De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

domingo, 20 de dezembro de 2015

Então é Natal, e o que você fez? O Ano termina, e começa outra vez!

Estamos na semana do Natal.

Essa época do ano costuma ser difícil pra mim, mas de uma forma boa e não ruim.

Eu adoro festas, e amo demais Natal e Ano Novo. Adoro me reunir coma família e os amigos, ir as festas, cozinhar para todos e trocar presentes.

E por tudo isso, a minha tendência nessa época do ano é a de entrar em mania e gastar tubos de dinheiro com presentes para todos que conheço. Então é sempre um desafio passar por isso sem contrair dividas que só vou me livrar em julho ou agosto, por exemplo.

Mas mesmo sabendo de tudo isso e tendo que fazer um esforço herculeo para me controlar, ainda é uma das minhas datas favoritas, compedindo seriamente com meu aniversário e o da Bequinha.

Depois que ela nasceu, não, depois, que ela fez uns 2 anos e de fato passou a curtior esse época de Natal com a gente, a data ganhou pra mim uma mágica nova. É a história da renovação, da magia do Natal, da inocência que é resgatada com histórias sobre Papai Noel, renas e duendes.

É algo contagiante você ter uma criança em casa que teima em ficar acordada até a meia noite e sai correndo pela casa caçando um Papai Noel Invisível para depois voltar até a árvore e perceber que tem, ali, um presente com seu nome.

Que se delicia coma comida diferente, com os doces, com a presença de pessoas queridas.

Então se antes eu ja gostava do Natal, hoje ele é uma chance de esquecer o mundo mesmo e voltar a ser criança sem culpa nenhuma, mesmo que eu nem tenha tanto pique pra acompanahr aelétrica movimentação dela pela casa. Tem a ver com o jeito de ver o mundo.

Então eu convido aqui vocês, por essas semanas de festa, a tentar fazer isso. A deixar de lado as preocupações mesmo, e tentar focar no mais simples.

Eu sei que tem gente que nessa época fica bastante deprimido, e é difícil se contagiar. Sei que as vezes o esforço de ter que interagir com outras pesoas é sufocante e ter que parecer normal para evitar as insistentes perguntas fazem a gente querer se trancar no quarto até o Ano que vem, lá pelo carnaval.

E sabe de uma coisa? Tudo bem.

Você está convidado a essa coisa de olhar a vida do jeito mais simples também.

Essa é uma das coisas que eu aprendi com a maternidade, uma certa serenidade. Por que de repente não da pra apressar as coisas, você tem que entender e esperar para que tudo aconteça em seu tempo.

Um bebe demora 9 meses a nascer, mais 6 para comer papainhas, um ano para começar a andar, e pelo menos 3 para de fato interagir com você como uma pessoinha vai fazer, e não importa o quanto você queira, esse tempo vai ser necessário para que tudo isso aconteça.

E isso tem a ver com ver a vida do jeito mais simples.

Com sentar na cadeira, no sofá, logo de manhã, e só ficar ali. Respira, sente o ar entrar no corpo mesmo. Sente aquele cheiro de café, toma uma caneca de chocolate. Fica o dia inteiro de pijama, faz uma maratona de séries.

Liga pra aquele amigo e sai pra ir no cinema.

Determina um orçamento e sai pra comprar um presente, pra alguém ou pra você mesmo.

Senta no chão pra brincar de Barbie ou de carrinho. Almoce tarde, durma cedo.

Mas faz tudo isso sem culpa. Sem pressa. Sem aquele peso de que "tem que". Não tem que nada.
Sei que as vezes tem o trabalho ainda no meio das coisas, então tenta levar esse espírito com você.

O ano acabou e ele não foi fácil não. Nem pra mim, acho que pra ninguém, nem pro mundo! Então relaxa, que ta acabando.

Eu desejo para mim, pra você, que a gente seja capaz de dar um tempo nas preocupações. Que 2015 termine com um pouco de paz, e que as pressões e perdas fiquem pra trás. Que 2016 seja uma primavera pra esse ano de inverno e traga todas as coisas boas e renovações que todos temos direito.

Que seja um novo ano de mais alegria, de mais vitórias. Mesmo que seja das pequenas vitórias do dia a dia.

E que nesse Natal todos ganhemos de presente o direito de nos sentir mais leves, e de ver o mundo desse jeito mais mágico. De esperar o papai noel, de sentir prazer e ser feliz,

Por que todos merecemos ser felizes.

Então Feliz Natal, Próspero Ano Novo.

