O conceito de Bullying não é algo novo pra mim. Eu sei o que é bullying ha muitos anos, se não me engano por causa de algum filme americano que assisti que abordava o assunto, como tantos que existem. Sei que sempre tive consciencia de que era isso que acontecia comigo...
Bullying é um problema muit mais serio do que se pode imaginar, e com certeza afeta a vida das pessoas de formas que não esperamos se não lavamos a sério. O que sinto e que esse problema, para mim, não foi levado a sério o suficiente.
Posso narrar a minha trajetoria escolar, e vou, e encontrar exemplos de bullying em toda ela. E é interessante como isso começa...
Acho que a primeira vez que tive contato com esse comportamento eu estava na primeira série.
Eu tenho em casa um ou outro relatorio de uma professora minha do jardim da infancia e de todo o meu ensino fundamental 1, ou seja até a 4 série. E, é possivel, so pela leitura desses relatorios, ver quando isso começou e como me afetou.
Os primeiros relatorios, eu pequenininha, 3, 4 anos, ja descreviam a pessoa que eu conheço ser eu mesma: uma menina timida inicialmente, mas que logo não so estava bem enturmada como estava tomando as decisões sobre qual seria a brincadeira do grupo.
Foi assim ate a primeira série. Eu era conhecida como "Mônica" da turma da monica. Eu era gordinha, baixinha, e dentuça (meus 2 dentes de leite da frente tinha caido e os outros não, dando essa diferença), alem de ser a "lider" da classe. Coisa de criança, era uma brincadeira. Eramos eu e o Fabinho, meu cebolinha. Alias, o Fabinho talvez tenha sido o meu primeiro caso de Bullying...
Estavamos no pré. Iniciando nossa alfabetização. Ele era o chefinho dos meninos, eu das meninas, e em teoria existia uma certa rivalidade. Pra mim era brincadeira. Mas, eu gostava dele. E, coisa de menina... E não tenho ideia mais de por que, ele começou a querer me assustar. Talvez por esse competição boba, ou por alguma cobrança que ele sentia por parte dos outros meninos, essa idade em que chegamos em que nos não podemos gostar uns de brincar com os outros. "meninos? arg!" sabem? Enfim...
Ele fazia armadilhas. Assim. Ele chegava pra mim e dizia "eu vo fazer uma armadilha pra você no parque (a escola era em uma casa com arvores e terra e areia, uma delicia) e você vai cair e vai se machucar!" E eu ficava morrendo de medo! Cheguei a não querer ir para a escola, e meus pais ficaram preocupados inicialmente quando disse que isso estava acontecendo. Eles foram ate a escola e descobriram que as tais "armadilhas" nada mais eram que buracos que ele fazia na areia do parquinho, com a mão mesmo, e cobria com folhas. Não cabia mais que meu pé, se muito. Eles acharam graça, acredito que tenham me falado o que eram as armadilhas, e não deram mais muita bola.
Isso não resolveu meu problema. Eu, claro, confrontei meu coleguinha, e na verdade a situação foi se agravando. Um dos meninos da sala, o Ricardo, resolveu ser o meu "principe encantado" e me fazia o favor de na hora do recreio sair da sala antes que eu, andar pela escola "Averiguando o perimetro" e depois vinha me falar se estava seguro.
Mas essa foi a parte facil. Nos eramos, na verdade, amigos, Fabinho e eu. Naquele ano, todos eramos. Mas, na 1 serie, a coisa mudou de figura...
Quando eu entrei na primeira série, um garoto da nossa idade acho, entrou atrasado, no pré. Ele queria se destacar, por insegurança acredito eu. E, alguem disse que eu era a manda chuva, e que ele iria ser reconhecido se brigasse comigo.
Ele me batia na hora do recreio. Sério. Eu tinha medo, de verdade, dele. Ele era maior que eu, fisicamente, e realmente me batia. Eu me escondia pela escola pra que ele não me achasse. Não sei qual era a motivação dele. Eu nem naquela epoca, entendia. Sei que eu chorava. Não lembro se cheguei a contar aos meus pais. Sei que contei a minha irmã, 2 anos mais velha que eu e que estudava na mesma escola. Ela inicialmente disse que eu devia ignora-lo. Claro, não adiantou. E um dia, lembro bem, ela foi conversar com ele. Foi interessante, pois se minhz memoria esta correta, ela so conversou com ele. Não sei, ela podera comentar aqui e contar essa parte da historia.
