De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

10 anos de Blog!

Pois é...

10 anos!

Não exatos. Estava checando e o Blog na verdade completou 10 anos no dia 01 de Novembro.

Mas ok, perto o suficiente.

Gente, 10 anos!

Eu reli alguns posts la do começo e é impressionante como tanta coisa mudou, tanta coisa ficou igual, mas como eu cresci!

Rebeca veio pra minha vida eu tinha 27 anos. Existe um marco na minha vida que diz AR e DR (Antes de Rebeca e Depois de Rebeca).

E se muitas das coisas que pensei e desejei não se tornaram realidade, e se outras tantas so estão começando a acontecer agora 10 anos depois, e sabe lá quantas aconteceram sem que eu quisesse, tudo me trouxe até aqui. E entre alto e baixos, eu gosto de onde estou.

A pessoa Di que é mãe. Que é filha. Que é amiga. Que é esposa. Mas principalmente a pessoa Di que engloba todas essas e varias outras faces de mim mesma.

Eu não penso muitas coisas boas sobre mim mesma. Eu me decepciono e tenho uma auto-estima terrivel. Mas ainda sim...

Eu amo quem eu sou hoje. Como pessoa. Meu caratér. Minha personalidade. Meu cerne. Aquilo que faz eu me reconhecer no espelho e fora dele, que faz com que eu tenha paz a noite quando deito minha cabeça no travesseiro.

Esse texto abaixo eu postei no meu Facebook hoje de manhã e é com ele que quero comemorar esses 10 anos.

Por que tudo que sou hoje é por causa e para ela:

Todos os dias ela me lembra o porquê de eu estar aqui. Todos os dias ela tem um sorriso nos lábios e uma risada gostosa que me aquece. Todos os dias ela me cerca com seus braços num abraço apertado e me faz sentir amada, mesmo nos dias que eu estou com dificuldades de aceitar seu carinho. Cada dia que ela é compreensiva e paciente, cada vez que ela é dedicada e persistente, cada vez que ela me ensina sobre a vida... Cada vez que seu amor me tira do escuro e ela ilumina minha vida, eu agradeço. Eu posso ter feito escolhas duvidosas na minha vida e posso viver com limitações diversas, mas se existe algo que eu fiz certo foi ela.
E a cada manhã que brigo com o despertador eu respiro fundo e levanto, porque é por ela. É sempre e tudo por ela.
Eu sou muito, muito, grata.
E agradecer é um bom jeito de começar qualquer dia.

sábado, 2 de novembro de 2019

Dia de Los muertos

Hoje eu comecei meu dia conversando com um amigo muito querido e que mora muito longe. Nos conhecemos desde os 14 anos e temos aquele tipo de amizade que a gente só faz na adolescência.

Conversamos exatamente sobre isso, como quando adultos não fazemos mais amigos como quando somos jovens. Como é difícil criar esse tipo de laço depois de um certo tempo.

Fiquei pensando que a gente se apaixona, se casa, se separa, e até faz alguns amigos, mas nada nunca é igual a essa relação que temos com nossos amigos da adolescência.

Hoje é dia de finados. Dia de Los Muertos. Esse ano eu perdi alguém muito muito especial e próximo a mim. Mas por mais que eu ainda sinta essa perda muito presente, hoje a minha saudade foi pra outro lado...

Hoje sinto saudade dos amigos que perdi pelo caminho. Que me foram tirados cedo demais. Hoje eu choro por eles, mas com uma tristeza com mais saudade que dor. Porque eu acho que doer vai doer pra sempre, mas com os anos a saudade e as lembranças ficam mais fortes, exatamente para que a gente se recorde do melhor que tivemos.

São amigos que se perderam da vida cada um numa circunstância que, infelizmente, não pudemos ajudar. Tentamos. Mas seja num acidente, num crime ou uma doença, cada um deles encontrou morada do outro lado do espectro da realidade, aquele que sobre nada sabemos.

Na tradição mexicana, pelo pouco que sei, enquanto você se lembrar dos seus entes queridos que morreram eles continuarão a existir no outro mundo.

Nos últimos tempos esses amigos tem sido muito presentes, em conversas e lembranças, e eu fico feliz de pensar que isso mantém eles bem seja lá onde eles estão agora.

Que estão jogando uma enorme partida de RPG com a vida desses amigos que continuaram na existência terrena, xingando nossas escolhas ruins e torcendo por nosso sucesso. E fazem isso entre cervejas celestiais e cafés com muito açúcar. E nada disso mais faz mal, nada mais pode lhes fazer mal e causar dor.