E que a gente possa se encontrar mais vezes por aqui no ano que virá.
Por que eu senti muita falta desse cantinho em 2015, e faz parte das coisas a serem renovadas em 2016...

Boas festas!

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

A formatura

Esse ano a Rebeca se formou na pré escola.

A escola dela faz festas com toda a pompa e gala de uma formatura de Ensino Médio, alugando salão, Buffet e com todas as salas da educação infantil participando e fazendo uma apresentação para os pais. E no centro dessa festa estão os formandos do pré-escolar. E no centro dessa festa, esse ano, estava a minha filha.

Eu sempre achei que festa de formatura de pré-escola era uma besteira, digo, antes de ser mãe. Ai nesses últimos 6 anos da minha vida eu tive o privilegio de conviver com uma criança que era minha para cuidar, criar, educar. E pude acompanhar todo o processo e o tempo que levou para aquele bebe que nem se mexia direito e só sabia mamar e dormir se tornar essa menina enorme, linda, esperta, inteligente, e muito mais rápida nas respostas do que eu podia imaginar lá naquele primeiro momento.

E olha, não é mamão com açúcar não. Não foi fácil pra mim, sem dúvida, mas a verdade é que também não foi fácil pra ela.

Aprender a sentar, engatinhar, depois andar, correr. Conseguir entender o que aquelas pessoas enormes tentavam te dizer, e depois aprender a usar essa linguagem para se comunicar com elas e poder finalmente, dizer o que você quer! Isso sem contar a dificuldade enorme que é aprender a sentir e lidar com esses sentimentos malucos, que hora te fazem rir, hora chorar, hora espernear no chão de raiva, e por quê? Por causa às vezes de algo que viria a ser tão simples quanto dizer que está com fome, ou com sono.

E no meio de tudo isso aprender a identificar que aquela pessoa que você ama é sua mãe, seu pai, e que além deles existem outras pessoas no mundo. Tios, tias, irmãos, avós, amigos dos pais, filhos dos amigos dos pais. E de repente você tem que conviver com todas essas pessoas, ser educado, dividir a atenção, dividir suas coisas, dividir sua comida.

Aí te mandam pra um lugar estranho e esperam que você fique lá com pessoas que você nunca viu esperando que eles voltem. E nesse lugar tem várias outras crianças que como você, também não estão lá muito felizes em ficar lá e dividir a atenção de apenas um cuidador e todos os brinquedos e atividades. Mas tudo bem, por que no fim aquela mãe, ou pai, sempre volta, e fica tudo bem, você vai pra casa.

E você aprende a confiar nas pessoas que sua família confia para cuidar de você, e aprende a gostar das pessoas, e descobre esse tal negocio de fazer amizade. E descobre que essa tal de escola é um lugar legal, onde você aprende várias coisas da melhor forma, que é brincando, desenhando, e vivendo situações que, muitas vezes, não viveria em casa.

E a cada ano essa escola te apresenta coisas mais difíceis e você começa a aprender o que são desafios. E aprende que seus colegas ali podem te ajudar, ou não, a passar por esses desafios, por que eles estão vivendo aquilo junto com você.


Aos poucos aprende também que nem tudo são flores, e que existem coisas ruins e tristes no mundo, como pessoas que serão más com você e dirão coisas feias, como xingamentos e tentarão te colocar pra baixo. Descobre que nem sempre podemos estar o tempo todo perto de quem gostamos e que as vezes essas pessoas vão para longe. Descobre que isso que você vive se chama vida e que ela um dia vai acabar. Como a daquele seu bichinho que você amava tanto...
E descobre que no meio disso tudo você é feliz, muito feliz. E que a melhor coisa é estar feliz com as pessoas que você ama também felizes ao seu lado.
E descobre que você tem vontades, e gostos, e opiniões.
E agora, aos 6 anos, descobre que as vezes você vai gostar de coisas diferentes dos seus pais, e dos seus amigos. E que às vezes você vai gostar de alguns amigos mais do que de outros, e talvez até apareça algum mais especial que todos os outros.
E aos seis anos você percebe que aquele esforço em aprender a falar agora se transforma e vai além, e você começa a aprender a ler e escrever. E que o mundo vai ficando cada vez maior a cada coisa que você aprende.

Então, depois de viver tudo isso, acho que tem que comemorar sim, com muita pompa e gala. E tem que ter teatro, e música, e colação de grau, e Beca e Valsa. E tem que ter pais emocionados e tias chorando. E tem que ter fotos.

Por que é uma etapa muito importante que se finaliza. De uma ainda maior que está no começo. Mas cada etapa, cada vitória, deve ser celebrada.