Ele ainda me deu problemas depois. Interessante foi que a ultima vez que ele me provocou quem foi me defender foi o mesmo Fabinho da primeira historia. Essa defesa teve um fim bem tragico: ele e o menino brigaram, sairam na mão, e ele levou a melhor. Mas a avo do garoto quando veio busca-lo não aceitou isso e foi tirar satisfações e bateu nele.
Mas agora, vejam bem, eu ainda sim, era a manda chuva das meninas. Fragil, sim, afinal eu era uma menina, mas fama e fama, e tudo isso aconteia por causa dela. Eu, na epoca, era um pouco mais alta que as outras meninas e era bem gordinha, então tinha aquela coisa de criança que gordo é forte? Então eu era forte! Ha... Mas eu me aproveitei dessa fama por um tempo. Mas do meu jeito.
Nos tivemos 2 garotos "diferentes" na turma na segunda e na terceira série. Eu não lembro de eu ter provocado os garotos de forma negativa, provocando exaltando seus defeitos. O meu "gordinha" era sim motivo de chacota desde a primeira serie. Eramos eu e o Diego, os gordinhos da sala. Aguentavamos comentarios que combinavamos e deveriamos namorar, casar, pois nos dois eramos gordos e mais altos.
Ca entre nos, a ultima foto que vi dele... Nem ia reclamar tá! rs Mas na epoca isso me magoava muito, o fato de me tacharem de uma coisa ou outra sem levar em consideração o que eu pensava, sentia ou mesmo falava e agia.
Não lembro de, apesar do apelido de monica, ter batido em alguem ate a terceira serie. Lembro, pelo contrario, de chegar a perguntar a esses dois garotos "diferentes" que falei por que eles eram diferentres, pr que agiam como agiam. Não lembro a resposta. Sei que nenhum dos dois passou mais de um ano na escola...
Tudo piorou e muito na terceira serie. Naquele ano minha irmã saiu da escola, e mais importante que isso, minha melhor amiga se mudou para Santos. Foram duas mudanças muito grandes no mesmo ano. Pra NÃO me ajudar, naquele ano as series que antes eram separadas, manhã e tarde, se juntaram em uma so de manhã. Pronto, estav feita a bagunça. Por causa da tal da fama...
Eu fui provocada muitas vezes ao longo daquele ano. De repente eu não era mais o centro do grupo, e pelo contrario, parecia que eu precisava ser deixada de fora dele. Chegou a fase em que as meninas falavam fofocas e maldades umas das outras. Treino para a posteridade acho... Eu fiquei na minha... Elas não... Me provocavam, me chamavam de gorda, boba, sabe-se la o que mais. E eu fiquei deslocada. Fiquei amiga no final das 2 meninas menos provaveis a me ajudarem na minha vida social escolar, mas que eram otimas amigas, a Yara e a MAria Eugenia. Elas duas continuaram melhores amigas depois, fiquei sabendo. Elas de fato tinham bastante incomum. Sofriam de um preconceito horrivel por serem mais velhas que o restante da classe. Mas elas se encontraram, e puderam dar apoio uma a outra.
Eu não era mais velha que o resto da sala. Mas eu não era igual a todos eles, sem duvida. Eu não entendia muito bem a dinamica. Com as provocações da 3 serie eu sei que cheguei a fincar a lapiseira na mão de uma menina. Ela estava me provocando de uma forma que eu não estava mais conseguindo ignorar. Era isso que eu fazia, ignorava. Mas aquele dia eu não estava bem, não sei o que ela dizia de diferente. E eu disse que se ela continuasse a me provocar eu iria fincar a lapiseira dela na mão dela. Coitada, disse que duvidava. Eu finquei de verdade. O grafite ficou preso na mão dela. Pobre Ana Claudia...
No ultimo dia de aula daquele ano uma outra menina, Saira, não lembro por que decidiu me provocar também. Falou muito, me xingou. Eu estava ignorando. Lembro que ela estava ficando sem argumentos. Então ela começou a falar mal do meu pai, procurando uma reação. Eu virei um soco na cara dela sem nem saber o que estava fazendo.
Nessa escola a quarte série, meu ultimo ano lá, foi o pior. Meninas na quarta serie, em sua maioria, ja tem essa veia romantica, esse sentimento de se apaixonar, achar que esta ficando grande. Somos pré-adolescentes, e quem lembra sabe bem que e isso mesmo. MAs enchemos a boca pra falar!
