De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Sobre gripe, sono e sintomas


 Estou gripada faz 2 semanas. Uma gripe bem feia, bem forte, como não tenho há mais de 7 anos. Comecei à melhorar um pouco ontem, depois de passar dias evitando um tratamento que me indicaram no segundo dia.

E achei que valia a pena falar um pouco sobre isso. E com “sobre isso” eu quero dizer com como pequenos sintomas relacionados à bipolaridade podem aparecer sem a gente perceber em momentos de vulnerabilidade e irem crescendo.

Vou começar dizendo que eu praticamente nunca fico doente. Eu não lembro a ultima vez que tive febre, tosse deixou de ser um problema na minha vida quando parei de fumar após o nascimento da Rebeca (alias, eu preciso fazer um post sobre isso com 7 anos de atraso né?) e fico resfriada  1 vez por ano.

Então, considerando isso, essa gripe que estou agora me pegou de um jeito que eu não estava esperando. Eu havia acabado de sair do meu resfriado anual, meio forte, e já achava que tinha deixado isso pra trás, quando um descuido bobo – dormir com o ventilador ligado e voltado pra cima de mim numa noite que esfriou bem mais do que eu estava obviamente esperando – possibilitou que essa gripe viesse e se alojasse com mala e cuia.

Quero dizer que pela primeira vez na vida estou sem convenio médico, e que apesar do atendimento na UPA perto de casa não ser aquele caos digno de televisão, todo mundo sabe que tem que sentar e esperar horas a fio pra ter um atendimento.

E toda mãe sabe que você não leva, e portanto também não vai, no PS por qualquer gripe pra na correr o risco de pegar uma bactéria mais forte por exposição.
Então eu não fui no médico. E to lutando pra me tratar em casa sem ir ao médico até agora.

Mas a tosse foi ficando cada vez pior, a sensação de fraqueza aumentando, a dor de cabeça, as tonturas, e nada de melhorar...
E com tudo isso, eu não consigo dormir direito. Vocês ai todos sabem bem como é, você tosse metade da noite ao invés de dormir, e quando dorme ta tão mal posicionado pra ficar com a cabeça alta que acorda mais cansado do que quando foi deitar.

Essa é a parte igual pra todo mundo.

O que eu acho que não é igual são os motivos que levam as pessoas a fazerem ou deixar de fazer certas coisas.

No segundo dia meu marido já estava me indicando a tomar um remédio pra soltar toda a secreção que claramente se alojava no meu nariz e garganta. No terceiro dia meu pai disse a mesma coisa. E eu negando, dizendo que era só uma gripe, que só precisava de um antigripal e que logo ia passar.

O que eu falava meio escondido é que eu não queria tomar o remédio com medo que a secreção descesse para o pulmão e eu ficasse com uma pneumonia num momento que estou sem convênio medico.

Não que existisse uma única possibilidade disso acontecer. Mas eu imaginava que sim com tanta força que não aceitava tomar o remédio.

E isso foi ficando pior a cada dia que eu dormia mal e pouco.
Depois de na ultima quinta feira eu ter uma crise de tosse que durou 1h inteira enquando eu tentava colocar a Rebeca pra dormir, e com isso assustar a todos eles- meu pai, meu marido e minha filha – meu pai sugeriu que eu passasse Vick Vaporub nos pés para acalmar a tosse e conseguir dormir.
Não tive coragem.
Alias ainda não tenho.

Mas naquele dia meu raciocínio era de que eu estava a 10 dias tomando um antigripal que tem como efeito colateral de seu principio ativo afinar o sangue. O Vick Vaporub iria dilatar os vasos sanguíneos. E nos cálculos mentais essa soma não me parecia algo seguro de se fazer e eu não tive coragem.

Adicional a isso eu tinha medo de, como a Rebeca estava dormindo comigo, ela respirasse o vapor do remédio e tivesse alguma reação estranha visto que nunca usei esse remédio nela e não sei se elea tem sensibilidade ao mesmo.

Agora somem a isso que leram o sentimento de medo desproporcional, e impotência por não conseguir agir, e cansaço e desespero.

Na sexta eu cedi, tentei passar o tal remédio nos pés, e tive uma crise desencadeada por isso que me manteve semi-acordada a noite toda com medo.
Medo de morrer.

Sério, nesse nível.
Daí a partir de sábado, ciente que esses medos eram na verdade sintomas que estavam se agravando, não da gripe, mas da minha ansiedade e bipolaridade, consegui ser mais racional e seguir o tratamento que eu estava evitando fazia 10 dias por causa deles.

Comecei a tomar o remédio para diluir a secreção, parei com o antigripal ficando apenas com o analgésico para aliviar os sintomas, e descansei o fim de semana todo, de molho no sofá.

E estou finalmente conseguindo dormir melhor, respirar, e ter um pouco mais de voz de novo. Me sinto melhor, mais bem disposta, e sem duvida mais calma.

Mas o medo ainda não passou.

E a depressão ta forte como um retorno do stress, tensão, e problemas reais que não deixaram de existir.


Mas eu estou finalmente melhorando da gripe e tendo uma perspectiva de ficar boa logo.

E foi essencial saber que todo o medo, o nervoso, e as coisas que estava imaginando eram criações da minha cabeça alimentadas por noites mal dormidas e um quadro de ansiedade.

E esses sintomas, como todo o resto, também vão passar com o tratamento adequado.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Aquele sobre o aniversário

Rebeca fez 7 anos.
Foi uma festança, com vários amigos, familiares, colegas de escola. Foi bom. Foi como ela pediu que fosse.

Começou com café na cama. É uma tradição aqui, nos dias de comemoração, ganhar café na cama. Ela nunca esquece. Faz questão, não só de ganhar o dela, como de dar o meu e o do pai em nossos respectivos aniversários e datas comemorativas.

