De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

domingo, 27 de dezembro de 2020

Sobre 2020

 O ano está acabando e a sensação que eu tenho é de "já?". Que o tempo passou muito rápido. 

Ao mesmo tempo eu tenho a percepção que 2020 foi, pra mim, um ano com uns 3 anos dentro dele. Tantas coisas diferentes aconteceram...

O ano começou Janeiro com festa com os amigos, com família, com altas conversas na madrugada, no passar a noite em claro, na bebida em excesso para alguns, na brincadeira das crianças...

É estranho pensar que no começo do ano eu ainda tinha em casa uma criança...

Tivemos também desemprego, depressão, companheirismo. Tivemos problemas sérios de saúde e o descobrir como alguém se importa mais do que o esperado. Tivemos ajuda e carinho de várias formas e pessoas que decidiram apostar em nós. E isso o ano todo foi uma constante...

Quando final de Março chegou com a COVID 19 e a quarentena foi como entrar em stand by. Sabíamos que as restrições durariam mais no Brasil que nos outros países, mas não estávamos preparados para perder o ano de 2020 inteiro. Quiçá o de 2021 também... Estávamos tão despreparados que conforme os meses passaram nós naturalizamos a tragédia e fomos impelidos a conviver com ela. 2020 parou o tempo por alguns meses, mas não tinha condições de pararmos nossas vidas por tanto, tanto tempo.


Aqui nós vimos a necessidade financeira bater a porta, a urgência em encontrar uma solução, a saúde mental pedir socorro. E veio Julho e Agosto e uma ideia que mudou tudo e virou meu mundo de ponta cabeça.

Um projeto que no começo nem era meu, que entrei de gaiato, e foi nele que me encontrei como não me encontrava há mais de uma década! E eu abracei e me joguei e agora começamos a ver, aos poucos, os resultados tímidos de todo o trabalho. Confiantes e nos divertindo, seguimos firmes em nosso propósito. Felizes.

E nesse ano louco eu me reencontrei. Encontrei a vontade de estar bem comigo mesma. De ser verdadeira. De explorar. De sentir. De vencer o medo. Encontrei minha inspiração. Minha vocação. Encontrei partes de mim que se escondiam há tanto tempo que ainda estou aprendendo a reconhecer.


Esse ano minha criança aqui de casa cresceu tanto e amadureceu tanto e tão rápido que hoje já é uma pré adolescente. Seus gostos mudaram. Seus interesses. Seu jeito de interagir. Suas brincadeiras tem outras histórias. Suas histórias tem outros personagens. Seu dia já é preenchido por outras pessoas.

Foi ela me mostrar que estava pronta pra esse vôo solo que me permitiu olhar pra mim. E olhar pra mim me mostrou que esse é um exemplo que quero dar pra ela. De que nunca é tarde pra vivermos nossos sonhos.

Minha forma de viver no mundo encontrou seu lugar, e eu pude ter a certeza que sei quem eu sou, o que eu quero, no que eu acredito, o que e quem eu amo. 

2020 no fim, com seus 3 versos me foi um ano bom. E é difícil admitir isso em meio a tantas tragédias. Mas pra mim ele foi.


Que 2021 me traga a continuação e realização desse trabalho, dessas verdades, dessas coisas boas.

Mas pode resolver a parte da tragédia também. Porque, né? 

Um feliz Ano Novo pra todos vocês! Que assim como eu vocês encontrem motivos para sorrir e acreditar no melhor.

Um Ano Novo de esperança.


domingo, 1 de novembro de 2020

11 anos de Mãe Bipolar e Filha Jacaré

 Hoje faz exatamente 11 anos que comecei o Blog!

Podemos remontar tanta coisa de lá para cá, tanto crescimento, tanto aprendizado.


Como ser mãe da Rebeca mudou tudo na minha vida.

E como quem ela é hoje aos 11 anos me permite mais uma vez mudar tudo e transformar meu mundo de ponta cabeça.


Eu estou hoje lutando pra sair de uma crise. Faz parte da vida bipolar: você não sabe quando e por quanto tempo mas sabe que ela vira: a crise. Uma crise depressiva, uma hipomania, uma mania, uma crise mista... E a certeza que podemos ter quando qualquer uma delas se instala, por sorte, também é a mesma: da mesma forma que ela vem ela eventualmente irá embora.


Nossa vida é cíclica.


Vivi esse último ano inteiro no que pode ser considerado uma crise de hipomania. Será?

Honestamente não tenho certeza.

Mas foi um ano diferente de todos os últimos, não sei, 10 anos?

Talvez por finalmente sentir a segurança e a liberdade depois de todo esse tempo para agir e ser eu mesma, aos poucos, semana após semana, eu fui mudando, me reconectando a partes de mim que estavam escondidas há anos, que pensei que estivessem perdidas.

Esse último ano foi um ano de mudanças intensas, de reconectar, de reencontrar, de amadurecer. De redescobrir uma face de mim: a minha.

Eu me dediquei por 10 anos totalmente a ser mãe da Rebeca. Era o que eu sentia que devia fazer.

Nesse último ano Rebeca mudou muito. Ela deixou de ser uma criança indefesa e está se tornando uma pré adolescente que busca sua independência, que se sente mais segura para não precisar mais de mim na mesma intensidade. 

E isso me deu liberdade para que eu pudesse ser eu mesma novamente. Para que eu pudesse olhar para o mundo e redescobrir o que eu gosto. As coisas que eu quero. Me fez perguntar quem eu era, quem eu quero ser hoje.

Tem sido uma jornada incrível e vocês a acompanharam esses anos todos por aqui.

E eu tento como posso trazer um pouco desse novo momento também. Porque chega uma hora na vida de toda mãe que seus filhos começam a andar sozinhos e você precisa descobrir o que fazer com as mãos novamente.