Então, parabéns a minha Rebeca por sua graduação. Sua primeira festa de formatura.
Que seja a primeira de muitas outras, e que daqui uns anos você se lembre: seu sonho, hoje, aos 6 anos, era ser cientista e inventar um remédio que cure várias doenças e ajude as pessoas a viverem muito, muito mais.

Com muito amor.

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Minha História - parte 3

Quando saí da escola no meio da 7ª série, eu fui levada pela primeira vez ao psiquiatra. Era o médico que tratava minha mãe para Síndrome de Pânico já há vários anos, e meus pais finalmente aceitaram o fato de que talvez tivesse alguma coisa errada comigo.
Já na primeira consulta, de cerca de 2 horas, ele deu um diagnostico: Psicose-Maníaco-Depressiva. Ou o que é conhecido hoje como Transtorno Bipolar do Humor, mas que naquela época ainda tinha esse outro nome.

Ele receitou que tomasse antidepressivos e eu o fiz por um mês e parei. Meus pais não relutaram muito com isso. Pra eles também era difícil aceitar que a filha de 13 anos precisaria tomar remédios para a vida toda.

Mas eu fiquei com essa informação guardada dentro de mim por muitos anos. De alguma forma eu sabia que aquilo significava algo importante, mesmo que na época eu não entendesse.
Na época era só uma fase. E ia passar.

E por algum tempo, quando eu me encontrei e encontrei um lugar para fazer parte, passou... Ou eu achei que era suportável o suficiente para acreditar que aquilo era parte de mim, e que aquela pessoa era quem eu realmente era.

Pulei de uma escola a outra e terminei a 8ª série raspando. Naquela época eu estava interessada em outra coisa... Nos amigos que eu sofri tanto até conseguir... E me agarrei a eles como se minha vida dependesse daquilo. Com toda a intensidade que uma adolescente bipolar pode fazer.


Era 1996 quando eu os conheci, depois de uma festa no carnaval que minha irmã deu para os amigos e conhecidos dela que jogavam RPG. Foi a partir dali que eu passei os fins de semana indo há uma unidade do Sesc e ao Shopping para conhecer e conviver com pessoas que, finalmente, gostavam das mesmas coisas que eu. Que eram diferentes, que gostavam de fantasia e ficção cientifica, de jogar RPG, e que estavam dispostas a me aceitar como eu era.
Que estavam dispostas a me aceitar.
E foi ai que eu tentei me encaixar. Foi onde passei toda a minha adolescência.
E foi nesse meio que tentei construir quem eu era pela primeira vez...

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Minha História - parte 2

Era um mês de julho e eu simplesmente não sentia vontade de fazer nada.
Em casa a coisa não era melhor. Chorava sem motivo algum, comia muita besteira, passava as madrugadas acordada assistindo TV e jogando vídeo game, e de manhã me recusava ao máximo a levantar para ir à escola.

Meu pai, mais de uma vez, cortou o fio da TV com faca para que, já que eu ia ficar em casa, não tivesse a TV como distração. Ele não entendia que a TV não era o problema. E ignorava que eu sabia refazer a fiação.

Brigava muito com meus pais, em especial com minha mãe.  Me sentia incompreendida o tempo todo. Por mim mesma, inclusive. Não entendia aquela dor que eu sentia dentro de mim o tempo todo. 

Em determinado momento decidi começar a me cortar, autoflagelar, especialmente depois de uma briga, para ver se a dor que eu sentia com os cortes podia por um momento me fazer esquecer a dor que eu sentia dentro de mim.

Quando eu ainda estava na 6 série, perto do final do ano, meus pais pediram que minha irmã começasse a me levar para sair com os amigos dela, para que eu saísse um pouco de casa.
Eu sou muito grata a eles todos por isso. Por que esse foi o começo de algo que me salvou por muitos anos sem fazer tratamento.

Não foi fácil, mas eles estavam dispostos a me ajudar, e me aceitaram junto deles. Eu me sentia mais como uma mascote, mas mesmo assim, foi mais do que eu havia tido nos últimos 2 anos.
Minha irmã e seus amigos jogavam RPG. Saiam a noite para ir à bares, sim, por que a maioria deles era maior de idade ou quase. Mas muitas vezes apenas iam lá em casa, jogar RPG, passar tempo, conversando ou mesmo jogando vídeo game.

Eles foram os primeiros a adotar nossa casa como um segundo lar temporário. E no auge da minha crise, foi a diversão de jogar RPG e as pessoas que conheci através deles que iriam, por fim, me ajudar a sair do abismo que eu me encontrava.

