De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

quinta-feira, 28 de março de 2024

Hoje eu senti sua falta...

 Hoje eu senti sua falta.

Senti falta do seu bom dia,

As vezes animado,

Na verdade poucas vezes animado,

Muitas vezes lento e preguiçoso, 

As vezes já tenso mesmo acabando de acordar.

Hoje eu senti sua falta,

De poder te contar sobre o sonho que tive,

Sobre como me sinto melhor,

Mas também continuo cansada.

Senti falta de te contar sobre um texto que corrigi,

Que eu me identifiquei, 

E de outro que era tão chato que quis dormir.

Hoje senti sua falta,

De ouvir sua voz no meio das mensagens,

Um áudio do carro,

De você me contar do filme que viu,

Da série que terminou.

Senti falta de falar do novo livro

Aquele que eu queria a tanto tempo

E que finalmente chegou. 

Senti falta de dizer que me sinto melhor,

Mas que ainda tem muito barulho.

Senti falta de ouvir você reclamar,

E da gente falar do trabalho.

Hoje senti sua falta,

Da sua presença discreta no meu dia,

De longe e de perto,

Daquele café e do seu sorriso.

Hoje senti falta de cada momento que pensei em você.

Hoje senti sua falta.

E foi só um dia.

sábado, 23 de março de 2024

Sobre a rotina e os silêncios...

 Meu ex-marido era uma pessoa barulhenta. 

Não entenda isso mal, era apenas parte de quem ele é.  

Ele é um homem grande, de 1.90m de altura e eu sempre senti que isso afetava a presença dele no mundo de forma que ele sempre ocupava muito espaço. 

Meio desajeitado, as vezes não tinha noção do próprio tamanho.

Mas isso incluía o nosso espaço sonoro.

E as vezes com questões peculiares...

Ele é uma pessoa musical, adora música, ouve todo tipo nem que seja só para conhecer e ter uma opinião. Por gosto mesmo ele sempre gostou de rock pauleira e com letras inteligentes e sarcásticas. Mas barulhentas. Matanza, A Cana, Velhas Virgens, entre outros do gênero eram ouvidas em volume alto com frequência nos 23 anos que estivemos juntos.

Teve outras coisas também que faziam mais meu agrado: Legião Urbana por exemplo foi a trilha sonora do dia do parto da Rebeca. Nós ficamos cantando no quarto durante as horas que esperamos até a cesariana começar e, coincidentemente,  era o que tocava na rádio que os médicos colocaram pra tocar na hora do parto. 22h40 da noite e nosso coração foi embalado por um resmungo e Renato Russo cantando.

Mas voltando, o barulho.

Quando não estava ouvindo música ele estava assistindo algo na TV. Assobiava com frequência. Se mexia e fazia barulho. Sua altura fazia com que até ir ao banheiro fosse algo barulhento, como uma torneira aberta. Ele respirava alto pois tinha problemas respiratórios e estava sempre com sinusite. E roncava, muito e muito alto.


Um amigo meu, terapeuta, disse que se eu estava no ponto em que a respiração dele me incomodava eu fiz muito bem em terminar.


Mas o fato é que esse era o barulho externo.

Existe um outro barulho constante na minha vida que algumas pessoas talvez se identifiquem, que é o barulho interno. 

Dentro da minha cabeça, 24h por dia, eu sou incapaz de manter minha mente sem pensar em nada. Existe uma sensação constante de barulho, como se eu estivesse em uma festa, do lado das caixas de som que tocam uma música muito alta, e as pessoas estão conversando, e o ambiente é de tal forma que essas vozes e a música me fazem não conseguir ouvir esses pensamentos.


As vezes é mais baixo, as vezes é mais alto, mas está sempre lá. Ou estava. A minha medicação tem a capacidade quase mágica de fazer esse barulho passar por algumas horas - é isso que me permite dormir, por exemplo.


Quando eu estou passando por um período de mais estresse,  esse barulho fica mais alto, e por consequência, pra conseguir me manter mais calma, eu preciso que o barulho externo seja, então, quase nulo.

Eu preciso de silêncio. 

Cada vez mais nos últimos anos eu senti necessidade de silêncio.

Eu trabalho melhor em silêncio. Eu penso melhor em silêncio. Eu me acalmo com silêncio. Eu aprecio os momentos que posso curtir minha solitude e descansar em silêncio. 


Isso faz com que eu adore a madrugada. 

E isso me fez pensar esses dias que eu sempre fui assim. Adoradora da calma e do silêncio da madrugada, quando o mundo inteiro está em suspenso, no sono. Sem barulho na rua, sem preocupações, sem lugar pra ir,  sem estar atrasado pra nada e sem ter compromisso algum com ninguém. Só eu e a noite.

Durante minha adolescência eu aproveitava esses momentos para escrever. Eu esperava todos irem dormir, fazia uma batida de leite com chocolate e muito gelo,  sentava no computador no meu quarto e escrevia madrugada adentro. Nossa, era incrível...


Não tenho mais 14 anos e não aguento mais passar madrugadas acordada, além de ter diversas outras obrigações durante o dia. O mundo não me espera mais.

Mas eu sinto necessidade desses momentos de solitude e silêncio.

Então criei o hábito de acordar de madrugada. 

Acordo as 5h todos os dias,  inclusive nos fins de semana, para curtir um pouco esses momentos. Durante a semana dura pouco, coisa de 30 min até eu ter que acordar a Beca pra aula e o dia começar a se movimentar.  Mas nos finais de semana em que ela dorme até mais tarde eu posso aproveitar melhor esse tempo.