A coisa mais importante que eu recuperei esse ano, de 2020 mesmo, no meio de uma pandemia, foi escrever.

Em algum momento em que tentávamos ver como viver e sobreviver a essa pandemia, não poder sair de casa, não ter outra saída a não ser buscar algo criativo para fazer, me libertou.

Numa combinação de ideias, amizade, liberdade, oportunidade, eu reencontrei a única coisa que eu sempre sonhei além da maternidade: a escrita.

Hoje é o que eu faço. Hoje faz parte da minha rotina como não fazia desde a adolescência. Hoje é meu trabalho. Hoje escrever tem sido um sonho que se torna realidade.

Mas eu disse que estou lutando com uma crise. E estou.

No último mês essa que parecia uma crise de hipomania degringolou para uma mania completa e eu fui aos poucos perdendo contato com a realidade.

Precisei dar 2 passos pra trás. Voltar 6 casas no tabuleiro.

E eu senti muito medo que a única forma de recuperar meu equilíbrio seria abrir mão do meu sonho mais uma vez.


Eu tenho pessoa que me amam do meu lado dizendo que eu não preciso fazer isso. Que eu não preciso abrir mão de nada. Que talvez isso signifique que, passada a crise mais forte, nós tenhamos que lidar com uma certa instabilidade. E que tudo bem.

Mas que eu não preciso perder quem eu estou descobrindo ser hoje, nem o que eu quero, ou meus sonhos, para alcançar meu equilíbrio. Porque eu preciso ver o que eles já vêem: o ponto de equilíbrio mudou.


Hoje faz 11 anos que comecei o Blog.


O ponto do equilíbrio mudou.


Você vem comigo descobrir esse novo mundo que se abre?

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Aquele sobre o aniversário de 11 anos



 Rebeca completou 11 anos em um Brasil em quarentena. Um lugar que, apesar das flexibilizações duvidosas país afora, as pessoas permanecem tendo de ficar o áximo possível em suas casas, se protegendo e protegendo os outros de uma doença perigosa, sem cura.

As vezes banalizamos para poder continuar vivendo sem estar em pânico constantemente, mas a verdade é que a Epidemia não acabou e continua matando quase mil pessoas todos os dias.

E nesse cenário de incertezas e medo, Rebeca fez 11 anos.

Muito mais do que uma mudança de um número, eu acho que ela não percebeu as mudanças que aconteceram com ela durante esse ano. Ela era uma criança de 10 anos, no aniverário do ano passado quando ainda me pediu para ganhar um boneca, das caras, de presente de aniversário.

Esse ano nós vamos pintar o cabelo dela de colorido como presente de aniversário.

E como se comemora aniversário em meio a quarentena? Com parabéns virtual? Sim, claro!
Mas eu achava que era pouco.

Eu queria fazer o aniversário dela ser especial, memorável, divertido!

Rebeca gosta de festas grandes, preparar as festas, monstar lembrancinhas. O que poderia suprir esse gosto?


Decidi que iríamos viajar.


Pedi a uma prima minha que tem casa na praia se ela poderia nos emprestar a casa dela por alguns dias para comemorar o aniversário da Rebeca, Conversei com ela com mais de um mês de antecedência para ter certeza que daria certo e que fosse no dia mais proximo possivel do aniversário da Beca.

Minha prima concordou. Nos organizamos e ela conseguiu que nós fossemos passar 5 dias exatamente no intervalo que aconteceria o aniversário da Rebeca. estaríamos na praia no dia certo!

Comecei então a organizar as coisas.

Eu queria que ela tivesse contato com outras crianças. Conversei com dois casis de amigos meus proximos e com quem nós temos convivido durante a quarentena por motivos de trabalho e saúde mental cujos filhos são amigos da Rebeca para que eu pudesse levar as crianças na viagem.

Com isso em mente, tentei fazer com que eles se sentissem seguros de deixar as crianças comigo e planejei a viagem para que meus pais pudessem ir conosco alguns dias e os amigos da Rebeca em outros, assim ela teria um pouco de cada coisa.

Arrumei também para que a irmã dela pudesse ir junto. Convidei um amigo meu que esta trabalhando conosco e esta sempre aqui em casa para nos acompanhar, assim poderiamos ir com dois carros pois ele poderia nos auxiliar sendo um dos motoristas.

Semanas passam e meus amigos não me dão a resposta definitiva sobre as crianças. Meus pais estão com duvidas pois minha mãe tem muita dificuldade de sair de casa. Eu sigo organizando a viagem conforme posso, contando com a presença deles.

Eis que 3 dias antes de irmos viajar um dos meus amigo dias que não vão poder. Duas das tres crianças que eu tinha convidado estavam ali deixando de participar.

No dia seguinte disso meus pais dizem que não vão também. Minha mãe não esta confiante o suficiente.

1 dia antes da viagem eu sinto como se tudo estivesse dando errado. Fico pessima. Peço ajuda para lidar com a frustração. Recebo a ajuda. Recupero o folego. Bola pra frente e vamos em frente!


E fomos


E foi ótimo! Foi uma viagem deliciosa! Apesar de não irmos realmente até a praia em si para não nos arriscar com COVID nem nada, a casa tinha piscina. OS dias estavam muito quentes e ensolarados e pudemos aproveitar bastante a água, os dias na rede, passar a noite jogando jogos. Relaxar e apenas curtir o momento.
NO dia do aniversário propriamente dito nós cantamos parabéns e cortamos o bolo que eu havia feito e levado para a ocasião, do jeito que ela pediu. Fizemos o parabéns virtual com meus pais e minha irmã.