Com eles houveram dois momentos bem marcantes, e uma pessoa que me adotou como irmã e cuidou de mim ainda por muitos anos pra frente.
O primeiro momento foi numa discussão que eu os ouvi ter em casa onde eu ouvi minha irmã, brigando, dizer “Mas vocês são MEUS amigos!” e um deles responder “Nós somos amigos DELA também!”

Eu nunca esqueci isso.
Mas ainda sim, a dor persistia dentro de mim, e eu tinha dificuldade de me adaptar a tudo aquilo. Ao atender o telefone de casa e reconhecer a voz de qualquer um deles, nem esperava que pedissem, já avisava que ia chamar minha irmã e passava o telefone pra ela.
Então um dia fui pega de surpresa por um dos amigos dela. “Eu não liguei pra falar com ela, eu liguei pra falar com você!”. André... Nós passamos uma hora conversando no telefone aquele dia, e no fim ele não pediu para falar com minha irmã. Nós nos despedimos e ele só ligou pra ela no outro dia.

Aquele dia ele ligou e falou comigo.

Eu ainda acho que ele fez isso por pirraça pela forma como eu atendia o telefone. Mas não importa. Nós fomos amigos até o final, quando ele foi levado da vida mais cedo...

Queria que ele soubesse que aquele simples telefonema foi de imensa importância na minha vida. Mas se hoje não posso contar pra ele, conto para você.

Ele foi alguém que esteve do meu lado quando eu mais precisei...


Dos amigos de minha irmã eu me apaixonei por um deles. Daqueles bons amores impossíveis que temos na pré-adolescência, eu tinha 12 anos e ele 20. E por mais que a reputação dele fosse de galinha que sai com todo mundo, ele era um cara bem correto. Obviamente nunca se interessou por mim, e eu agradeço por isso também. Por que foi importante ter contato com pessoas que faziam o que era certo. E ele me adotou como irmã, cuidou de mim, e esteve ao meu lado em bons e maus bocados. Ele tomou para si a responsabilidade de cuidar de mim quando eu não estivesse em casa, ficando comigo quando meus pais saiam, me levando para sair, me buscando quando eu eventualmente conheci outros amigos e saia sozinha, mesmo que eu ligasse pra ele ás 3 da manhã e ele estivesse dormindo. Foi, é, meu irmão. Sempre será. Por que amor se constrói, se mantém, assim, com pequenas e grandes ações. Mas principalmente por estar lá quando parece que estamos sozinhos.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Minha história - parte 1

Quando eu era criança eu queria ser escritora. Quando eu entrei na adolescência eu continuei querendo ser escritora. Ai veio um negocio chato pra caramba e atrapalhou toda minha vida: chamava Transtorno Bipolar do Humor.

Eu tinha 13 anos de idade quando tive minha primeira crise depressiva severa. Eu havia mudado de escola havia 2 anos e não tinha conseguido fazer amigos. Tinha duas colegas, mas elas eram mais amigas entre elas mesmas do que minhas amigas. Eu tentava, e na época achava que éramos amigas sim, mas a verdade é que algo já estava agindo por debaixo dos panos da minha mente. Hoje eu sei.

Sofri bullying na escola durante esse período. Era gordinha, tinha as pernas e os braços cheios de pelo, que meus pais teimavam em não me deixar depilar por acharem que eu era muito nova. Ia muito bem na escola sem fazer esforço algum, escrevia bem, era tímida, e ia mal em esportes. Basicamente um prato cheio para os valentões e pré-adolescentes em geral provocarem e manterem distância.

Chegou a acontecer na sala de aula um trabalho em que os professores pediram que a classe desenhasse como eles viam a união do grupo, onde foi desenhado uma grande panela com umas 3 pessoas tentando entrar. Eu fui identificada pelos colegas, durante a discussão sobre o desenho, como uma dessas pessoas. A professora então me questionou se eu achava que era excluída da sala por que eu era gorda, ao que eu disse que não, e fui prontamente corrigida por outra menina.

Lembro de uma aula de educação física em que um menino começou a me xingar. Eu tentei não dar bola e sair de perto. Ele veio atrás de mim depois de beber água no bebedouro e cuspiu toda a água que tinha guardado na boca em cima de mim. E apesar de eu reclamar com o coordenador sobre isso, ele foi liberado com uma conversa e uma promessa que não faria mais isso, e um pedido falso de desculpas. Estávamos na 6ª série.