Enfim, teve café na cama.  Teve ovo mexido, salsichas, pão na chapa, leite com chocolate, suco e frutas. Tudo arrumadinho na bandeja e colocado ao lado da cama.

Aos 7 anos, Rebeca ainda tem dormido comigo na cama. Reveza dias que dorme na minha cama comigo e na cama dela com a boneca. Estava aceitando voltar para o próprio quarto até eu ter a brilhante ideia de levar ela comigo no velório do meu tio E deixar ela ver o caixão. Falemos das coisas idiotas que fazemos, não? De lá pra cá ela agora esta voltando a aceitar dormir no quarto dela, de vez em quando. Faz parte, a gente entende e da o tempo dela ganhar confiança de novo. Agora com o calor deve ser mais fácil, e vamos levando.

Mas Rebeca fez 7 anos.

Depois do café da manhã, teve festa na hora do almoço com direito a salgadinhos diversos, macarrão de almoço, docinhos, bolo preparado pela mãe, uma playlist de mais de 5 horas com as músicas que ela tem ouvido no ultimo ano, e uma retrospectiva desses anos que passaram. E amigos, família e colegas de escola, como eu já disse.

E que lição de vida que foi esse bolo!

Ela pediu que eu fizesse o bolo de aniversário dela, como eu faço todos os anos. Mas eis que tudo resolve dar errado... Vou fazer o bolo, ela vai me ajudar, tudo estava correndo bem, iríamos fazer 2 massas separadas pra poder rechear. Vai pro forno e... o forno está com problemas e apaga sozinho no meio do tempo, e mesmo reacendendo o mesmo, a massa fica solada e inutilizável. Tira a massa solada, coloca a fornada de cupcakes que iríamos levar pra festa, feitos com cuidado. Mas a temperatura do forno ficou alta demais depois de ter sido reacendido e o cupcake ferve ao invés de assar, e basicamente explode na forma, tendo no fim mais massa espalhada que dentro do copinho.

Eu fico arrasada. Mas muito mesmo. Frustrada, me sentindo mal, por que sei que não terei tempo ou energia pra fazer tudo de novo, a começar por não ter todos os ingredientes disponíveis.

E choro. Mesmo, doído, sentido. Todo mundo em casa tenta me dar uma palavra de apoio. Eu peço desculpas pra Rebeca que, calma e com um sorriso no rosto, me diz que esta tudo bem e que vai ficar tudo bem.

A todos eu reafirmo: Vou fazer de novo, até dar certo, só preciso desabafar e me acalmar.

Passadas algumas horas, volto pra cozinha e tento uma receita diferente pra tentar usar apenas o que eu ainda tenho disponível.

Chamo Rebeca pra me ajudar de novo. Ela diz que vai ficar só olhando, pra não me atrapalhar de novo.

Então eu percebo que ela se sentiu culpada.

Falo pra ela me ajudar sim, que não tem problema, que ela não havia feito nada de errado da outra vez e que o bolo não ter dado certo não foi culpa dela. Expliquei sobre o problema do forno e a questão da temperatura. E também disse que eu estava triste sim, e com medo de não poder dar a ela o que eu havia prometido, mas que eu não ia desistir, e que não importava quantas vezes eu precisasse refazer aquele bolo, eu ia continuar tentando até dar certo.

Ela então me ajudou a fazer a massa, quebrando ovos e mexendo a mistura, acrescentando os ingredientes. Animada. Massa no forno, não cresceu o que devia, mas deu certo o suficiente para ser usado na festa. Fizemos o recheio e a cobertura, deixamos tudo esfriar e montamos o bolo. E pode não ter sido o melhor bolo que eu já fiz, nem o mais bonito, mas ele serviu ao seu propósito.

E Rebeca fez 7 anos.

Depois da festa, recebemos os amigos em casa até tarde, jantamos pizza. Fazia parte dos nossos acordos de aniversário familiares que cada aniversário teria como tema um país. E o dela era Italia. Então o almoço foi macarrão, a noite pizza e o almoço de domingo finalizaria suas comemorações com uma boa lasanha.
E foi o que fizemos.

E ela brincou muito, e se divertiu e ganhou presentes.

E fez 7 anos.

terça-feira, 20 de setembro de 2016

Sobre ser mãe de uma menina de quase 7 anos

Ok ok, eu sei, os posts estão mais espaçados que as chuvas no inverno... Desculpem, de verdade.
Como eu disse, depois que a gente para é difícil retomar o habito de escrever. Mas tenho um evento muito importante chegando e eu queria falar um pouco sobre como esta a vida de ser mãe da Rebeca nos últimos tempos.

Rebeca está para completar 7 anos de idade.

Gente, ela já vai fazer 7 anos!

Eu me surpreendo com isso todos os dias. Parece que foi ontem... Sim, é um clichê, mas é tão verdade!
Minhas lembranças ficam indo e voltando na memória, sem seguir ordem cronológica nenhuma.
Ás vezes me lembro de coisas marcantes da minha vida que aconteceram há 12 anos atrás como se tivessem acontecido a no máximo 2 ou 3 anos. E de repente quando me dou por mim, passou-se mais de uma década e na verdade a minha vida pós Rebeca já tem 7 anos!

Eu queria falar mais no blog sobre a rotina de ter uma menina de 7 anos em casa. Por que na verdade eu sinto que na blogosfera materna se fala muito pouco sobre crianças nessa faixa etária. Temos muitas mães e alguns pais que falam sobre como é a vida de estar grávidos, de ter um recém nascido em casa, até os temíveis ”terrible two”, mas a verdade é que pra cima dos 3 anos os blogs vão sumindo. Aliás, eu me incluo nisso, viu!
Fico imaginando que aconteceu com essas pessoas o mesmo que aconteceu comigo: as atividades foram ficando mais frequentes, com os filhos na escola foi-se entrando numa rotina, e muitas vezes momentos que se tornariam posts no blog passaram a ser mais vividos do que registrados.