Meu amigo que nos acompanhou é fotógrafo, levou a camera, e nos presenteou com um registro cuidadoso e delicado de um aniversário fora do normal.


Mas tudo que sobre, desce, não é mesmo?

No sábado, ainda na casa de praia, o dia amanheceu chuvoso e frio, Todos cansados dos dias anteriores, cada um se fechou em seu mundo. Baixas de humor. Uma crise.

E então que ela veio. Uma crise forte, certeira, avassaladora.

Eu sabia que eu ia ter um rebote devido a ansiedade de ter preparado a viagem. Eu me dediquei muito e dei muita importância e estava muito preocupada para que o aniversário da Rebeca fosse tudo de melhor que eu pudesse fazer. E isso sempr tem uma consequência.

Mas eu estava esperando a consequencia quando voltasse para casa, não no meio da viagem.

Passei o dia entre o lá e o cá, brigando com o sentimento dentro de mim. Perdi. Em determinada hora apenas pedi que o Taz assumisse o cuidado com as crianças e me deixasse tentar descansar. Eu tinha esperanças de que, se eu conseguisse dormir, o sentimento fosse embora.

Mas ela veio. A dor. Uma dor de proporções que eu não sentia há mais de 10 anos. Um sentimento de vazio, de inadequação. De solidão. De abandono. Uma dor dentro de mim, uma dor na alma, que tentava me convencer que eu não tinha valor nenhum, que eu era fraca, que tudo que eu tinha ali era por pena. Que no fim eu estav sozinha, sempre. Que eu iria perder tudo que eu achava que tinha conquistado. Que nada daquela felicidade do dia anterior iria permanecer...

Eu chorei copiosamente deitada na cama por mais de uma hora. Entre ondas de choro e alguns poucos minutos de calma eu tentava me levantar para pedir ajuda, para pedir companhia e não conseguia me mexer.

Quando depois dessa 1h hora, ainda em crise e chorando, percebi que talvez eu finalmente conseguiria levantar eu ainda consegui pensar que não queria que Rebeca ou meu sobrinho me vissem assim, não queria assusta-los. Então eu não podia chamar o Taz. Eu precisava que ele continuasse com as crianças.

Então levantei e fui até o quarto mais perto, onde meu amigo e minha entenada estavam cochilando e  gritando, batendo a porta, implorei por ajuda. O tom que usei foi o de uma briga. Foi um grito, uma bronca. Foi a única forma que consegui fazer as palavras saírem da minha boca. Eu brigava não com eles mas com a dor dentro de mim que me sufocava.

Por sorte meu amigo entendeu e sem questionar apenas levantou e veio a minha ajuda. E ficou comigo, no quarto até que eu conseguisse me acalmar, falando comigo e me dando carinho.

Foi importante e necessário e serei grata sempre.

Naquela noite fui deitar cedo para deixar que tudo passasse, que o dia acabasse.

Acordei um pouco melhor no dia seguinte. Domingo. Dia de voltar para casa.

A viagem de volta foi boa. Lenta, por causa d echuva e neblina. Boa.

Demorei mais alguns dias para conseguir voltar ao normal. Não me culpei. Não fui culpada.


Olho para esse dias com muito carinho. Mesmo tendo tido essa crise tão forte eu não acredito que ela tenha estragado nada do que foi. Tivemos momentos maravilhosos, divertidos, e o mais impotante de tudo é que Rebeca ficou feliz com o aniversário dela. Ela se divertiu.

Eu alcancei o meu objetivo de dar a ela dias especiais para que ela lembrasse desse aniversário com carinho.

No meio de tantas coisas, eu recebi muito amor. Muita ajuda.

E se tem algo que eu quero lembrar desses dias é desse carinho.

Quero guardar na memória o amor.

Rebeca agora tem 11 anos.



sábado, 3 de outubro de 2020

Onde esta minha mente?

 Onde está minha mente? Onde está sua mente?

Se podemos dizer que tudo tem seu lado positivo eu quero apresentar uma das coisas mais bacanas que essa quarentena prolongada me trouxe:

Um novo trabalho. Um projeto. Um proposito.

Eu, Taz e nosso amigo Chev decidimos tirar da cabeça e tornar real uma ideia. Começou na cabeça de um, que passou para a cabeça do outro até que, por meios e entremeios, me alcançou e me conquistou.

Onde Esta Minha Mente é nosso projeto. È audacioso, é novo, é uma diversão para nós que criamos buscando levar essa mesma diversão as pessoas.

Com a proposta de oferecer videos interativos, começamos apresentando nosso Instagram: @ondeesta.minhamente, que trará para você as novidades de nossos videos interativos, onde você pode decidir os rumos da história. Teremos Making Offs, curiosidades, e as atualizações do projeto através dele.

Drama, romance, comédia, suspense... Diferentes gêneros, muitas histórias.
Eu entro principalmente na parte de escrever roteiros para levar algumas dessas histórias até você!

Ficou curioso? Entendeu a proposta? Tem alguma duvida? Não perca tempo! Venha conhecer esse projeto!

Acesse agora: @ondeesta.minhamente e clique no link da BIO para nosso primeiro vídeo no YouTube. Ou clique direto na imagem acima para ir para o video inicial!! E aguarde, pois a partir do dia 16 de Novembro teremos vídeos novos toda semana!
#ondeestaminhamente #videointerativo #entendeu #cyoa

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Sobre Rebeca e seus 11 anos

 Hoje foi o dia dela.

11!

As vezes parece que foi ontem, as vezes parece muito mais tempo.

Não sei o que seria da minha vida sem ela. Não me importo. Não queria nada diferente.

Por anos e anos eu me dediquei a ser o que eu sempre achei que ela precisava de mim. Mas agora ela tem 11 e ela anda por um novo caminho, aprendendo a dar seus passos, buscando sua independência e sua identidade.