Dali pra frente, a coisa degringolou. Quando passei para a 7ª série, deprimida, sem vontade nenhuma de sair de casa, do quarto, e depois de passar férias em um SPA na tentativa em vão de emagrecer uns poucos quilos, eu decidi mudar minha estratégia. E ao invés de tentar me encaixar, resolvi que ia chocar os outros.

Então eu acordava de manhã, tentava cabular aula, e quando não conseguia, fazia alguma coisa fora do padrão. Comecei a ir com roupas curtas. Me recusava a fazer os deveres de casa e a participar das aulas de educação física. Escrevia e distribuía textos eróticos para os colegas. Num projeto na aula de artes fui instruída a fazer uma escultura que demonstrasse algum sentimento. Ao ter minha ideia inicial rejeitada por que não aparecia um rosto no personagem, decidi fazer uma escultura de uma mulher ajoelhada chupando um homem em êxtase.

É.

Acho que o maior problema para a escola é que eu passei a ter seguidores. Lembro de um dia em que vieram me perguntar na aula de educação física por que eu não estava participando, ao que eu simplesmente respondi que não queria. Perguntaram se eu não ia ser penalizada por isso, ao que respondi: “Vou ficar com falta sim. E daí? Se eu não quero, não faço, não sou obrigada.”

E na semana seguinte mais 4 pessoas se recusaram a fazer a aula. Por que se eu não era obrigada, eles também não eram.


Ai a escola gentilmente sugeriu que eu me retirasse dizendo que ali não era meu lugar...


Continua...

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Uma conversa sobre depressão...

Não, não sumi de verdade, de novo.
Só esta bem difícil de escrever.
Então quero falar um pouco sobre isso. Sobre depressão.

A depressão sempre foi um dos aspectos mais fortes no meu tipo de bipolaridade. Sim, existe mais de um tipo de bipolaridade, e vale a pena pesquisar sobre isso. Inclusive, você pode apresentar tipos diferentes em etapas diferentes da sua vida.

No meu caso, apesar de já ter tido diversos episódios de Mania e de Ciclotimia, a depressão sempre foi uma companheira mais constante.

Minha primeira crise depressiva foi entre os meus 12 e 13 anos. Não foi um episodio rápido, de dias ou semanas. Estou falando aqui de um quadro que teve inicio discreto quando eu tinha 9 ou 10 anos, e que foi se agravando muito quando eu troquei de escola e passei a ser alvo de bullying e a ficar isolada, aos 10. E isso culminou numa crise tão severa, por volta do final dos meus 12 anos,  que, ai sim com 13 anos, no meio da sétima série, eu não tinha mais condições de frequentar a escola. Nesse momento meus pais, finalmente, deixaram de achar que era “uma fase” e me levaram ao médico.
Fui diagnosticada com PMD – Psicose Maníaco Depressiva – e tratada com antidepressivo. E ai vocês podem imaginar o que aconteceu: o remédio desencadeou um episodio de mania, todo mundo inclusive eu acharam que eu estava melhor, e adeus remédios e médicos e olá crises cíclicas pelos próximos 9 anos.
Quando eu iniciei meu tratamento aos 21, portanto, eu já sabia o meu diagnostico. E acho que isso ajudou, pois fez com que eu conseguisse enxergar o que eu estava vivendo não como “um momento” ou “uma tristeza” mas como parte de uma doença muito mais grave e a qual eu não conseguia mais controlar sozinha.
O fato de ter visto minha mãe lutar por toda a minha vida contra a Síndrome de Pânico também ajudou, pois eu sabia que se eu me tratasse e insistisse no tratamento, eu ficaria melhor, e poderia ter uma vida produtiva. Com limitações, sim. Mas eu sabia que aquele horror pelo qual eu estava vivendo iria passar.
E eu sei disso hoje também.
E eu sei disso todos os dias.
E eu digo isso pra você: Vai passar. Isso vai passar.

Quando comecei meu tratamento em 2003 eu cheguei a ficar 14 dias internada para ajustar a medicação, pois minha psiquiatra tinha medo que eu “sofresse um suicídio”. Eu digo sofrer e não cometer por que nunca existiu a intenção de morte, mas o meu comportamento com a medicação que eu estava apenas começando a tomar era tão perigoso que isso poderia acabar acontecendo da mesma forma.

Após ser liberada da internação, onde eu praticamente dormia o dia inteiro, eu precisei voltar a morar na casa dos meus pais e a partir daí levaram muitos meses até que eu tivesse condição de ficar sozinha de novo.