Mas eis que, ressurgindo das cinzas, nós lutamos para dividir um pouco dessa experiência.

E hoje quero contar uma coisa que ocorreu ontem pela manhã. Por que tem a ver com ser mãe de menina. De ser mãe de uma menina de 7 anos nos dias de hoje. E de como certos assuntos que não deveriam fazer parte do di a dia de nenhuma criança de 7 anos hoje é tido como normal...
Eu estava no computador ontem pela manhã, pouco ante do almoço, quando Rebeca que brincava no quarto de se vestir e se arrumar me aparece na sala coberta dos pés a cabeça com um lençol, choramingando.
Pergunto a ela qual o problema e inicialmente ela não responde. Insisto um pouco, pergunto por que ela se cobriu toda, por que está choramingando.

Ela então me responde que não esta se sentindo bem com seu corpo, que está se sentindo feia.
Eu a chamo pra perto de mim e peço que ela me deixe ver como está vestida. Por debaixo do lençol e de um casaco que escondiam seu corpo, ela estava com um shorts e a parte de cima de um biquíni que já não serve nela há quase um ano. Pergunto pra ela o que no corpo dela faz ela se sentir mal, e ela, olhando pra baixo, aponta para sua barriga.

Eu lhe dou um abraço, e digo que ela não é e nem está feia. E que não há nada de errado com sua barriga. Que sim, ela tem uma barriguinha maior que a de algumas colegas dela sim, mas que isso não é nem feio e nem errado.
Converso com ela, explico que o biquíni que ela colocou é muito pequeno para seu corpo, e isso faz com que ele fique apertado e faz com que seu corpo pareça maior do que é. Que aquele biquíni não serve mais nela e que por isso ela não iria se sentir bem com ele mesmo, e que é normal que nós procuremos roupas e maiôs que sirvam corretamente no nosso corpo conforme crescemos e valorizam nossas formas e tamanho.
Falei que cada pessoa tem um tipo diferente de corpo, e que algumas pessoas são maiores que outras, que tem o corpo mais largo e outras o corpo mais fininho, e que isso são características que são passadas de pais para filhos. Disse que ninguém é igual a ninguém. E que isso não faz ninguém mais feio ou mais bonito.
Ela me disse que ela era maior que as amigas dela, que elas eram mais magras.
Eu expliquei mais uma vez que as pessoas não são iguais. E que ser mais magro não é necessariamente ser mais bonito ou mais saudável. E que ela é maior sim, que as outras meninas, mas que ela não pode ser considerada gorda, por que ela é mais alta que as outras meninas, então é normal que ela seja maior. E que se ela continuar se alimentando de forma saudável e fazendo atividades físicas, isso não é algo que ela deva se preocupar.
Expliquei que ela vem de uma família que tem o corpo grande como característica. E estou falando de grande mesmo, com os ombros e quadril largos, pernas longas e grossas, e que ela mesmo magrinha teria um tipo físico maior que de suas colegas.
No fim da conversa, procurei na internet imagens de um filme que ela gosta muito, o “Descendentes” da Disney. E usei as duas atrizes principais para fazer uma referência visual ao que estávamos falando. São duas atrizes muito bonitas, mas com tipo de corpo diferente, sendo uma menor e com o corpo mais estilo mignon, e outra mais alta e com o corpo mais largo, com traços mais definidos. Mostrei que as duas são lindas, que as personagens tem várias características, e mostrei como as roupas usadas por cada uma era diferente valorizando o que cada corpo tinha a seu favor.
Inicialmente ela entendia que uma das atrizes ser maior significava necessariamente que ela era mais gordinha. E aí fomos buscar outras imagens na internet pra ver que não tinha a ver com gordura e sim com tipo físico.
Paramos a conversa, almoçamos, saímos, o dia foi passando. Mais tarde mexendo no celular encontrei uma noticia que falava da vice-campeã do concurso de miss Itália, que estava causando uma controvérsia, pois não se tratava de uma mulher nos padrões atuais de modelos de moda, super magras, mas pelo contrário, era uma mulher linda, cheia de curvas, que usa um manequin 46 – praticamente o que eles chamam de plus size.
Resolvi usar isso para mostrar pra Beca que existem mulheres lindas por ai, que ganham concursos de beleza, ficando em segundo lugar, e são não apenas grandes, mas gordinhas sim, com barriguinha, e pernas grossas, e peitos grandes e tudo isso. E que são lindas. Tão lindas ou mais do que as modelos muito magras.
E falei que a mãe dela é linda. É gorda sim, e bastante. Mas é linda. Se ama. Tem saúde. É inteligente, capaz, e tantas outras coisas. E que tudo isso se soma para ser uma pessoa completa e incrível.
E que ela é incrível. Linda, alta, fofinha, inteligente, esforçada, dedicada, determinada, educada. E isso faz dela incrível.

Mas por dentro eu só conseguia me questionar o que estamos fazendo para que uma criança de 7 anos ache seu corpo feio e inadequado, e se compare – por que ela fez isso! Ela me disse! – ao corpo de uma boneca como se aquele fosse o ideal de beleza.

E acho que precisamos falar mais sobre isso.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Para minha filha...

Quero que você saiba reconhecer limites, e que argumente comigo porque eles devem ser flexíveis.

Quero que você seja educada e gentil, mas que sempre tente entender os motivos de se fazer cada coisa. E argumente comigo se não concordar. 

Quero que você seja curiosa, e que me pergunte tudo sempre que quiser, mas que saiba identificar o limite das outras pessoas também. 

Que você queira muitas coisas, e que me pergunte e lute para alcançar cada uma delas. 

Quero que você tenha saúde, física e mental, e encontre prazer nas coisas que te permitirão isso. 

Quero que você seja feliz, e entenda que pra ser feliz não precisamos fazer o mal as outras pessoas. 