Com isso eu me vi tendo a chance de ter tempo e disposição pra ser um pouco mais de mim e pra mim e não só pra ela.

Porque hoje ela me acompanha e aprende comigo, e hoje mais que ser seu mundo e seu apoio eu tento ser seu exemplo.

Porque ela talvez sempre seja a coisa mais importante do meu mundo mas agora eu preciso mostrar que o mundo é grande e tem muita coisa nele, sonhos, pessoas, experiências, planos, um mundo inteiro.

Um mundo inteiro pra mostrar pra ela.

Nesse início de pré adolescência, hoje eu comemoro uma etapa nova na nossa jornada.

Parabéns, Bequinha. São 11. E é só o começo, pra nós duas, desse caminho.

Amo você , Jacaré!

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Setembro Amarelo - Sobre como eu comecei meu tratamento

 O Setembro Amarelo é uma iniciativa de ações para aumentar a consciência e as politicas e cuidados em prevenção ao suicidio.

Eu já contei aqui antes sobre partes da minha vida. Sobre como fui diagnosticada pela primeira vez muito cedo, ou de como decidi que queria ser mãe e como o tratamento correto me permitiu fazer isso.

Depois de pensar a respeito por algum tempo eu achei que contar um pouco sobre a crise que me levou a finalmente buscar tratamento de verdade, antes de eu pensar que queria ser mãe, era importante. Especialmente durante o Setembro Amarelo.

Apesar de ter tido meu primeiro diagnóstico muito cedo, aos 13 anos, como PMD - Psicose Maniaco Depressiva - que era como o Transtorno Bipolar era chamado na época. (Sim, faz bastante tempo!) eu só comecei a me tratar de verdade aos 21 anos. Durante toda minha adolescência eu encarava minhas mudanças de humor como parte de quem eu era, como parte da minha personalidade. Muitas vezes como falhas - como a dificuldade de terminar o que eu começava, por exemplo, ou minha insônia e incapacidade de dormir e acordar cedo. - e coisas de adolescente.

Em 2002 algo acontceu que mudou muito minha vida. Minha avó por parte de pai, Angelina, morreu um dia antes do aniversário do meu pai. Na época eu trabalhava fazendo clipagem - uma coisa que não existe mais hoje em dia - e acordava as 4h da manhã para trabalhar. Minha vó tinha cancer de pancreas e todos sabiamos que ela não tinha muito tempo. Naquele dia, as 5h da manhã enquanto eu trabalhava, o telefone tocou e eu atendi. Minha tia, com a voz embargada, me pede para dizer ao meu pai que minha avó falecera.

Ainda hoje eu choro ao lembrar disso.

Eu, chocada, meio desesperada, ouço meu pai descendo as escadas da casa, e chamo ele quase gritando. Digo para minha tia, sem saber o que fazer, para ela contar a ele. Ele vem rapido para o meu lado, preocupado, pergunta o que aconteceu. Eu, já em prantos, entrego o telefone e digo "é a vó".

Dali em diante algo mudou.

No fim de semana anterior meu pai havia ido ver minha vó, se despedir, e me chamou para ir junto. Ele disse: "Di, vamos ver sua avó. Ela não tem muito tempo..." ou algo assim. Era um domingo de manhã, eu havia dormido depois de amanhecer e não queria acordar e sair e respondi: "não, hoje não, eu vou na semana que vem..."

Só que a semana que vem nunca chegou. E eu não conseguia lidar com a culpa.

A partir dai eu comecei a ter crises de depressão e mania cada vez mais frequentes. Eu ciclava com muita rapidez. Saia todos os fins de semana, bebia muito. 

Por mais que coisas boas tenham acontecido naquela época, a forma como eu lidei com essas coisas foi totalmente norteada pela crise profunda que eu estava. Tudo era muito intenso, tudo era muito forte, confuso.

Naquele ano nós tivemos nosso primeiro relacionamento poliamoroso, ou era assim que eu entendia. Saimos da casa dos meus pais para morar juntos exatamente quando eu perdi meu emprego. Ao mesmo tempo que as coisas pareciam ótimas as crises iam piorando. O relacionamento se deteriorava junto comigo e isso fez com que a maioria das pessoas entendesse que era o relacionamento que me fazia adoecer e não o contrário. Na época não entendiamos o que estava acontecendo.

Depois de quase um ano da morte da minha avó eu estava no fundo do poço. A dor que eu sentia dentro de mim era insuportável. Eu tinha episodios de auto flagelo que eu não tinha desde os 13 anos. Eu não conseguia dormir, passava 72h acordada para dormir 4h e depois passar mais 72h acordada. A velocidade dos meus pensamentos era tâo grande que eu mesma não conseguia acompanhar e ter uma linha de raciocinio logico, terminar um pensamento sem entrar com outro no meio. Sentia que no trabalho eu era a unica capaz de resolver problemas que existiam há anos, de forma simples, por que eu era capaz de pensar coisas que ninguém havia pensado antes. Fazia planos mirabolantes para tudo ao mesmo tempo que a dor me dominava e eu chorava por horas. Com medo do relacionamento acabar, porque eu sabia que estava quase impossivel de conviver comigo, eu tinha discussões e mais discussões, suplicava para não ficar sozinha.

Até que em algum momento, num dia igual qualquer outro, eu consegui dormir um pouco mais. E quando acordei, com a mente mais clara do que havia estado no ultimo ano inteiro, eu tive um insight. Eu entendi o que estava acontecendo comigo.