Hoje é dia de lembrar.


André...
Gerson...
Ciça...

Sr Ednaldo...

Vó...

Amo vocês. Eu me lembro.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Sobre sentir medo...

Ontem eu senti medo. Medo de mim mesma e de como estou me sentindo. Medo por estar me sentindo bem, muito bem. Medo porque posso estar me sentindo bem DEMAIS.

Hoje eu acordei melhor. Não por deixar de ter medo, não por algo fora ter mudado, mas por mim. Sinto que a nuvem que me atingiu está mais fraca e se não posso dizer que estou bem, posso dizer que estou disposta a me sentir melhor.

E acho que é com essa mensagem que eu venho hoje. Talvez mais pra mim que pra você, mas ela é valida e pode ser útil em algum momento.

Muitas vezes eu vi o mundo de um lugar muito escuro. Todos os dias eu preciso olhar pra esse quarto e tranca-lo de novo. Os monstros podem continuar no armário até que eu possa lidar com eles.

Meu humor muda muito rápido, mas os motivos que me afetam são bem mais constantes.

O que eu aprendi ao longo de tantos anos é a entender que precisamos escolher as batalhas que podemos lutar. Quais podemos vencer. E quando devemos nos retirar, ou retira-las para o canto até que possamos ver com mais clareza.
Saber identificar o momento, e a si mesmo, e usar as ferramentas ao nosso alcance para tirar o melhor de cada dia.

Parece simples, mas nem sempre conseguimos ser práticos assim todos os dias.

Mas quando as dúvidas vem, e quando o medo aumenta, saber dizer "hoje não".

Porque sempre existe um dia seguinte. Sempre existe alguém que se importa. Sempre podemos contar que por mais que algo doa, isso também passa.

Descreveram uma vez meus textos como um rio, onde você pode sentir ele mudar de intensidade e profundidade como a correnteza. Pouco sabia essa pessoa que descrevia à mim.

A força não vem do nada.
Ela vem de dentro, da crença de dias melhores, e encontra coro no exterior, onde aqueles que nos amam insistem em nos ter o mais perto possível.

E por isso eu agradeço.

Hoje eu só quero viver o momento.
Deixar aquele medo de lado. Ele pode ficar no dia de ontem.

Ser feliz, sabe? É o que eu quero pra esse dia.

domingo, 27 de outubro de 2019

Sobre uma pequena historia do cotidiano...


Eis que um dia desses, eu, Taz e Rebeca passamos a tarde toda ajudando um amigo com um projeto de fotografia, um ensaio.

Rebeca e Taz e inclusive foram modelos

Ambiente descontraído, muita gente bonita e diferente. Aí estou eu e Rebeca sentada perto do maquiador a quem Rebeca presta atenção atentamente pois estava aprendendo sobre maquiagem, e conversando eu, o maquiador e meu amigo.

Em determinado momento o maquiador fala que uma das meninas que tinha ido embora era namorada desse amigo, ao que ele diz que não.

"Ué, mas eu vi você dando um beijo na fulana!"

Aí meu amigo explica que "não, que não foi um beijo, Beijo, foi um selinho, tipo assim" e se aproxima, olha pra mim esperando concordância e entendendo que sim me dá um selinho.

E foi a primeira vez que a Rebeca me viu fazer isso com alguém que não o Taz e abriu os olhos com cara "uou" impressionada, mas não crítica, eu diria que divertida.

Vi que ela ficou em dúvida mas não achei que o ambiente era o melhor pra conversar, então dei de ombros e passou o dia.

Aí...

Uns dias depois, na hora de dormir, que é a nossa hora de conversas difíceis, parei e perguntei:

 - Rebeca, ontem você me viu dando um selinho no meu amigo e eu vi que você ficou surpresa. Foi isso mesmo né? O que você pensou?

Ela deu aquela risada de quando a gente fica sem graça e respondeu:

- Foi, fiquei mesmo. Mas eu sei que você e meu pai tem um relacionamento aberto né? Então eu só pensei: eu sabia!

Eu ri.

- Sabia? Sabia o que? Rsrs… Você ficou chocada? Eu senti que a sua surpresa não foi crítica, como você se sentiu?

- Ah, sei lá, sabia... Ele vem tanto aqui, vocês conversam tanto....

- Mas filha, foi só um selinho. Não quer dizer nada. É carinho. A gente é só amigo. Poderia não ser o caso, mas agora é. Se não fosse, você acha que você está pronta pra ver a mim ou seu pai com outra pessoa, ou apresentando alguém falando que é alguém com quem estamos saindo?