E quero que você faça isso no seu tempo, cada coisa na idade e no momento que você estiver pronta pra elas, e que entenda que o tempo de cada um é diferente e que não a nada de errado nisso. 

Quero que você saiba que todos são diferentes, e isso torna a nós todos iguais e merecemos receber respeito e oferece-lo.

Quero que você alcance seus sonhos e que você tenha exemplos próximos pra te mostrar que é possível. 

Quero que você ame a si mesma e encontre alguém para amar e ser amada. 

E que saiba que eu te amo também...

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Férias, Olimpíadas e Luto - Ou por que demorar tanto entre um post e outro!

Eu sinto muita vontade de escrever. Juro! Mas a verdade é que muitas vezes eu não sei o que contar... Parece meio bobo apenas falar da minha rotina, tão singela... Ao mesmo tempo que Rebeca aos 6 anos tem tiradas ótimas que me enchem de orgulho! Mas eu fico sempre achando que tenho que falar de coisas grandes, importantes, especiais.

Ou, eu admito, eu deixo pra escrever depois, depois, e em algum momento eu preciso escolher: vou escrever ou vou dormir?

E desculpem os leitores, mas dormir pra mim é sagrado!

É meu segundo remédio, sério mesmo. E lido com meu sono com essa seriedade.

Mas eu me comprometi a voltar a escrever, então, sou brasileira e não desisto nunca, estou aqui!

Passaram as férias, e se você já tem filhos sabe que entreter filhos e escrever em blog é missão quase impossível. Sei de blogueira que deixa post agendado antes das férias pra não desapontar leitores e conseguir manejar a vida durante as férias. Essa, claramente, não sou eu. Eu me perco, me canso, e vou deixando pra depois.

Ah a arte de deixar as coisas pra depois...

Agora, as férias acabaram, mas minha irmã esta de visita aqui em casa, tem as olimpíadas pra assistir na TV, tem o sono pra colocar em dia...

E tem o luto. Dessa vez em menor intensidade? Sim, não vou mentir. Mas ele esta aqui...
Meu tio, meu padrinho, faleceu a poucas semanas atrás. Ele estava bem velhinho, 89 anos, e com problemas de saúde graves desde que teve um AVC 3 meses atrás, do qual ele nunca se recuperou totalmente. Eventualmente o corpo cedeu, e ele se foi. Descansar, acredito, depois de sofrer um bocado.

A verdade é que é mais fácil de lidar com a partida de alguém de mais idade e por complicações de saúde. Mas mesmo assim, existe uma parte que fica sentida, machucada e que precisa de mais tempo.

Eu não tive coragem, infelizmente, de visitar meu tio enquanto ele estava no hospital. Mais do que uma falta com ele, o que já considero grave, foi uma falta com minha tia e primos, tão queridos. Eu gostaria de pedir perdão a eles por minha covardia. Mas eu sabia que não tinha condições de lidar com isso,..

Agora acabou, e temos que nos concentrar nos que por aqui ficam. E nos dedicar a quem nós temos mais próximos.

E tudo bem;

E com todas essas coisas, eu demoro a vir dar notícias. Demoro a dar um alô, a contar um causo.

Minha irmã disse que eu preciso tomar cuidado para não deixar o blog muito mórbido, com posts tão centrados em assuntos ruins. Mas o que fazer?

As coisas tem o peso que tem, e eu tenho que ser verdadeira aqui, sobre como tem sido viver dentro de mim.

E não que eu esteja sempre pensando no que eu perdi. Mas a verdade é que, de uns anos pra cá, eu tenho me concentrado muito mais em viver as partes boas do que falar sobre elas.
É uma mudança muito grande. Mas aos poucos eu fui me libertando, eu acho, e me permitindo viver mais intensamente esses momentos.

Deixei inclusive de tirar fotos!

Ok, isso eu não queria ter deixado de fazer, mas é que eu não gosto de fotos tiradas com celular e minha câmera fotográfica quebrou e ai... Verdade seja dita, não tive dinheiro ou considerei prioridade comprar outra. com isso, fiquei mais preocupada em guardar os momentos na memória, e acho que isso afetou o blog também. Eu escrevo menos sobre o que vivemos, e tento desabafar mais sobre o que perdi.

Mas, ó, tem coisa boa, tem coisa boa acontecendo todo dia!

E eu sou tão grata a tudo! A cada momento, a cada pessoa...

Mas a gente chega lá... É só continuar escrevendo...

quarta-feira, 13 de julho de 2016

E tem dias e dias... Ou... Coisas felizes também precisam de um tempo de adaptação...

Não quero ficar muito tempo sem postar nada no blog. Mas férias é férias e eu acabo me distraindo, ficando menos no computador... Coisas da vida.

Mas hoje eu acordei azeda. Meio triste. Num daqueles dias que você quer apenas dormir e deixar que ele passe só e apenas por que... Por que as vezes esses dias existem, e não tem muito o que fazer.

É um dia de baixa, um dia pra baixo, um daqueles dias que por mais que a gente se esforce, sabe que é melhor ser deixado quieto no canto, se recuperando... Recuperando do que exatamente?

As vezes eu acho que é o peso do mundo, por que nada mais faz sentido. Não do mundo inteiro, mas do meu.

No meu caso eu tenho 2 fatores fortes pra hoje ser assim: no fim de semana visitamos uma tia minha e Rebeca ganhou um cachorrinho de presente.

Isso é uma coisa boa. Nossa, estamos felizes demais! O cachorrinho, que batizamos de Chewie (Chewbaca, do star wars) é uma graça. muito alegre e extremamente fofo. E Rebeca não poderia estar mais contente.

Ela passou os últimos dias brincando muito com ele, se divertindo, e cuidando com todo carinho. Deu banho, limpa a sujeira sem reclamar, dá comida... Da muito gosto de ver o esforço que ela faz para cumprir o combinado que fizemos pra ela poder ficar com o cachorrinho.

Mas né, gente, oi, bipolaridade mandou beijo.