E ai foi que o ser gorda fez a maior diferença. Por que foi quando a brincadeira de "você namora com ele" e "beijo abraço aperto de mão" fazem algum sentido. E foi quando começou a historia do "você não por que você é gorda". Era mais que isso, so e dificil de lembrar...
Os relatorios escolares desse ano mostram a posição da escola e dos meus pais sobre o que estava acontecendo ao longo daqueles anos. "Adriana, você se isola demais da sala e acaba perdendo uma parte importante da vivencia escolar. Procure se enturmar." No relatorio tem uma parte para que meus pais fizessem observações a respeito do proprio relatorio e fizessem essa troca cvom a escola.
Estão todos em branco nessa parte.
Na quinta serie eu fui pra outra escola. Fui para a escola onde minha irmã estava estudando. Acredito que meus pais achavam ser uma boa ideia que ela pudesse me ajudar novamente. Foi a pior coisa que eles poderiam ter feito.
Eu ja estava bem mal naquela epoca. Fiz vestibulinhos para entrar em outras escolas tambem. Neles eram necessarios fazer redações. Eu fiz aulas particulares de portugues e matematica para poder passar nesses vestibulinhos. Meus pais foram chamados em uma dessas escolas, no Equipe, pois eles ficaram preocupados com a minha redação. O tema estava relacionado a piratas acho... Eu escrevi uma historia onde a personagem principal era raptada e estuprada por um pirata. Eu tinha 10 anos, ok?
Eu fui alvo de chacotadas e provocações desde o primeiro dia que entei na sala de aula. Primeiro por meu sobrenome, Matielo, que lembrava MArcelo, muito masculino. Nada auxiliado pela minha descendencia portuguesa que me enche de pelos no buço, braços e pernas. Foi quando eu quis fazer depilação pela primeira vez, no primeiro verão naquela escola. Ate la, não me incomodava ter pelos ou não, não de verdade. Um dia eu iria ser adolescente e iria de´pilar as pernas e etc, mas eu ainda não tinha chegado la de verdade.
Eu tambem tinha o corpo muito mais desenvolvido, com seios consideraveis para minha idade. Não aprecia uma criança mais... E meu peso, que ja vinha sendo um problema ate em casa, devido a um problema da minha mãe com o peso dela desde que me conheço por gente que nos levava a ter dietas loucas constantemente e estarmos vivendo sempre na neurose da dieta.
Meus pais erraram em pensar que naquela epoca minha irmã poderia me ajudar pois enqwuanto eu ainda estav sendo "jogada" na minha adolescencia, ela estava de fato começando a dela. Então ela não tinha muito interesse em ficar pangando coma irmãzinha, e acreditava facilmente quando eu dizia que estava tudo bem.
Passei a minha 5 serie passando orecreio na biblioteca lendo. Foi la, inclusive, que fiz uma amiga. Sempre atrai os parias...
Mas tinham as provocações, a sim... Educação fisica era um martirio, aulas sobre sexualidade eram sempre uam conversa dificil. E o fato de eu me destacar em alguma coisa não me ajudava tanto naquela epoca... Eu, pelo grupo, não podia me destacar...
Mas eu escrevia bem... Muito bem. Minhas professoras me amavam. Eu tinha facilidade com tudo. Não ajudou, alem de tudo eu era CDF... Uma professora minha inclusive pensou em publicar um livro meu... Foi uma pena eu ter perdido o arquivo do computador na epoca...
Foram 2 anos de completa solidão. Em casa, eu me trancava no quarto. Sentia dores de cabeça na esco,a constantemente. Não queria ir. Inventava desculpas, ficava doente de verdade. Quebrei a perna e abri o pulso 3 vezes naqueles anos, alem de estar sempre doente. Comecei a cabular aula...
No final do 2 semestre na sexta serie eu escrevi um conto "erotico" que eu havia inventado em uma brincadeira em um Spa que tinha ido nas ferias e mostrei pra uma menina da sala. Lembro que isso aconteceu pr que, por causa da minha aparencia, ela me perguntou algo sobre meninos e etc. O Texto rodou na sala toda. Recebi elogios. chamei a atenção. Pronto.
Comecei a minha setima serie com essa mudança. Se eu não era capaz de me enturmar, então eles iriam gostar de mim por eu ser diferente. Não iria mais fazer parte da turma. Eu, finalmente, tomei uma reação ao que eu vivia.