- Entendi... Acho que sim. – Parou, pensou um pouco e perguntou - Mãe, como você descobriu que preferia um relacionamento aberto? Você conhecia pessoas com relacionamento aberto quando você era criança?

Aí fui contar pra ela como a ideia surgiu pra mim, como a monogamia nunca fez sentido, como eu assistia as comédias românticas quando criança e tinha o clássico triângulo amoroso de dois caras disputando uma mina e ela escolhendo um e eu me perguntando por que ela não ficava com os dois,culminando em assistir o filme "Três formas de amar" aos 12 anos e entender aquela relação a 3 como algo que fazia todo sentido pra mim. E contei a história do filme, o que fez seguirmos pro rumo seguinte da conversa:

- Mãe, eu tenho uma dúvida... Tanta gente que eu conheço é bissexual e eu não sabia... Meu pai, o fulano, a fulana... E você? Você também é bissexual?

- Não, infelizmente não. Pelo menos não que eu saiba. Nunca senti vontade de sair com outra mulher. Mas vai saber, ninguém sabe o dia de amanhã.

- Por que as pessoas acham que ser bissexual é errado?

Segui-se uma explicação sobre moral e conceitos conservadores cristãos vigentes no país.

- Mãe, por que as pessoas acham que Deus é homem? Deus podia ser uma mulher! Faria muito mais sentido!

Passei a explicar que existem religiões no mundo e que em muitas delas Deus é uma mulher, mas que no Brasil vigora o catolicismo.... Etc etc, ao que ela eventualmente dormiu.

E eu fiquei babando de amor... E precisava dividir esse momento!


terça-feira, 8 de outubro de 2019

Sobre ser pipa...

Aprendi com os tombos
A ter medo de ir muito alto.
De subir os degraus de uma escada dura demais para descer,
Mas com a descida tão certa quanto cada passo dado para cima.
Aprendi a ter medo dos exageros,
Das emoções fortes,
Das ideias loucas
E dos prazeres fugazes.
Prender os pés no chão,
Fincar fundo e se segurar
Quando a cabeça começa a flutuar
Como um balão de hélio subindo pro céu.
Aprendi com o tempo a ser como a pipa,
Que sobe com o vento o mais alto que pode
E tenta se segurar lá em cima o maior tempo possível,
Mas que desce ao puxar de seu mestre,
Carretel de sanidade na mão, um brinquedo.
Que seja assim, quem sabe?
Uma vida contada em floreios, ondas de vento e... O que era mesmo?

quarta-feira, 2 de outubro de 2019

Sobre as alegrias e tristezas de completar uma década!

Rebeca completou sua primeira década.

São 10 anos de uma vida que chegou em meio a música e tem música em todos os seus momentos.

No dia que Rebeca nasceu eu não entrei em trabalho de parto. Eu tinha uma consulta marcada com minha médica para aquela tarde e estava bastante ansiosa.

Minha médica voltava de uma viagem de 3 semanas a Grécia naquele dia. É o tipo de coisa que desestabiliza um ser humano em reta final de gestação, imagina pra uma bipolar que estava absolutamente sub-medicada...

Eu estava cansada e sentia dores constantes. O quadril já estava aberto a semanas e andar de carro era uma tortura pois cada sacolejada era como um chute. Passei a gravidez toda sem dormir mais que 45min por piscada, acordando o tempo todo, incapaz de relaxar e descansar. Eu cheirava a cânfora o tempo todo devido a enorme quantidade de emplastos nas minhas costas. E minha hipoglicemia me obrigava a comer alguma coisa a cada 2h, então mesmo quando eu conseguia dormir um pouco mais acabava precisando acordar para comer ou a glicemia baixava perigosamente.

Para fechar a gravidez com chave de ouro eu havia passado os últimos 6 meses andando com um copinho a tira colo para ficar cuspindo. Estava com uma produção anormal de saliva e simplesmente não conseguia engolir tanto assim pois isso provocava ânsia e me fazia vomitar. Para não vomitar o tempo todo, cuspia.

Eu estava exausta.

Minha médica então me liga no meio da manhã:
 - Oi Adriana, bom dia. Pode ficar tranquila que já estou chegando no hospital viu? Já estou quase aí!"
Eu, sem entender, pergunto:
 - Como assim? Eu não estou no hospital!
- Não é você que as meninas no consultório me avisaram que está em trabalho de parto no hospital?
- Não... Mas se você achar que é uma boa ideia posso encontrar você lá!
- Não. A princípio vamos manter sua consulta a tarde e lá a gente conversa.