Dai que foi algo inesperado. Sonhado, sim, mas inesperado. Foi aceito na impulsividade, e gerou toda aquela gama enorme de emoções fortes que algo assim faz. E tudo bem, faz parte.

Mas depois que você sobre o carrinho até o alto da montanha russa, ele desce né?

Pois hoje meu humor foi pra baixo, e sei que não irei recuperar a cabeça no lugar em apenas um dia.

E não estou reclamando, vejam bem. Eu estou feliz de ter o cachorrinho, e muito satisfeita de ver a Rebeca tão feliz.

Mas hoje eu precisei dormir... dormir muito!

E a sensação de cansaço não passou ainda. E sei que preciso de uma série de dias de descanso e dormir muito ainda pra isso tudo passar, e eu voltar ao equilíbrio, ao tal do "normal". A me sentir feliz sim, mas não com tanto barulho, cansada sim, mas não com essa exaustão mental.

E tudo bem...

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Dos objetivos de ter um blog

Quero falar um pouco sobre o ideal do blog, ok?

Eu estou pensando nesse recomeço, nesse retorno, e acho que uma coisa importante é definir um pouco o “O QUE É O BLOG” sabem?

E eu gostaria de saber de vocês também, se quiserem deixar nos comentários, o que vocês gostariam de ter aqui.

Existem outros blog sobre bipolaridade, e eu mesmo acompanhei alguns. Eles buscam passar informações técnicas, pesquisas recentes, falar sobre medicação, tratamentos, e etc.
Eu acho que é bacana usar o blog como uma forma de compartilhar informações úteis e até penso em ter um dia da semana em que o post seja exclusivamente para divulgar um pouco mais de informação sobre Transtornos Afetivos, ou de Ansiedade e tantos outros que sabemos estar ligados à bipolaridade de alguma forma. Mas não vejo esse sendo o objetivo aqui.

Eu comecei o blog com a ideia de compartilhar um pouco do que é ser bipolar, e mais que isso, como é ser mãe e bipolar ao mesmo tempo, e como uma coisa não inviabiliza a outra.
Então eu acho que o objetivo do blog é algo mais pessoal, não só pra mim, mas para os leitores.

O objetivo do blog é dizer “Você não esta sozinha”.

A bipolaridade não é uma doença que você descobre que tem. Ela não esta escondida em um órgão do seu corpo, e você não pega por ter contato com outros bipolares. Nâo é uma doença que vai aparecer se você se alimentar mal, ou que vai ser diagnosticada por exames num laboratório.
O Transtorno Afetivo Bipolar é uma doença que nos acompanha, que esta em você, às vezes desde que você se entende por gente e que muitas vezes nos confunde e nos faz pensar que seus sintomas definem quem nós somos.
E é uma doença que, por nos definir, só se busca ajuda quando nos encontramos em uma crise muito forte, mais uma de muitas que já vivemos e que antes foram rotuladas das mais diversas coisas. Mas que dessa vez, da vez que você decide aceitar ajuda, você percebe que ela esta atrapalhando a sua vida. E na maioria esmagadora dos casos que conheço, se busca ajuda quando o sofrimento causado é tão insuportável que finalmente questionamos se precisamos viver desse jeito.
E o tratamento é lento, difícil, e muitos desistem dele no começo, assim que sentem que conseguem respirar de novo. Por que ainda estão presos no seu EU definido pelos sintomas do TBH.

Mas nem todo mundo para o tratamento. Ou se para, eventualmente acaba voltando pra ele.
O fato é que seja por que você foi diagnosticado agora ou há muitos anos, receber o diagnóstico de um transtorno mental é sempre muito impactante.
E seguir o tratamento na maioria das vezes nos faz querer saber mais sobre o que é realmente viver com TAB, saber mais sobre o tratamento, e se conectar com outras pessoas que entendam o que você esta vivendo.
Não é a bipolaridade que é a novidade na sua vida, mas a perspectiva de que essa vida pode ser diferente. É a dúvida que diz “diferente como?”.
É perceber que, se muitas das coisas que você encarava como parte da sua vida e parte de quem você é na verdade não precisam ser daquele jeito, e que você vai eventualmente redefinir quem você é e o que é parte do transtorno afetivo bipolar.

E isso tudo dá medo. Redescobrir quem você é, aprender a identificar seus sentimentos todos de novo, reaprender a andar. Lidar com a possibilidade de que você pode ter um pouco de paz no caos mental que sempre te acompanhou.

E que nada disso impede você de fazer nada. E que sim, você vai ter limitações, mas você pode aprender a lidar com elas. E você pode realizar seus sonhos, e ser a pessoa que você quer ser.

E ai voltamos pro objetivo do blog...

“Você não esta sozinha”
Eu acredito que a melhor coisa que podemos fazer por outra pessoa muitas vezes é dar o exemplo que ela precisa para seguir.

Eu baseio muita da minha maternidade nisso. E é uma responsabilidade enorme, sabem? Ser responsável por ser o exemplo que vai formar a personalidade e o caráter de outra pessoa.
Mas eu fiz as pazes com essa escolha já lá, nas inúmeras tentativas para engravidar. Isso fez parte dos meus questionamentos durante todo o processo de me tornar mãe.
E ainda é, na verdade.

E o blog veio com a mesma premisssa. Eu não sou médica, eu não tenho todas as respostas e nem sou senhora da verdade. Eu sou uma pessoa igual a você. Então o melhor que eu posso fazer é tentar falar das minhas experiências, e tentar mostrar que, seja como mãe, seja como bipolar, seja como uma mãe bipolar, você não está sozinha.
Uma vez eu tive uma conversa com minha filha sobre o que ela queria ser quando crescesse. E depois dela me dar sua resposta, que incluía ela ser cientista, e cantora e maquiadora nas horas vagas, ela me questionou sobre o que eu queria ser. Qual era o meu sonho.