Durante toda a minha infância eu convivi com a minha mãe, primeiro com crises devido a sindrome de panico, e depois com ela em tratamento e melhorando. Eu sabia que eu tinha esse diagnostico desde pequena, eu apenas não havia dado bola pra ele. Mas naquele dia, naquela manhã, eu entendi que tudo aquilo que eu sentia, toda a dor, toda a angustia, toda a agitação, tudo, eram sintomas de uma doença. E que se era uma doença então ela tinha tratamento. Eu entendi que eu poderia ficar bem, que eu podia não sentir tudo aquilo. Eu entendi que eu podia ficar bem...

Eu liguei para os meus pais e pedi que eles averiguassem no livro de referência do meu convênio que eu havia deixado na casa deles o telefone de um psiquiatra. Expliquei o que estava acontecendo, que eu sabia que estava doente e que eu precisava de ajuda, Eles prontamente me ajudaram, me arranjaram o telefone e eu marquei a primeira consulta.

Não foi um começo fácil.

A psiquiatra era muito competente, referência em tratamento de transtornos afetivos fui saber depois, e ela teve muito cuidado antes de fechar o diagnostico.

O que eu aprendi desde ali é que quando chegamos ao psiquiatra pela primeira vez, geralmente em crise, eles fazem uma avaliação durante algumas consultas onde eles analisam não apenas o que falamos, mas como nos comportamos e qual a reação que temos com a medicação inicial que eles passam. Ela trabalhou com algumas hipoteses de diagnostico até fechar com o Transtorno Afetivo Bipolar, ou Transtorno Bipolar de Humor. Na época eu apresentava um quadro de neurose e ansiedade também.

O tratamento começou, começamos testando alguns medicamentos. O importante, inicialmente, ela dizia ser retomar meu sono. Eu precisava dormir. Mas mesmo com a medicação eu não conseguia.

E o cansaço me dominava. E por consequência o desespero.

Eu cheguei a usar maconha como forma de relaxamento para ver se isso me ajudava a dormir. Deixei de usar quando vi que nem isso funcionava.

Com os remédios na minha mão, e com tudo a minha volta ruindo, tudo que eu queria era poder descansar. E fazer as pessoas a minha volta pararem de sofrer por minha causa.

Eu comecei a sair de casa para escrever e respirar. Ia para a padaria perto e ficava lá por horas, sem vontade de voltar para casa. A noite, na hora de dormir, eu exagerava nas doses da medicação para ver se isso me faria dormir por mais tempo e eu finalmente poder descansar.

Até que eu comecei a não sentir nada. Apenas cansaço. Eu só queria descansar.

Nesse dia eu tinha consulta com a psiquiatra. Eu relatei tudo isso para ela. E, melhor do que eu, ela entendeu para onde aquele caminho estava me levando.

E ela pediu a minha internação.

Eu concordei. Eu entendia que estava doente e eu confiava nela. Mas quando ela disse: "Traga seus pais amanhã, vou explicar para eles, e vamos internar você essa semana" eu disse que não "não, essa semana não, eu tenho muitas coisas pra fazer ainda". Ela disse "não é assim que funciona, Adriana. Você pode fazer tudo depois. Agora você precisa se tratar".

E, sabem de uma coisa?

Ela tinha razão.

Eu levei meus pais, meu namorido, e todos entenderam o que precisava ser feito e o que iria acontecer se eu não fosse internada naquele momento.

Eu passei 14 dias no hospital. A maior parte do tempo eu dormi. Eu tomei doses altíssimas de remédio, controladamente, para que eu dormisse o maximo de tempo possível.

Todos os dias a medica ia me ver, assim como meu psicólogo, e ela me questionava sobre como eu me sentia. Especialmente se os pensamentos de morte haviam desaparecido.

Nos primeiros dias eu nem entendia a pergunta direito. Eu achava estranho, porque eu só queria descansar. Mas conforme os dias passavam e eu dormia mais e meus pensamentos ficavam mais claros, eu entendia porque ela havia me internado.

Ela tinha visto o risco que eu estava, silenciosamente, me colocando. Ela tinha experiência para ver o que esses sentimentos de cansaço, de culpa, de desespero, de inadequação, iriam me levar.

Eu acho, olhando hoje, que ela tinha razão.

Mas ela me resgatou. Me internou num momento que sozinha eu não era capaz de sair daquele buraco escuro. E isso foi a luz que eu precisava. 

Eu sai do hospital direto de volta para a casa dos meus pais. Na época eu não sabia, mas eu continuava internada em internação domiciliar. Eles eram responsáveis por mim. Eu não podia ter acesso a minha própria medicação, eles eram responsaveis por me dar cada remedio nos horarios corretos, garantir que eu tomava todos, que eu dormia, e que iria em todas as consultas com a psiquiatra, a cada 15 dias, e no terapeuta semanalmente.

Foram mais 6 meses assim. Eu lembro de flashes dessa época. Lembro que eu tive que reaprender a sentir cada sentimento de novo. Tive que redescovrir quem eu era. 


Mas essa parte da história fica pra outro dia. Por que, a parte mais importante, e eu preciso que você entenda isso, é:

Eu estou aqui. Eu estou bem. Eu tenho uma vida boa, feliz, e satisfatória. 

Eu não estou curada. Eu continuo e sempre terei Transtorno Bipolar. Isso é uma das minhas caracteristicas, uma das partes de quem eu sou. Eu tenho muitas limitações. MAS EU ESTOU AQUI.

Eu tenho algumas oscilações de humor. Mas eu nunca mais tive uma crise tão profunda como essa de 17 anos atrás. Há 17 anos eu fui resgatada de mim mesma. Eu procurei ajuda e eu recebi a ajuda que eu precisava. E por mais dificil que tenha sido, por mais percalços que eu tenha tido no caminho, não desistir do tratamento, persisitir, me permitiu chegar aqui e contar que sim, é possível.