Vejo o sol raiar pela varanda e aproveito o vento gelado do começo da manhã. Faço meu café e fico ali, na mesa, apenas contemplando a casa que eu tanto amo.

Penso em mim, no meu dia, na minha semana. Respiro e sinto o tempo passar. Mexo no celular sem ver nada muito específico. Só deixo o tempo passar em silêncio...

As coisas não estão fáceis. Tem muita coisa boa acontecendo, mas nem tudo é assim e isso não torna tudo mais fácil. Eu ando com muito barulho interno.

Então eu tenho aproveitado cada vez mais o silêncio. 



E você? Que  tipo de pessoa é você?

sábado, 16 de março de 2024

Sobre adoecer e se curar

 Depois da minha  separação em fevereiro de 2022 eu entrei em uma depressão profunda.

Vivi um processo de luto intenso e duro, sofri demais pela decisão que tomei mesmo não me arrependendo dela. 

Saber que a relação tinha alcançado o limite de onde poderíamos ir juntos não fez a dor ser menor e nem o processo de deixar pra trás todos os sonhos que sonhamos juntos menos triste e difícil.

E eu passei 2022 praticamente inteiro sem conseguir cuidar da minha alimentação e por consequência a da Rebeca. 

Rebeca que viveu todo esse luto também, em silêncio,  lutando sozinha com o trauma e o medo de ficar sozinha, de ser deixadas pra trás e ser negligenciada.

E nós duas nos afogados na comida e principalmente nas massas e no fast food.

Ganhamos muito peso, e como consequência problemas de saúde. Colesterol alto foi o mínimo.

Eu vivi 2022 comendo miojo com salsicha e queijo ralado. Essa era a minha alimentação básica.

Rebeca comia macarrão com molho  e queijo ralado, sanduíches,  muitos doces.

A depressão era real para nós duas. 

Em 2023 queríamos nos cuidar, mas algo aconteceu. 

Eu comecei a ter problemas para comer. Eu comia cada vez menos, não conseguia engolir. Me sentia muito fraca, não conseguia carregar pesos ou subir um único degrau de escada sem ajuda. Minha força simplesmente havia me abandonado.  

Eu perdia peso muito rápido. Não tinha energia pra ficar acordada. 

Eu tive muito medo. E comecei a ir em médicos,  um atrás do outro,  para entender o que estava acontecendo comigo.

Foi só em Julho do ano passado que fiz um exame que mostrou que eu estava com um problema grave de gordura no fígado e uma fibrose hepatica moderada.

E a única coisa que eu podia fazer era mudar totalmente minha dieta,  adotando hábitos saudáveis,  e fazer exercícios físicos,  de forma que eu perdesse peso sim, mas muito mais devagar e de forma controlada e saudável. Eu não podia tomar remédios para ajudar. Era eu comigo mesma.

Eu estava doente, desnutrida, a perda de peso repentina tinha queimado minha massa muscular e não a gordura apenas. Eu precisava agir pra recuperar isso.

E foi o que eu fiz.

Eu mudei a alimentação em casa, aumentando o consumo de frutas, legumes, verduras, proteínas e cereais. (Entenda por arroz,  feijão,  carne, legumes e saladas), cortar os doces pra uns 20% do que era antes, passar a beber água,  muita água, quase nada de refrigerante, e fazer exercícios de 3 a 5 vezes por semana.

Não foi fácil, até porque eu tinha dificuldade para comer nas quantidades adequadas. Entenda, eu não comia demais, eu comia de menos. Era difícil terminar uma refeição inteira, mesmo ela sendo medida na balança como a nutricionista tinha indicado.

Mas eu encontrei prazer em cuidar de mim. Ir a academia me dava energia e fazia eu me sentir bem. Ver minhas forças voltando mes a mês me motivava.

Rebeca foi vendo esse processo e do lado dela ela lutava sua batalha pessoal contra a depressão e o transtorno de ansiedade. Mas ela via meus resultados e começava a querer isso pra ela também.

De Julho pra cá eu mudei meus hábitos. E ontem eu recebi o resultado do exame de acompanhamento dessa doença e tive a melhor notícia que poderia ter:

A de que estou curada. 

Não tenho mais fibrose ou gordura no fígado. Todos os indicadores voltaram a normalidade. Eu estou mais saudável do que fui nos últimos 15 anos.

E valeu a pena.

Eu estou tão feliz e tão aliviada!

Depois de tudo que passei e do medo que senti e ver que meu esforço deu resultado... 

Eu fico feliz toda vez que consigo subir uma escada. 

Eu olho pra esse resultado e penso "Uau! Olha o que eu conseguir, onde eu cheguei! E se eu continuar fazendo o que estou fazendo agora? Onde mais eu consigo chegar? Até onde eu consigo ir?"

Me sinto pronta pra mais um desafio e pra ir além.

Esse ano as coisas começaram diferentes pra mim. Estou com 2 trabalho free-lance em andamento, estou trabalhando nos meus projetos pessoais, estou fazendo faculdade e cursos livres, estou me cuidando  e cuidando da Beca.

É como se a vida tivesse começado a entrar nos eixos. 

E eu estou feliz.

Hoje eu estou muito feliz.

Cuidem-se. Saúde não tem preço,  seja mental ou física. Cuidem-se. Vale a pena.