E eu meio que falei pra ela as coisas que contei a vocês no ultimo post.

Quando contei pra ela meu sonho foi como se uma luz acendesse na minha frente. Afinal, se eu quero ensinar minha filha que ela pode ser o que ela quiser, que mesmo que demore, se ela se esforçar bastante, ela pode ser qualquer coisa que ela quiser, então cabe à mim dar esse exemplo a ela.

Eu tenho que ser o exemplo dela de alguém que não desistiu. Que enfrentou suas adversidades, que esperou seu tempo, e que não desistiu de seus sonhos. E que, com muito esforço, alcançou seu objetivo.

E acho que isso meio que vale pro blog também. Por que as duas coisas estão intimamente ligadas.

Por que o blog existe para dividir um pouco de mim. Para mostrar que é possível.

Então a nova fase do blog tem a ver com isso. Com essa jornada pessoal de alcançar meus sonhos. E dividir com vocês esse processo todo, de como continuar sendo mãe, continuar tendo que lidar com os altos e baixos da bipolaridade, e como transpor isso tudo para chegar lá.
Mesmo que isso demore.

Vamos juntos?

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Dos sonhos que deixamos para trás, para frente, mas nunca agora

Eu vou falar uma coisa que eu acho que  9 de 10 pessoas que lêem o blog vão se identificar.

Eu tenho muita dificuldade de dar andamento para aquele grande sonho da minha vida.

Quer dizer, o outro. O grande sonho que eu já realizei foi ter a Rebeca.

Mas tem aquele outro....

Sabem como é?

Você quer muito fazer aquilo, é a sua grande vocação na vida, mas seja lá por que motivo, você nunca acha tempo pra ele. E ele fica lá naquele passado onde você "poderia ter feito" ou "Deveria ter se dedicado" ou ainda "gostaria de ter tido tempo". E você fica se prometendo que "um dia eu vou colocar isso em pratica".

Vou te contar, senta ai:

Desde que eu aprendi a escrever, com meus 7 anos... Por que na "minha época" a gente aprendia a ler na 1ª série viu! Nada de sair alfabetizado do pré escolar nem nada do gênero, com as mães entrando em parafuso quando a pobre criança de 5 anos quer mais saber de brincar que de soletrar o nome de trás pra frente. Ok, desculpem o desabafo, falo sobre a alfabetização atual depois.

Mas enfim, desde que eu aprendi a escrever eu soube, ali, o que eu queria fazer da minha vida: escrever! Mais do que fascinada por ler livros e conhecer histórias, a ideia de criar minhas próprias histórias e que as pessoas lessem e gostassem dessas minhas histórias me encantava como nada nunca mais o fez.

Assim, sério, nada mesmo.

E eu passei boa parte da minha infância, na verdade, escrevendo. Redações na escola eram a minha especialidade, e o difícil sempre foi ter que escrever histórias curtas. Como assim, gente, 30 linhas? Era pouco, sempre era pouco.

Quando comecei a ter meus problemas por causa da bipolaridade, lá nos meus 11 e 12 anos, ainda sem saber o que estava acontecendo, foram as letras no papel, e eventualmente na tela de um computador, que me deixavam transpirar todos os sentimentos de tristeza, solidão e inadequação que viviam dentro de mim. E, sim, todos aquele sonhos de como poderia ser diferente, outras vidas, outros personagens.

Mas a adolescência foi chegando. Com ela veio muita coisa... E a maioria delas não me impedia de escrever, muito pelo contrário. Tenho histórias incríveis dentro da minha cabeça que datam dessa época. O problema é que elas continuam aqui, dentro da minha cabeça. Por causa de 2 fatores muito importantes...

O primeiro fator foi quando chegou a fase do vestibular e eu, que passei a vida toda tendo certeza que eu iria fazer jornalismo e iria viver de escrever, me vi com dúvidas: por que eu deveria fazer jornalismo? eu não queria ser jornalista, nem repórter, nem nada do gênero. Eu queria ser escritora! Eu deveria fazer Letras! E se bem que, na verdade, eu posso fazer qualquer faculdade pra ser escritora, né? Só preciso escrever! Só que escrever não da dinheiro. Não de imediato, isso se um dia eu tiver condições de me sustentar só de escrever. Será que eu não deveria então fazer faculdade de outra coisa? Algo que pudesse me garantir uma boa renda enquanto os livros não emplacassem? O que mais eu gosto de fazer?

Sim, lá estava eu, 17, 18 anos, pensando no que eu deveria fazer pro resto da minha vida.
Sabe qual foi o problema? Eu nunca mais consegui tirar isso da minha cabeça.
Nunca mais. Foram 5 faculdades, nenhuma terminada, e nada...
Eu tenho essas duvidas até hoje. Toda vez que eu sento na frente do computador e penso "agora vai, essa ideia é ótima!" sabem o que acontece? Isso mesmo, a tela continua em branco e minha mente vai lá de volta pros meus 18 anos.

A outra coisa que aconteceu nessa mesma época foram as crises de mania e depressão se intensificando novamente.

Digo novamente por que depois de uma crise muito ruim aos 13 anos, e um tico de tratamento de poucos meses, elas ficaram "manejáveis" e ganharam os status de "crise de adolescente" e "de lua".
Mas aos 20 anos com a morte da minha vó tudo mudou e minhas crises deixaram de ser brandas.
Contei essa história algumas vezes, volte uns posts pra trás inclusive que tem mais detalhes, ok?

Mas não foram as crises que me impediram de escrever. Não. Foi o tratamento mesmo. Medicação forte, pesada, pra deixar a gente no chão, todo quebrado, e juntar os pedacinhos comprimido a comprimido, sessão de terapia após a outra, por anos a fio.

Hoje, 14 anos depois da crise, 13 anos de tratamento, eu fico feliz de dizer que minha mente tem uma clareza que eu nunca imaginei que teria se me contassem lá em 2002. Mas tem. Então, ok, valeu a pena. Sério, valeu mesmo!