A dor pode passar. Procure ajuda. Consulte um medico, procure fazer terapia com um psicologo, peça ajuda as pessoas ao seu redor que se dispuserem a ajudar. Insista no tratamento. O começo é dificil, demora um pouco para encontrar o seu caminho. Mas é possivel!


Não desista. Você não esta sozinho. E o que eu posso fazer é contar a minha história e esperar que, tendo um exemplo, você possa encontrar a força de buscar a ajuda médica que precisa. Ajuda profissional.

Vou deixar aqui duas informações importantes, o telefone do CVV - Centro de Valorização da Vida, grupo de auxilio e atendimento, e o site da ABRATA - Associação Brasileira de Transtornos Afetivos, onde você encontra informações, e acolhimento a portadores e familiares de transtornos afetivos:

CVV: - disque 188

ABRATA: http://www.abrata.org.br/

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Uma pausa pro café...


As vezes nossa vida parece que nos coloca num turbilhão. São emoções que por vezes não conseguimos conter, que nos paralisam, nos corroem, tornam a convivência algo quase impossível. Seja para nos dar o tempo que precisamos para nos curar, seja para nos proteger e proteger os outros de algo que não podemos evitar, o tempo é muitas vezes nosso maior aliado.

Saber respeitar seu tempo, e o dos outros, dentro do que é possível no dia a dia, é um exercício consciente. 

Saber que não se está sozinho e que outros talvez se sintam como você nesse momento pode pelo menos mostrar que todos temos nossos monstros para lidar.

E não precisamos lidar com eles sozinhos.

Cada um sabe o momento que estar junto é possível. É necessário.

Se você está por aí, saiba: quando conseguir eu estarei aqui pra você.

E vamos tomar esse café juntos...


Por agora, senta, sente o aroma e toma um café quente. Com muito açúcar, pois como diria o Sábio: não existe açúcar demais.

Apenas sinta o perfume das flores e deixe o tempo passar.


Tudo passa. A tempestade também vai passar.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Sobre projetos, planos, e como me perco facil...

Estamos no final de Julho e estamos de semi-quarentena aqui em São Paulo desde final de março. Tudo dura muito mais do que deveria, do que é aceitavel, do que é possivel...

Com a quarentena Taz não pode ir trabalhar. Ele trabalhava dirigindo transporte escolar e estava transitando para passar a ser motorista de aplicativo. Haviamos acabado de fazer um investimento voltado pra isso quando a quarentena começou. Com o Corona virus tão disseminado na população ele continuar trabalhando com isso é arriscado demais e ele é basicamente o suprassumo do grupo de risco: homem, obeso, hipertenso, pre diabetico e asmatico.

Não, sem chances, se expor é arriscado demais.

Mas então fazer o que?

Temos alguns projetos em andamento. Temos planos. Muitas ideias. E outras tantas surgem a todo momento. Poucas, infelizmente, chegam a uma conclusão. Nenhuma delas é para retorno imediato.

E eu me vejo perdida no meio das ideias, tentando produzir algum conteudo aqui e ali nas diversas frentes que se apresentam. Tento focar e isso me parece impossivel. As vezes passo dias sem conseguir fazer algo concreto para ter dois ou três dias de maior produtividade. Mesmo assim não consigo concluir nada e a sensação de frustração cresce.

O dia a dia cobra minha presença, minha atenção. A rotina, a casa, as contas, o marido doente, a escola da filha...

Esse fim de semana eu não fiquei muito bem. Esses ultimos dias... E o que houve foi que eu quis fugir e me esconder onde encontrei conforto. Me desligar da realidade por algumas horas, alguns dias, me perder nos momentos de aconchego. Dengo.

Mas se é facil me perder nessa vontade, é o oposto voltar a cabeça para o que precisa ser feito.

Tento não me cobrar demais. A verdade é que me cobrar me culpando pelo que não fiz, ou pelo que fiz e não deveria ter feito, ou por me permitir, não leva a absolutamente lugar nenhum. A culpa nunca nos leva a lugar nenhum que seja bom.

Chacoalho a cabeça tentando afastar esse sentimento. Deito a cabeça no travesseiro e durmo o maximo que posso. Sim, essa é a resposta para os momentos de angustia, dormir. Meu mais fiel tratamento, sempre funciona, é apenas uma questão de dose: algumas noites a mais ou a menos, mas sempre funciona.

Acordo no dia seguinte com a energia renovada, com a cabeça mais limpa, e procuro encontrar na tela do computador o foco perdido.

Temos planos, projetos, ideias, e eu quero poder fazer o que depende de mim, o que eu me propus, o que me diverte e me faz sentir mais util.

Mexo no site aqui, escrevo mais um pouco ali... Coordeno a criação de uma musica. Coordeno as pessoas a minha volta, organizo a rotina da casa, me mostro disponivel para ajudar um amigo.

Faço café.

Farei um pouco mais hoje. O importante é não desanimar e continuar em frente, mesmo que devagar.

Apenas levantar e continuar em frente.

Tomo meu café e escrevo. Isso me preenche. O café é doce.

Não existe açucar demais.

segunda-feira, 20 de julho de 2020

Sobre o medo do Corona Virus

Essa semana que passou o Taz, meu marido, ficou doente.

Começou na noite de segunda feira. Ele havia saido para acertar umas coisas do projeto que estamos montando e quando voltou no meio pro fim da tarde reclamava que se sentia mal. Uma dor de cabeça e dor de garganta.

Naquela noite ele já estava um pouco febril, mais quente que o normal, na hora de dormir. Na manhã de terça ele mal conseguia levantar devido a dor no corpo, nas juntas, e a falta de força. A garganta doia muito e ele estava com dificuldade para engolir. A respiração também estava dificil e ele, asmatico, se cansava muito rapido.