Quando fui a consulta já estava decidida. Conversei com minha médica, expliquei como me sentia, disse que não tinha mais condições de aguentar. Ela tentou me convencer de aguentar mais alguns dias. Eu já estava com mais de 39 semanas e tinha chegado ao meu limite. Marcamos a cesária para aquela noite.

Do consultório fui direto para o hospital dar entrada na internação. Alocada inicialmente numa sala de parto natural até a hora da cirurgia, meu marido estava comigo durante todo o tempo.
Para ajudar a passar as horas, cantamos.

Passamos horas cantado Legião Urbana. As enfermeiras entravam para fazer a preparação e se encantavam com nossa cantoria.

Na sala de cirurgia os médicos colocaram música para tocar. Na hora exata em que ela nasceu tocava uma música de Legião Urbana.

10 anos atrás tudo mudou ao som de Legião Urbana.

Ao longo de todos esses anos eu a faço dormir boa parte das noites cantando Legião Urbana.

Eduardo e Mônica, Tempo Perdido, Quase sem querer...

Hoje Rebeca já escolhe as músicas que quer ouvir no Spotify. Puxou a facilidade e a harmonia do pai e o gosto por todos os tipos de música e por conhecer coisas novas.

Rebeca as vezes canta enquanto dorme.

Nas aulas de dança, mesmo nos dias que tem mais sono e o ombro pesa com as dores de crescer nesse mundo, ela sai feliz. Cansada, mas feliz.

Quer aprender a tocar violão.

Quer ser cientista sim, e descobrir uma forma de fazer os humanos viverem pra sempre. Mas quer ser cantora também.
Pode ser os dois, ora bolas, porque não?

São dez anos que me encanto diariamente com a pessoa incrível que ela tem se tornado.

Hoje o mundo já dói. Hoje os amigos as vezes a magoam, as vezes a insegurança fala mais alto, os padrões estéticos da sociedade insistem em fazer com que ela sinta que tem algo errado com seu corpo.

Mas mesmo o mundo dizendo que esses dez anos tem seu preço, ela dá um sacode e encontra felicidade em cada dia. Muitas vezes na música.

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

Sobre me deixar sentir...


Eu tenho tido fins de semana muito bacanas nas últimas semanas. Tenho jogado RPG com amigos que tem se aproximado mais e tem sido muito bom, divertido e libertador.

Esse fato, os jogos de RPG nos fins de semana, tem sido uma consequência da reaproximação de alguns amigos nos últimos meses. Além dos jogos de RPG, temos recebido amigos em casa, dado suporte a amigos com dificuldades e feito da nossa casa o que sempre desejamos: um local seguro, um refúgio, um local que você se sinta bem recebido e tenha vontade de voltar.
Esse movimento de receber, de acolher, é algo que faz parte de mim, é uma das minhas principais características. Taz chegou na minha vida e se sentiu a vontade exatamente por causa disso e ao iniciarmos nosso relacionamento ele tomou para si parte dessa característica, se identificou, e hoje é corresponsável pela manutenção dessa rede.
Agora, apesar disso, tem uma coisa que eu sinto e da qual nunca falo que as vezes me parece ir contra todo esse sentimento de mamãe coruja.

Eu não me sinto confortável com toque.

Isso não é algo que eu senti sempre. Sempre fui tímida, sim, e não demonstrava ou recebia bem demonstrações de afeto de desconhecidos, mas depois que me sentia mais a vontade conseguia relaxar e aceitava bem a aproximação das pessoas.

Isso mudou muito depois do nascimento da Rebeca.

Sinto que fui me fechando cada vez mais para o mundo, criando uma proteção, uma barreira para me proteger e manter o controle. Eu sinto, o tempo todo, que posso perder o controle a qualquer momento. E eu não posso perder o controle.
Inicialmente uma barreira mental, sem que eu percebesse isso foi crescendo, ao ponto que eu não me sentia bem recebendo elogios, abraços, beijos no rosto, apertos de mão, ou qualquer coisa que pudesse me expor de alguma forma.
Duas ou três vezes no ano eu tento abrir mão desse controle tendo uma noite onde vou beber, ficar levemente bêbada, dar risada e não me preocupar com mais ninguém a não ser minha própria diversão. Sempre acompanhada de alguém para dividir esse momento, nunca sozinha. O que faz com que muitas vezes o plano de errado e eu me veja tendo que cuidar desse outro alguém, mas são experiências mais positivas que negativas então mantenho o plano.
Pode parecer besteira mas é muito difícil se permitir esses dias e mesmo nesses situações eu estou sempre a apenas um “clique” de voltar a me fechar, me concentrar, ser responsável.