Durante o tratamento eu descobri, ou redescobri, meu desejo intenso por ser mãe, e muito trabalho e persistência me trouxeram a realização desse sonho. Foi duro, não foi fácil não. Demorou pra poder começar a tentar engravidar, depois pra conseguir ficar gravida, depois de ficar sem medicamento, depois pra retomar o tratamento...

E foi duro, muito duro, por que ser mãe me fez repensar e redefinir uma porção de coisas sobre mim mesma. Por que eu não era só mais a "Di". Eu era a "Di mãe da Rebeca" e eu tive que viver essa transição.

E eu decidi me dedicar a isso, a ser mãe. Tentei outras coisas nesses últimos 7 anos, mas a verdade é que tudo estava, está, diretamente ligado a mãe que eu quero ser.

Mas é isso, né, Rebeca já tem 6 anos, vai fazer 7... E ai que ela esta esticando as asas, se interessando cada vez mais pela escola e por brincar com os amigos do que de fato ficar comigo e me acompanhar nos programas de adulto.

E isso é ótimo! Eu sinto tanto orgulho da pessoa que ela esta se tornando que nem cabe no peito.
Mas desde que esse processo de identidades separadas se intensificou eu venho sentindo algo estranho: Espaço.

Tenho espaço para voltar a pensar em mim. E no que eu quero fazer, e o mais importante de tudo isso, tempo livre para poder de fato fazer alguma coisa.

E eu ainda quero.... Quero escrever e viver de fazer livro! Que viver disso aqui, de colocar em letra atrás de letra as idéias para os outros lerem.

E me vejo aqui nesse impasse, nessa trava... O que me impede hoje?

Eu preciso melhorar as condições financeiras em casa? Olha, não vou mentir não, seria muito bom que a coisa ta bem feia. Mas... Estamos levando até agora... Será que não dava pra se espremer mais um pouco?

Escrever não da dinheiro? Talvez... Mas eu também não estou ganhando nenhum agora.

E vou deixar claro uma coisa. Eu não acho que consigo trabalhar. Eu tentei, várias vezes, inclusive nesses últimos anos tive algumas tentativas frustradas. E todas elas levaram a um processo depressivo de leve a moderado e foram abandonadas antes que isso se agravasse muito. Então... Não é exatamente como se eu tivesse muitas opções.

Então... Ó, duvidas dos meus 18 anos, por que vocês não me deixam em paz?

Não quero que seja um sonho que ficou pra trás, e cansei de ir prorrogando esse sonho pra um futuro que nunca chega.

Mas como tornar o sonho real?

To tentando.

Vocês estão lendo uma partezinha dele, aliás...

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Cara nova, novas histórias, velhos personagens

Eu quero muito voltar a escrever no blog. Muito mesmo! Mas percebi que essa enferrujada de ficar tanto tempo sem escrever atrapalhou mais do que eu imaginava.
E eu quero poder falar! Contar do nosso dia a dia, falar sobre o que eu aprendi nesses anos como mãe, falar de como a vida tem nos tratado e como temos levado a vida. Quero falar das coisas que me interessam, e dos meus planos.

Enfim, quero voltar.

Mas pra voltar, depois de tanto tempo, acho que o blog merece uma repaginada. Ganhar uma carinha nova. Tirar esses banners, criar outros.
Vou manter todo o arquivo que já existe, mas meio que vamos ter uma quebra aqui, um antes e depois, sabem?

Então, ta ai, convido vocês a acompanhar e compartilhar essa nova fase do blog.
Quem sabe ela não acompanha uma nova fase na vida, não é mesmo?

Tudo passa, tudo muda, tudo é vento.

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

Sobre Depressão, e a batalha de viver todos os dias.

Eu faço tratamento para Transtorno Afetivo Bipolar há aproximadamente 13 anos. Quando eu iniciei o tratamento eu já sabia que possuía a doença há alguns anos, mas tanto por minha imaturidade quanto pelo falta de conhecimento de minha família, só iniciei o tratamento realmente aos 21 anos durante uma crise de depressão e ciclotimia muito severa.
Depois de aproximadamente 2 meses de tratamento medicamentoso e terapia, sem um avanço efetivo do tratamento, a médica responsável pelo tratamento na época decidiu ouvir meu apelo e solicitou minha internação. Internação essa que eu sei ter sido decisiva naquele momento da minha vida e no sucesso do tratamento todos esses anos.

Eu troquei de médica duas vezes depois disso, sempre por motivos financeiros. O tratamento para bipolaridade é caro, os remédios são de uso continuo e nem sempre a mesma substancia vai ter o mesmo efeito vindo de laboratórios diferentes, e você pode ter que pagar mais caro para ter o retorno necessário. Mas eu continuo aqui, muito e talvez principalmente, pela minha própria capacidade de entender e racionalizar a doença.

Essa característica pessoal foi o que me tornou capaz de mesmo em meio a uma crise aguda, aos 20 anos, ser capaz de entender que o que eu vivia não era real e sim uma série de sintomas de uma doença que poderia e deveria ser tratada.
Foi o que me fez persistir com um tratamento que inicialmente me deixava dopada e incapaz de me reconhecer, por saber que era a persistência nesse tratamento e a confiança naqueles ao meu redor que buscavam a minha melhora que iria me fazer passar por aquilo e voltar a ser eu mesma novamente.
Foi o que me fez ter paciência para esperar um momento oportuno para dar uma pausa nesse mesmo tratamento, e com orientação e acompanhamento, buscar um sonho de longa data, o de me tornar mãe.
Foi o que me fez entender que era mais importante ser uma mãe sã, não apenas de corpo, mas da mente, do que manter um comportamento ou uma atitude que pudessem parecer socialmente corretos mas que ao serem colocados na lente que mostrava a minha vida, não eram aplicáveis.
Foram essas características, não, foram não, são essas características que me peritem sentar e avaliar cada decisão que eu tomo, buscando um equilíbrio que para muitos pode parecer utópico ou até mesmo desestimulante, mas que para mim é vital. E que as vezes eu terei de abrir mão de certas coisas, ou adaptá-las a minha realidade.