Começar o tratamento foi muito difícil. Pra mim, claro, mas pra todas as pessoas que conviviam comigo – meu marido, meus pais, minha irmã, meus amigos, minha família. Nós tínhamos que aceitar que eu estava doente, que o meu comportamento não era intencional, que eu não era capaz de controlar meus sentimentos ou minhas ações.
Que eu precisava, conforme a medicação fazia efeito, aprender a sentir tudo de novo. Precisava aprender a pensar, a acalmar minha mente.
Era como se antes eu pensasse à 200km por hora e de um dia pro outro não conseguisse passar de 20Km mesmo que eu me esforçasse.
E uma das coisas que o remédio fez, naquele momento, foi me manter deprimida.

Louco isso não?

Mas o fato é que uma das primeiras coisas que a medicação faz é evitar as mudanças de humor e te manter com um humor só. E, fato é, é muito mais fácil se manter deprimido do que em Mania não?

E é mais fácil tratar um paciente depressivo, por que mesmo que ele não acredite que possa ficar melhor, ele está mais disposto a seguir as instruções do médico, terapeuta e da família, do que uma pessoa em mania que acredita que não precisa daquilo.

De lá pra cá eu alcancei a estabilidade 5 anos depois, engravidei, fiquei quase sem medicação durantes a gravidez, tive uma filha que é tudo pra mim, retomei a medicação, levei mais de um ano pra voltar a me sentir normal de novo, tive altos e baixos, alguns mais altos, outros mais baixos, mas nada comparado ao que eu vivi sem o tratamento.

2015 não tem sido um bom ano. Muitas coisas aconteceram e meu humor, que desde o final de 2014 já estava ruim, mas lutando contra a depressão, foi de mal a pior. A cada vez que eu me percebia melhorando, algum fator externo me devolvia pro olho do furacão.
Doi muito. É difícil lidar com outras pessoas, ou ter paciência. É difícil sentir vontade de fazer qualquer coisa, e de sentir prazer genuíno nas coisas que eu consigo fazer. Existem dias melhores, e eu tento aproveitá-los como posso. Mas existem os dias de rebote, de ressaca mental desses dias melhores, em que tudo que eu consigo fazer é tentar não ser muito desagradável.

É um esforço falar, pensar e fazer qualquer coisa. Cansa. E eu me sinto constantemente cansada.

Ficar e fazer coisas com a Rebeca, com meu Marido, com minha família, são momentos em que sinto que estou saindo debaixo da água e conseguindo respirar. São momentos bons e eu sou grata todos os dias por tê-los e minha vida.

E mesmo assim, eu sei isso sobre a depressão: Isso vai passar.

Se eu for ao médico, falar sobre a medicação, tomar a medicação corretamente, continuar na terapia, e usar os gatilhos que eu aprendi nos últimos 12 anos para me ajudar a sair dessa, isso vai passar.

Terão diz que eu só vou conseguir fazer o mínimo. E tudo bem. Tudo bem fazer o mínimo.

Terão dias, no entanto, em que eu vou ter mais vontade e mais energia, e nesses dias eu preciso tentar agir para que esses momentos se multipliquem.

Tem muita gente que acha que deixar de estar deprimido tem a ver com se sentir bem.
O que eu aprendi é que tem a ver com parar de se sentir mal o tempo todo.

Ninguém é feliz o tempo inteiro. O segredo não é buscar a felicidade, mas buscar não se sentir mal.
É se sentir normal. É ser capaz de ter uma conversa sem que isso te cause uma estafa mental.
É ser capaz de levantar da cama de manhã e reclamar que acordou cedo.
É querer que suas férias cheguem para você viajar.
É esperar pelo fim de semana e reclamar do trabalho, mas ser capaz de ir trabalhar.

É não se sentir mal o tempo todo.

É deixar de estar deprimido.


Então, eu vou repetir, pra mim e pra você:

Calma. Respira. Isso vai passar.

Isso vai passar.

Busque ajuda. Se cerque de pessoas e coisas que você gosta. Fique num lugar que te traga segurança. E confie no seu tratamento.

Isso vai passar.

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

1 ano em alguns parágrafos...

Vai completar um ano de quando parei o blog. Muita muita coisa aconteceu nesse periodo. Ou não. Pra mim parece que foi quase uma vida, e as vezes parece que só tirei umas férias...
2015 tem sido um ano muito ruim pra mim, com bons momentos que valeram muito. Mas na soma das coisas, não ta sendo um ano fácil.

No meio do ano passado eu me arrisquei a sair da casa de meus pais e ir morar só eu, marido e filha num apto. Era alugado, era bem perto da casa deles, mas era nosso.
E gente, sabe quando o tiro sai pela culatra?