As meninas ficaram mais amenas. Os meninos não... As provocações continuaram... E ficaram piores, pois eu comecei de fato a reagir, falar, agir diferente. Tive algumas situações de confronto fisico. Lembro de um menino cupir em mim so pelo fato de não gostar de mim.
Ele foi repreendido. Teve que pedir desculpas... Não fez diferença tambem...
O que fez diferença pra mim foi eu reagir aquilo tudo. Foi cansar de ser a "gorda escrota" e ser "a louca". Simples né?
Eu reclamei algumas vezes na escola sobre como era tratada.
Uma das minhas professoras fez um trabalho onde a classe deveria retratar-se. Foi desenhado uma panela com 2 pessoas tentando entrar. Eu era uma delas. A professora perguntou por que eu achava que isso acontecia. Eu disse que era por que eu era diferente. Ela perguntou se eu achava que meu peso influenciava a forma que os outros me tratavam. Eu disse que não. Uma menina se levantou e me corrigiu, dizendo que era sim por isso que eles não gostavam de mim.
Eu sai dessa escola quando fui convidada a me retirar, no meio da setima serie, quando fiz um projeto de artes onde decidi fazer uma escultura com um homem e uma mulher ajoelhada na frente dele fazendo algo nada apropriado ao horario nobre.
Ate aquele momento, e continuou sendo assim depois, minha atitudes de isolamento foram creditadas a preguiça, vicio em televisão, inadequação a porposta, revolta adolescente. Não era...
A revolta veio depois, sim. Não foi revolta, foi reação.
A escola não soube lidar com a situação, em nenhuma das veszes. Não foi considerado a possibilidade de bullying. Não foi levado a serio. era coisa de criança. Depois, era revolta adolescente. E quando a situaçção ficava muito dificil, eu era trocada de escola.
Não sei bem, ja que não consegui colocar os detalhes de como eram as provocações ao longo de todos os anos, se consegui deixar claro meu ponto.
Sei o que viver isso e como as escolas e minha familia reagiram ao que estava acontecendo fizeram comigo.
Não me adaptei a nenhuma escola. Desisti de estudar. Fui terminar meu colegial fazendo supletivo. Não terminei nenhuma das faculdades que comecei. Não tenho nenhuma auto estima. Considerei a possibilidade de virar freira, no melhor estilo Madre Teresa de Calcuta, pois eu sempre gostei de ajudar os menos favorecidos e não me achava capaz de atrair alguem de verdade. Não me achava bonita, ou interessante de nenhuma forma, o suficente pra que alguem quisesse qualquer coisa comigo que fosse mais do que curtir. Ah, e escondido, ok?
Não tive a ajuda que precisei na epoca. Fui, aos poucos, me calando e isolando cada vez mais. Os mais calados sempre explodem. eu finquei uma lapiseria na mão de uma menina. E você?
Sei que ainda hoje quando um menino passa o ano todo sendo chamado de quatro olhos na sala, ou de bicha, não e feito nada.
Eu dei aula. Fui professora. Lembro de entrar na sala uma vez e alguns meninos estarem brigando por causa de uma coisa dessas, um ter chamado o outro de bicha. Eu parei a briga, coloquei cada um no seu lugar, e dei uma bronca na sala. Chamei a atenção deles, conversei, expliquei. Fiz o que nenhum dos professores deles fazia. Estavm mal acostumados sendo mandados diretoria, isoladamente, quando acontecia alguma coisa, onde recebiam uma represalia. Não. provocações desse tipo não são problemas isolados. O Bullying é um problema social. So existe o valentão quando existe pra ele uma plateia. Mandar as crianças para a diretoria não resolveria. Eles saberiam que seriam sim repreendidos, mas talvez nunca entenderiam de verdade por que. Mais. Talvez não soubessem que deviam agir diferente, em conjunto.
Não entrei com a sala no merito se o garoto era ou não homossexual. Eles estavam na sexta serie. Nenhum deles tinha idade para sequer ter descoberto realemnte a propria sexualidade. Entrei no merito da diferença. E sabe de uma coisa?
Eu nunca mais tive problemas com aquela sala... Ate ter que parar de dar aula pra eles.
E você? Como seu filho esta na escola? E em casa? Presta atenção... POde ser mais serio do que você esta pensando...