Nós já estavamos preocupados e ficamos sabendo que a familia de uma pessoa que tivemos contato apresentava sintomas de COVID semelhantes aos dele. Nosso alerta tocou e ele tentou ir ao PS pela primeira vez.

Antes de tentar ir no PS ele fez uma teleconsulta com um medico credenciado do convenio. O medico não passou nem pedido para exames e nem medicação, disse apenas que ele deveria ir ao PS. Ou seja, não ajudou em nada. Ele foi para o PS...

A primeira tentativa foi em um hospital particular da nossa cidade que atende pelo nosso convenio. Ele chegou lá para fazer a triagem e logo foi informado que o hospital estava lotado, que eles não estavam fazendo o exame de COVID e o encaminharam para o hospital municipal.

No hospital municipal não foi diferente. Também lotado, o encaminharam para um PS de bairro. Mas avisaram que também não estavam efetuando os testes.

Cansado, frustrado, e sabendo que não iriam nem investigar seu caso, ele voltou pra casa. Pensamos em fazer o exame num laboratorio particular, mas nossa filha mais velha que mora com a mãe insistiu que ele tentasse ir ao PS que costumamos leva-la em SP. Referencia do convenio ele teria mais chances de ser atendido lá.

Na quarta feira, ainda muito mal, com febre a noite toda, sem conseguir dormir por não respirar direito e com muito medo, ele foi ao PS de referencia. Lá ele foi atendido. Bem atendido.

Passou pela triagem, o admitiram, a medica achou o caso suspeito e pediu alguns exames: sangue, raio-x, exames de COVID. Com os resultados, passaram uma medicação para diminuir a febre e a dor, a médica disse que acreditava não ser COVID por faltarem alguns elementos chave no quadro já que o pulmão dele parecia limpo. Mas o exame de COVID ainda não estava pronto, só sairia o resultado dali alguns dias. Ela o tranquilizou, pediu que voltasse para casa e tomasse a medicação que ela iria prescrever corretamente e repousasse, evitasse sair de casa pelo menos até o resultado do exame ficar pronto. No entanto se em 3 dias ele não apresentasse melhora e continuasse com febre e falta de ar que ele retornasse ao hospital pois ela iria interna-lo.

Perguntou se ele entendia, ele disse que sim.

No mesmo dia compramos os remedios - antibiotico, antinflamatorio, anaslgesico. Ele começou a tomar logo que compramos.

Na noite de quarta para quinta ele ainda teve febre mas suou a noite toda, efeito da medicação, e acordou na quinta feira sem febre.

Nós não estavamos preparados para ficar totalmente sem sair e eu precisei pedir ajuda a um amigo para ir comigo fazer compras de modo que pudessemos ficar em casa. Esse amigo já havia sido exposto a nós em outros dias da semana anterior e estava disposto a vir ajudar. Foi importante e nos trouxe tranquilidade muito mais do que apenas a parte pratica do ir e vir. Isso permitiu que Taz ficasse na cama e descansasse bastante.

Na sexta feira Taz já acordou muito melhor. Com os remedios começando a fazer efeito a febre não apareceu mais, a respiração começou a melhorar e a garganta já doia muito menos e ele já conseguia se alimentar melhor. Ja estava bem mais disposto e conseguia falar e conversar um pouco mais apesar de se cansar e perder o folego se insistisse muito.

Sabado... Domingo... No Domingo Taz já parecia outra pessoa. Ainda cansado, mas de bom humor, conseguia ficar muito mais tempo acordado e bem disposto. Brincou com o cachorro, insistiu em leva-lo para passear, lavou um pouco da louça, fez varias video chamadas com os amigos, conversou com nosso amigo, que como eu disse antes estava aqui nos ajudando esse dias, por muito mais tempo. Jogaram jogos de celular juntos. Sorriu. Deu risada.

No domingo a noite o exame dele de COVID ficou pronto e eu pude pegar o resultado pela internet: Negativo. Ele não esta com COVID. Foi um alivio. Como se fosse tirado uma sentença de suas costas. O medo é algo muito poderoso e muito pesado de se carregar.

Desviamos dessa vez. Demos sorte essa é bem a verdade.

Não podemos ficar em casa o tempo todo. Não podemos mais nos dar a esse luxo pois precisamos voltar a ter uma renda mais substancial e não apenas um auxilio e a ajuda de outras pessoas. Seguimos a quarentena como possivel mas chegamos ao limite e tivemos que traçar um plano de exposição e risco controlado. Mesmo assim, ele ficou doente e foi o medo que pairou como uma nuvem durante toda a semana aqui. Nossos amigos que estavam a par de sua condição de saude e de nossos receios acompanhavam de longe também apreensivos.

Como lidar com essa situação? Como lidar com a ineficacia dos protocolos que deveriam ser seguidos por não poder mais ficar em casa? Como lidar com o medo e com a responsabilidade? E com o medo de ser você o responsavel por eventualmente levar essa mesma vivencia para outras pessoas, outros lugares, outras familias que talvez não tenham a mesma sorte que você?

As coisas poderiam ter sido diferentes por aqui. É importante que saibamos disso.

Eu preferia não ter vivido isso e ao mesmo tempo estou grata por ter sido só um susto. E que ele me lembre que é importante continuar se cuidando. Mesmo que aqui a gente continue não podendo ficar mais em casa e ter que continuar com a nossoa propria flexibilização, no tempo certo quando Taz estiver recuperado totalmente... Extendendo nossa quarentena a poucos lugares e encontrando poucas pessoas de forma controlada, pessoas essas que também estão cientes do risco e aceitaram essas condições.

Mas não deveria ser assim. Não mais. Não depois de tanto tempo...