Eu não deixei de ter Transtorno Afetivo Bipolar. Eu não deixei de ter crises de depressão, ou de mania. Mas hoje elas são raras perto de como minha vida foi um dia. Hoje eu sou capaz de identificar cada uma dessas fases, normalmente brandas mas que quando alimentadas por um gatilho podem vir tão fortes quanto um furacão, e tão repentinas quanto também. E sou capaz de tentar tomar o que eu acredito serem as melhores decisões para lidar com cada uma delas.

Infelizmente não são todos os que tem essa sorte.

Eu perdi um amigo ha duas semanas atrás para a depressão. Ele lutava sua própria batalha, e uma noite não diferente de tantas outras, ele perdeu a luta. Da janela de sua casa ele encontrou um final para sua história, deixando para trás apenas a dor e a saudade de todos os que o amaram.

Ele não era mais fraco, nem nada do gênero. Ele não era burro, ou covarde. Ele era uma das pessoas mais inteligentes e sagazes que eu conheci. Era gentil e bondoso, e buscava uma carreira em uma área de pouca atuação no Brasil, com o sonho de buscar seu lugar lá fora. Mas em algum momento algo quebrou dentro dele, e eu sei exatamente o que é sentir isso. E eu sei que cada dia a partir dai ele lutou, a cada vez que el acordava para cada hora que ele conseguia dormir, ele lutou.

A depressão é uma doença muito injusta por que ela engana não apenas aqueles que convivem com ela dentro de si mas aqueles que convivem com o adoecido. Eles não podem vê-la, ou senti-la, e é algo tão difícil de compreender que muitas vezes ela é minimizada. Por que ela ataca pessoas que amamos de uma forma muito forte, e os machuca de uma forma que muitas vezes não sabemos como ajudar, e nossa, como é horrível ver alguém sofrer e não poder ajudar!

Eu infelizmente não posso fazer meu amigo voltar. A luta dele já acabou, e agora me resta honrar sua memória continuando a viver. Continuando a lutar. E se eu puder, ajudando a luta de outras pessoas também.

Existem muitas pessoas no mundo que hoje lutam uma batalha sobre a qual não sabemos nada a respeito.
Sejamos gentis, sempre.

E se você tiver contato pessoal com alguém que esta sofrendo, ou que você suspeita que possa estar sofrendo, de depressão, ofereça ajuda. Ajude-a a buscar informação. Esteja presente. As vezes apenas estar lá já é tudo o que uma pessoa precisa.
E se for você a pessoa, saiba que você não esta sozinho.
E que isso é uma doença, e que ela tem tratamento. Ele é lento, mas funciona. E você pode e vai se sentir melhor.
A dor não dura pra sempre.
Isso vai passar.
Apenas continue a nadar.
Um dia de cada vez.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

"O" dia

O ano começou conturbado por aqui. Minha irmã se mudou de país, minha cunhada fez um transplante de válvula do coração...
Mas hoje, hoje foi um daqueles primeiros dias.

Sabe, “O” primeiro dia de alguma coisa? De alguma nova fase, de uma nova etapa, de algo novo?
Pois bem, hoje foi o primeiro dia de aula da Rebeca no 1° ano do Ensino Fundamental.
É oficial, ela é uma menina escolarizada e hoje ela deu início a nova fase da vida dela, que vai durar 9 anos.
O próximo “O” primeiro dia dela na fase escolar ela já vai estar com 15 anos.
Acho que ela não sabe o que significa tudo isso. E talvez pra muita gente fosse só mais um dia. Mas pra mim e pra ela hoje é “O” dia.
Ela foi animada pra escola, ansiosa, querendo saber quais dos colegas dela continuaram na escola, e quais seriam as diferenças que iria encontrar por agora estar no primeiro ano.
Chegou lá num misto de alegria, insegurança e ansiedade. Queria saber se tinha que levar a mochila pra sala ou não, já que até o ano passado as mochilas ficavam guardadas separadamente da sala das crianças. Queria falar com os amigos, saber quem era a professora, contar que já havia trazido quase todo o material.
E subiu as escadas para a sala me deixando na recepção da escola, vendo ela ir embora, afobada, com os amigos.
E, cá entre nós, acho que foi mais difícil pra mim que pra ela.
Eu ainda insisti em ficar por ali alguns minutos, só para garantir caso ela voltasse pra trás procurando por mim.
Ela não fez isso.
E eu fiquei lá, naquele momento entre o feliz e o deslumbre e um pouco assustada. Minha menina cresce tão rápido, que às vezes parece que eu só pisquei.

Ela já esta lendo bem melhor do que no inicio das férias, e o inglês dela melhorou muito também. Está mais desenvolta, mais segura, mais teimosa, mais independente. E por mais que um lado meu sofra um pouquinho por ver o tempo passar como areia nos meus dedos, eu fico feliz demais de poder viver isso com ela.
Não teve nada tão bom na minha vida quanto ter a chance de vê-la crescer, se desenvolver, e ir desabrochando numa pessoa tão carinhosa, bondosa, inteligente, tão bonita...
Sinto que estou fazendo algo muito certo na vida.
E vê-la crescer é um presente. E cada vez que ela alcança uma nova etapa eu percebo que eu posso começar uma nova etapa na minha vida também. Coisa engraçada isso, que ser mãe é crescer com a filha. E que quanto mais ela se sente segura de si e se torna mais independente, mais independente nós podemos ser também. Por que, afinal, se ela aguenta, eu também aguento.
Juntas somos fortes. E essa força nos sustenta para voarmos solo.
Que coisa deliciosa de viver.