muito cedo apresenta sintomas de algum tipo de transtorno.

Aos 5 ela me trouxe pela primeira vez o sentimento de inadequação e de achar que não merecia viver. 

Se sentia infeliz consigo mesma e com sua aparência. Sofria bullying nas aulas de ballet de meninas magérrimas que a consideravam gordinha demais para a dança.

Não, ela não era.

A pandemia fez com ela o que fez com grande parte dos adolescentes e agravou enormemente seu quadro de saúde mental e o que eram episódios pontuais e mais leves se tornaram um claro transtorno de ansiedade e depressão profunda.

E nós estamos lutando contra isso e tratando com médicos e terapeutas desde então.

Eu quis trazer isso para falar de um medo que eu sei que toda pessoa que se descobre bipolar e deseja ter filhos tem: e se meu filho acabar sendo bipolar também?

Quando eu decidi ser mãe eu ponderei bastante sobre isso e eu cheguei a conclusão que ninguém melhor para cuidar de um filho bipolar do que eu que já passei por isso.

Durante a gravidez eu conversei muito com meu terapeuta, conversei muito com minha filha ainda na barriga, e ensaiei como eu falaria com ela sobre a minha condição de saúde.

Ao longo desses anos ela viveu comigo minhas instabilidades. Sempre de forma honesta e transparente, dando a ela toda a informação necessária para cada fase da vida dela.

E isso tem sido importante num momento que nos voltamos para a saúde dela.

Com uma mãe bipolar e um pai depressivo, era quase inevitável que ela apresentasse algum quadro de transtorno emocional. E sabendo disso eu me preparei.

Não é facil. Não é fácil pra ela, mesmo com toda a informação e apoio,  viver nessa montanha russa. Não é fácil pra mim ter que reviver tudo isso para poder ajudar ela da melhor forma que eu posso.

Mas nós estamos levando.

Uma das coisas que fiz esse ano e que sinto que foi um acerto, foi trocar ela de escola e buscar uma escola mais aberta e preparada para lidar com essas questões. A escola e a rotina escolar, pra ela, são um gatilho forte e ser acolhida nessa dificuldade tem feito diferença.

Ter um psiquiatra bom acompanhando o caso e um terapeuta que ela se sente confortável e confia tem sido outro fator muito importante. 

Apoio da família e amigos são imprescindíveis. 

Mas a coisa que eu sinto que faz mais diferença é poder estar perto dela.

Ela me acessa muito e precisa muito de contato e cuidado durante os dias mais escuros. E ela acaba sendo também um apoio nos meus dias difíceis.

Não é ideal, talvez, mas é o que temos. Temos uma a outra e um amor muito forte.

E eu me esforço pra ser para ela o exemplo de que tudo o que ela sente hoje de ruim, não vai durar pra sempre. Que é possível ser feliz, ser capaz, e alcançar nossos sonhos. Temos que ter paciência, resiliência e coragem. 

E temos uma a outra.

Podemos conquistar o mundo.

quinta-feira, 30 de maio de 2024

Sobre o segredo do universo

 42


Esse é o segredo do universo.

Curiosamente meu aniversário é no mesmo dia do Orgulho Nerd, também conhecido como Dia da Toalha, homenagem a Douglas Adams, que fazia aniversário nesse dia, e é autor de O Guia do Mochileiro das Galáxias.


É nesse livro que encontramos a pergunta para qual o segredo do universo: 42


É minha idade agora.


E seja por todas essas coincidências ou não,  nesse ano que alcanço tal marco, estou vivendo uma das melhores fases da minha vida.

Passei por maus bocados nos últimos a anos. Aliás, por vários anos. Mas desde o início desse ano eu tenho repetido que esse é o meu ano.


E tem sido mesmo.


Tenho muito pelo que agradecer.


Eu tenho uma filha incrível, inteligente, linda, gentil, companheira. Ela hoje está vivendo um período difícil com sua saúde mental e mesmo assim eu sou grata. Sou grata porque tudo que eu vivi antes dela me permite estar numa posição para acolher o que ela sente e ajudá-la a se tratar e se entender.

Vivo uma situação confortável, em que tenho apoio e segurança para estar com ela e dar a ela o tempo que ela precisa para ficar bem.

Sou grata porque pude estar com o pai dela todos os anos que estivemos juntos e ele me deu tudo o que podia e não podia, e esteve comigo durante minha montanha russa. Ele me deu meus bens mais preciosos, minha filha e minha enteada, e me deu tempo para que eu estivesse pronta para andar sozinha. Me deu seu amor e sou grata. Hoje tenha sua amizade e sou grata.

Sou grata porque tenho um parceiro pra me incentivar a trilhar meu próprio caminho, que é meu amigo e incentivados voraz das minhas ideias mais loucas. Somos livres e estamos bem. E sou grata pelo tempo que estaamos tendo e o que vier. Construímos uma história de sucesso e muitas outras.

Sou grata pela minha família. Por ter uma irmã que me apoia e me ajuda e que sempre acreditou em mim. Por ter pais que sempre foram fora da curva, que me ensinaram o mais básico da vida: seja gentil, questione tudo, e seja você mesmo. Seja responsável. Somos responsáveis de devolver ao mundo aquilo que temos, aquilo que recebemos. O mais importante é aqueles que temos ao nosso lado, todo o resto pode ser construído de novo. Nunca desista não importa quanto tempo leve. Acredite nos seus sonhos.


Esse ano o trabalho começa a dar frutos. Os estudos voltaram a andar pra frente. Estou sendo valorizada e reconhecida, aos poucos.


Conheço pessoas novas e incríveis. Voltei a socializar de uma forma que não fazia há anos.


Estou feliz.


Quantas vezes podemos dizer isso?

Eu estou feliz.

42 é um bom número.