Me desculpem se nem sempre podemos ser um exemplo do ideal. Aqui trabalhamos com o possível.

Então, se pra você for possível, fique em casa.

sábado, 4 de julho de 2020

Daquilo que nos faz parar e da dificuldade de recomeçar

Olá! Quanto tempo não? Pois é... Hoje eu vou contar porque eu sumi de novo...

Eu fiquei doente no final do ano passado.

Foi isso que me fez parar de escrever no blog novamente.

Quando eu finalmente me recuperei e estava voltando a ter saúde física e mental para retomar nossos encontros a quarentena começou. E ai não houve saúde mental que desse conta...

Começou no final de Novembro. Um desarranjo intestinal. Deve ser algo que eu comi, logo passa. Mais uma semana, duas... Está piorando. Vou ao banheiro diversas vezes ao dia. Chega perto do Natal, a comida começa a ter um gosto diferente. Sinto pouca necessidade de comer. Deve ser a mania... Sim, sem duvida estou numa crise de mania, dormindo bem pouco, comendo pouco, muito ativa, com o egocentrismo correndo louco assim como gastos excessivos... Deve ser a mania...
Mas o desarranjo intestinal continua... Falta uma semana pro Natal... Melhor ir ao médico...

Fui ao pronto socorro. Uma bronca leve por demorar tanto para ver um medico, ele me passa um antibiótico. Começo a tomar e tenho uma crise fortíssima de labirintite. Vou ficar com labirintite no Natal? De jeito nenhum, o Natal vai ser na minha casa! Depois das festas de fim de ano eu passo no medico de novo e peço por um antibiótico diferente pra tomar que não me de esse efeito colateral...

Natal em casa muito bom, Ano Novo maravilhoso com uma festona com os amigos no salão de festa do prédio! Ta tudo bem!

Mas o desarranjo não passa e eu me sinto cada vez mais fraca. Não consigo comer um prato de comida inteiro. Não consigo mais tomar Coca-cola. Mas eu sou viciada em Coca-cola! Não importa, não da, tem um gosto horrível. Hora essa, mas eu queria ha anos tirar a Coca-cola da minha vida, nem que fosse pra trocar por outro refrigerante, mas me livrar desse vicio. Ha males que vem para o bem... Mas é melhor ir ao médico de novo...

Volto ao PS e o médico é categórico: preciso ir em um especialista pois eu devo estar com algo grave. Não é normal uma pessoa ficar mais de 6 semanas como eu estou. Concordo, marco um gastro.

A médica que me atende é muito simpática e diz que o que eu tenho é muito sério, pode ter diversas causas, umas mais simples outras bem complicadas e ela precisa que eu faça exames para eliminar as possibilidades e ver o que esta acontecendo.

Faço os exames. Ultrasom, exames de sangue, colonoscopia... Não consigo fazer a colonoscopia, fico com medo, tenho crises de ansiedade, demoro, e quando finalmente faço o exame, em fevereiro, não consegui fazer o preparo corretamente. Tem que refazer.

Decido seguir a recomendação médica e efetuar o exame em ambiente hospitalar. Meu medo era de não aguentar o jejum, ter uma crise de hipoglicemia, do preparo piorar ainda mais minhas condições. Fazer o exame num ambiente mais controlado ajuda a lidar com a crise de ansiedade que me causa todos esses medos exagerados.

O exame da certo, retorno na médica, eliminamos todos os suspeitos mais graves, sobrou uma indicação no exame de sangue como vilão: tireoide. Hipotireoidismo em uma apresentação atípica. Agora tem que ir no endocrinologista e começar a medicar. Vai tomar mais um remédio pro resto da vida...

Endocrinologista simpática, atenciosa, concorda com a interpretação do exame, e com a avaliação de um quadro atípico, começa a medicar, volte daqui 3 meses pra refazer os exames.

Isso era meio pro final de fevereiro. Foram mais de 10 semanas passando mal. 12 quilos a menos.

Poucos dias tomando a medicação e o corpo já começa a reagir e a voltar ao normal... Março chega e o desarranjo finalmente passou e eu consigo me alimentar um pouco melhor a cada semana.

Não voltei a tomar Coca-cola.

Consigo pensar em outras coisas. Voltar a levar a filha no clube para as aulas de dança... Marcar de retirar aqueles sisos que estão esperando desde o ano passado... Minha disposição começa a melhorar, durmo melhor...

Pandemia...

Medo de sair, medo de ficar em casa e não conseguir se manter. Culpa. Paciência e resiliência... Vai passar se todo mundo fizer a sua parte.



Estamos em Julho. A Pandemia continua e cada vez mais forte, muitas mortes, descaso do poder publico... Mas eu estou bem agora.


Mesmo. Eu estou muito bem!

Depois dos primeiros dois meses de quarentena instável e  depressiva, vendo que precisava de energia extra, provoquei uma virada no humor. Sabia o que devia fazer para provocar um quadro de leve hipomania.

Sim, estou em hipomania agora. Tenho dormido menos, acordado cada vez mais cedo, tenho disposição e bom humor na maior parte do tempo. Com isso consegui ter a iniciativa necessária para planejar e desejar e colocar esses planos em andamento para se tornarem ações, desejos se tornarem objetivos.

Mas estou bem. Depois de tudo que passei nesses meses doente, fisicamente doente, me sentir bem novamente, feliz, é uma conquista enorme.

E hoje pela primeira vez desde que toda minha saga de saúde começou em Novembro eu finalmente consegui vir até aqui e contar essa parte da historia pra vocês.

Quem diria...

E vocês? Como vocês estão?

Senta, puxa uma cadeira, sinta-se em casa! Tenho tanta coisa pra contar ainda....