O que eu quero focar um pouco aqui é na questão do ser tocada. Com todas as dificuldades e as crises depressivas, de leves e contínuas as mais graves, eu fui desenvolvendo uma certa aversão ao toque de outras pessoas. Ao ponto de que em alguns momentos o único toque que eu me sentia realmente confortável era o da Rebeca. Com ela era o único momento que eu me sentia totalmente a vontade.

Com o Taz esse sentimento ia e vinha dependendo do meu humor, do tom das conversas, mas mesmo assim isso afetou profundamente nossa relação. Mesmo me sentindo segura com a presença dele a maior parte do tempo eu simplesmente não consigo baixar totalmente a guarda.

E dai que isso começou, lentamente a mudar no último ano. Com tudo que passei com minha mãe adoecendo, a mudança, a perda do meu sogro… Eu não tinha como não estar vulnerável. E durante esse período algumas pessoas voltaram ou passaram a estar bem mais presentes na minha vida. Amigos que me ofereceram não apenas ajuda em coisas práticas, mas atenção e carinho. E carinho na forma, também, de abraços.

Eu não me senti confortável com o toque, com ser tocada, num primeiro momento. Mas eu senti, sinto, a necessidade dessa proximidade. Eu quero muito ter essas pessoas na minha vida e quero que elas se sintam sim na liberdade de serem afetuosas comigo. Porque elas são assim. E porque eu percebi, enfim, o quanto eu preciso disso.

Os abraços inicialmente mal retribuídos, pois eu não sabia mais como me portar, aos poucos tem sido cada vez mais bem vindos.
E o que começou como uma reciprocidade tímida e muito inconsciente, de repente com todas essas peças se juntando me fizeram querer tomar a ação.

Eu ainda sinto, a cada abraço, que se eu ficar ali aninhada por tempo demais eu vou simplesmente perder o controle. Vou cair num choro sentido de quem não sabe o quanto sente falta de se permitir sentir qualquer coisa.

E o que eu percebi é que: eu ainda não consigo e não sei como fazer isso, mas eu quero voltar a sentir de novo.

Não sei como descrever isso melhor. Eu quero voltar a me deixar sentir.

E apesar disso me causar um medo absurdo, a vida é muito curta e muito imprevisível pra ter medo o tempo todo.

E eu quero, em algum momento, não sentir mais medo. Pelo menos não de mim mesma.

sábado, 21 de setembro de 2019

Sobre o dia da árvore, ou sobre a minha amoreira...

Eu nasci no começo dos anos 80. Estou no começo da geração Milenial e no final da geração X.
O Brasil lutava por sua democracia, sobrevivia entre a hiperinflação e as novidades apresentadas na TV. O mundo mudava e tentávamos alcançá-lo. Perdoamos o passado para tentar ter chance de fazer um futuro melhor.

Nesse contexto meus pais se casaram no fim dos anos 70 e tiveram a minha irmã e eu no começo dos anos 80.

Quando nasci morávamos em uma casa na zona Oeste de SP, numa rua calma, residencial, em uma parte do bairro que entre suas grandes casas, nos abrigava no início de nossa jornada.

Meu pai sonhava alto e iniciava seu próprio negócio ao comprar uma escola em uma cidade vizinha com o ideal de unir o seu desejo de educar e mudar o mundo e crescer profissionalmente num momento instável da economia do país.

Minha mãe se estabelecia como uma das principais responsáveis no laboratório de uma grande multinacional do setor de combustíveis.

E eu e minha irmã chegamos para completar o quadro.

Na casa grande da rua tranquila, pensada e escolhida, um enorme quintal gramado nos fundos da casa. Nele, 3 árvores frutíferas. No centro do jardim um pequeno limoeiro, meio pelado, minguado, fazia lugar de pouso para os passarinhos. No canto inferior direito, uma árvore alta de frutinhas vermelhas semelhantes a morangos sem sementes que nunca mais vi e até hoje não sei o nome. Minha vó era a única que quando essa árvore ficava carregada de frutos, andava embaixo da copa catando e comendo essas misteriosas doçuras que ela levou o nome consigo na minha memória...