O que começou como um sono foi ficando ruim, marido entrou numa crise depressiva serissima, Rebeca regrediu muito, voltando a fazer xixi na cama diariamente e a so dormir na cama comigo, eu fui ficando mal, acabamos com a maior crise que ja tive no meu casamento...
E começamos o ano completamente sem dinheiro, num ano de crise, com uma perspectiva financeira bem ruim.

Conversando com meus pais e eles expondo as dificuldades que eles também estavam passando, decidimos que era melhor pra todos que nós saíssemos do apartamento e voltássemos a morar juntos.

Antes disso tive um bom Natal e umas férias de Janeiro que me deram um gás e me fizeram ter energia para tomar essa decisão. Minha prima, muito querida, veio passar as férias no Brasil com o filho depois de 11 anos morando fora do pais e foi realmente incrível poder te-la por perto novamente.

Ai 2015 começa a mostrar a carinha... Volto para a casa de meus pais, e na semana que decidimos mudar de volta o comportamento da Rebeca que ja estava complicado, piora e ela simplesmente passa a se recusar a ir a escola. E ela se mantem assim, numa briga diaria para tentar convencê-la a ir, num stress sem tamanho, por cerca de 2 meses.

Decido então começar a leva-la num psicologo para tentar entender o que estava acontecendo. O que havia gerado todo aquele comportamento. Se nós não a forcassemos a ir a escola, ela ficava bem, em casa, tranquilo. Dormindo comigo, sim. Fazendo xixi na cama, sim. Mas era menos pior, sabem?

Com o começo do tratamento dela nós descobrimos que ela ficou muito mal por termos voltado para a casa de meus pais, que ela entendeu isso como algo ruim, e que ela teria preferido continuarmos morando apenas eu, ela e o pai. Que ela havia percebido a tensão no casamento e tinha medo que eu e o pai dela nos separássemos. Que ela entendia que eu estava doente, mas não a gravidade disso, e tinha medo que eu morresse. Mais que isso, ela assumia para si a responsabilidade por eu ficar bem, e achava que enquanto ela estivesse ao meu lado nada me aconteceria. E portanto não queria ir a escola, nem fazer nada que a tirasse do meu lado.

Sem ter na escola uma compreensão da situação que ela estava, necessitando reafirmar a segurança de que estando longe de mim ela ficvaria bem, acabei decidindo trocar ela de escola no meio do ano.

Foi a melhor decisão que tomei. Nós refizemos a adaptação dela na escola com calma, ela foi se sentindo melhor e criando vinculo com seus cuidadores. Aos poucos foi ganhando segurança em mim, nela e na escola. E de lá pra ca tem sido cada vez melhor.

No meio disso tudo houveram 4 falecimentos significativos. Uma amiga minha que morava fora do pais teve uma overdose acidental ao misturar bebida com calmante.

Pouca mais que 2 semanas antes o pai de um dos meus melhores amigos faleceu, ele perdeu o emprego e teria de entregar a casa que morava com a esposa e o filho e sua vida estava mais do que incerta.

E um mês depois a mãe de outro dos meus melhores amigos faleceu.

E quando eu sentia que finalmente estava começando a ficar bem, meu cachorro, o melhor cachorro do mundo, foi atropelado na frente de casa por um momento de descuido.

Mas como eu disse existiram os bons momentos. ou as boas decisões.

Rebeca continua em tratamento com a psicologa e em conjunto com ter trocado de escola e os esforços em casa, melhorou de vento em popa, está feliz, mais segura, se arriscando mais, sabendo mais o que quer. Meio teimosa, as vezes respondendo meio atravessado, mas o fato dela se sentir bem para poder fazer isso depois de tudo que passamos me faz ver essse inicio de rebeldia, rs, com muito bons olhos.

Meu amigo que se viu perdido? Nós o acolhemos em casa apesar de todas as adversidades, inclusive de uma amiga minha ter decidido parar de falar comigo. Alugamos um quarto pra ele aqui em casa e procuramos dar a ele uma situação segura e estável para que ele, junto com a familia - mulher e filho morando ainda na casa da sogra - possa começar de novo.

Meu relacionamento com o marido melhorou. Reafirmamos algumas coisas, estamos procurando nos comunicar melhor, aceitamos nossas limitações, vontades, e estamos nos esforçando. Ambos amamos a família que temos e acreditamos que vale lutar por ela. Vale abrir mão de algumas coisas, e buscar outras. Mas que nós, nosso casamento, e nossa família, vale a pena se lutar. E, aos trancos e barrancos, estamos conseguindo.

Voltar para a casa de meus pais, sinto, que foi uma boa decisão. Estávamos certos quanto o ano ser dificil - pra todo mundo né? - e dar esse passo atrás nos permitiu ter outra perspectiva. Não foi suficiente para resolver nossos problemas financeiros, e né o deles, mas com certeza foi melhor do que teria sido se tivéssemos seguido separadamente.

Eu voltei a fazer terapia, e isso tem me ajudado muito. Inclusive a voltar a escrever no blog.
Decidi voltar a ideia de prestar concurso, e estou buscando um curso que eu possa fazer onlione voltado para a minha área de interesse. E no caminho até lá vou trabalhando a ideia, a decisão, e o que isso implica na minha vida para ter mais chances de sucesso.

E na semana que vem a Beca faz 6 anos.
A melhor decisão que tomei na minha vida foi ela.
E por ela eu luto por tudo isso. Por mim. Por nós.
É um amor que não tem tamanho e me da força todo dia.
Mesmo nos dias mais escuros que não quero levantar da cama, eu sei que isso passa. Que a tristeza passa. Que a depressão tem tratamento e também pode passar. Mas o amor? A, o amor fica, enriquece, preenche.
O amor ilumina e da sentido.
Então vamos em frente.
Por que 2015 ta dífícil sim, mas é só mais um ano.
E a unica certeza que a bipolaridade me deu na vida é que tudo pode mudar de um dia pro outro. E amanhã sempre pode ser melhor do que hoje.

Bom fim de semana pra vocês.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

A força que temos juntos

Eu ainda estou ensaiando...
Mas eu queria agradecer os comentários no post. A companhia de vocês me deu força por muito tempo, e é interessante olhar para o quanto eu senti falta disso no ultimo ano e não sabia o que era.
As vezes a gente se perde na nossa luta interior, ou no que achamos ser uma vitoria, e abandonamos comportamentos que parecem pequenos na hora e não temos noção do quanto são essenciais na nossa vida e no nosso bem estar.

Sinto hoje que eu teria lidado muito melhor com todos os problemas que tive no ultimo ano se eu tivesse dividido ele com vocês ao invés de me fechado numa bolha.

E olha que tenho anos de tratamentos pra saber que se fechar em uma bolha nunca é uma boa opção.

Mas é isso que a doença faz com a gente. Ela engana. A gente acredita inclusive que estamos pensando com toda clareza do mundo, mas quando começamos a melhorar podemos olhar pra trás e ver que não, que existia uma cortina na frente dos nossos olhos que não podíamos ver, guiando nossos pensamentos e  ações.

Compartilhar minhas vitorias e angustias, e o meu dia dia que pode até parecer bobo, me ajuda a ter uma perspectiva diferente sobre o que estou vivendo. Me permite ter a visão do outro, e organizar melhor as ideias que precisam parecer pelo menos mais ordenadas para que possam ser lidas.

Então eu recomendo.
Meu psicologo recomendava um diário. eu recomendo o ato de blogar. Por que ele serve como o diário, pra você poder reler e rever suas próprias ações, sim. Mas o blog te permite outra coisa.
Ele permite ter contato com outras pessoas. E mesmo quando estamos no meio da tempestade, é importante saber que não estamos lutando sozinhos.

Obrigada a todos vocês,
Di

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Ha muito muito tempo atrás, em uma galáxia muito distante...

Por favor, tente ler isso ouvindo ou imaginando a musica de abertura de Star Wars.

To viva.
To bem.Ou mais ou menos. Acho que somando alhos e bugalhos, to bem.
Sumi, eu sei. Fui fazer algo louco, gente. Fui só viver a vida fora da internet.
Aconteceu muita muita coisa nesse mais de 1 ano que eu não escrevo. Mudei de casa 2 vezes, ganhei um cachorro, perdi meu cachorro, gente querida faleceu, amigos se distanciaram, fiquei deprimida,- ou estou? - pra caramba diga-se de passagem, a Beca teve problemas, tive que trocar ela de escola... Ixi, tanta coisa...
E honestamente eu to ensaiando voltar a escrever aqui, pra compartilhar sim, mas mais pra me ajudar a organizar meu pensamento sobre o momento que vivo agora. Pra analizar o que vivi nesse ultimo ano. Pra tentar me ajudar a ver pra onde eu estou indo.

Se vocês vão estar ai, quando eu conseguir voltar? Não sei. Espero que sim.
Mas paciência, ok? To chegando...