E do lado esquerdo, no centro esquerdo, não exatamente num canto, uma enorme amoreira de tronco forte e galhos grossos o suficiente para nos sustentar a subida.

Não lembro quantos anos tinha quando aprendi a segurar no galho mais baixo, e dando um impulso jogar as pernas por cima do tronco que, a uma pequena distância do chão, se repartia em um V e continuava a subir e abrir seus galhos para o sol. Espalhando sua sombra, e tendo no V do tronco um local perfeito para iniciar a subida, quase uma cela na madeira, era para lá que jogávamos as pernas no impulso. Dependuradas no galho, pernas no tronco, abraçávamos a árvore e nos ajeitávamos para continuar a subida.

A amoreira ficava bem perto do muro da casa e ao subir podíamos ver a casa do vizinho. Nossos gatos fizeram esse caminho muito mais do que nós, usando essa proximidade entre planta e pedra para escapar e explorar outras residencias e voltar com segurança.

Uma vez por ano a amoreira ficava carregada de amoras, primeiro verdes e instigando nossa ansiedade, depois vermelhas com seu azedinho e por fim pretas e maduras, doces, ideais para serem colhidas. Tingiam o chão de terra embaixo da árvore de roxo da mesma forma que tingiam nossos dedos e bochechas lambuzadas.

Dessas amoras fizemos sucos, sorvetes, geleias e bolos. Dividimos nosso tesouro com periquitos, bem-te-vi, e todo tipo de pássaros.

Dividimos nosso quintal e nossas árvores com amigos e familiares por cerca de uma década, quando no começo dos anos 90 meus pais decidiram se mudar. Vendemos a casa para poder seguir adiante e continuar construindo nossa história.

Mas deixamos para trás nossa amoreira. Deixei com ela a primeira parte da minha vida. Trouxe comigo o gosto doce das boas lembranças.

Trouxe comigo um amor a uma amoreira...


domingo, 15 de setembro de 2019

Sobre o que me faz feliz...

É noite e estamos os 3 em casa, sentados no sofá e assistindo um vídeo divertido do YouTube na TV. Rebeca escolheu o vídeo e tentamos acompanhar o que ela assiste junto com ela. O O vídeo é engraçado e despretensioso e damos risada.

Eu  tenho meu celular na mão mas não estou prestando atenção nele. Assisto o vídeo que aprendi a apreciar. Taz tem o celular na mão também e divide a atenção do vídeo na TV com jogadas em algum jogo de tantos que joga pelo aparelho em sua mão.

Estamos os três sentados, meio esparramados, no sofá com Rebeca entre nós dois. Nosso cachorrinho, Chewbacca, sobe no meu colo e dali para o sofá buscando seu lugar nesse momento em família.

A cena é quase perfeita. Falta uma pessoa pra completar esse quadro: minha menina mais velha. Com mais de 20 e terminando a faculdade e eu ainda insisto em vê-la como uma menina... Mas ela está em casa, com sua mãe. Mando uma mensagem para saber se está bem e quando vem nos visitar.

Por hoje somos nós 3, e o Chewie, e por hoje basta.


A cada noite essa cena se repete e me preenche. Como peças que finalmente se encaixam eu sinto que estamos finalmente nos sentindo em casa. Por cada minuto que nós mantemos assim, cada noite que essa cena se repete, sinto algo que procurei por muitos anos e as dores da vida não me permitiam encontrar: sinto ter ali, nesse lugar, nessa cena, o meu lar.

Respiro um suspiro, um quê de apaixonado outro de alívio. A qualquer momento alguém vai levantar e fazer outra coisa. Tem o jantar, o banheiro, a roupa, a lição, ou qualquer outra coisa assim. A qualquer momento o mundo vai chamar atenção para si e nos fazer nos mexer, nos buscar, desenroscar.

Eu respiro, suspiro e admiro aquele momento de lar que construí. Demorei meses para conseguir chegar aqui. O corpo estava desde a mudança, mas o coração ainda em pedaços não me permitia estar inteira. Ah nenhum de nós.

Conforme vamos colando os pedaços quebrados, chegamos ao ponto de com parte desse mosaico tomando forma, juntar nossos cacos no mesmo lugar na mesma hora e com, eu acho, a mesma emoção. Por esses minutos que as vezes viram até mais que uma hora, todos os dias, nos encontramos.

Esparramados no sofá, esparramamos em nós o calor e o amor do outro, pro outro, pelo outro, e por nós. Com os pés enroscados, enroscamos as conversas e rimos.

A felicidade mora ali, nos detalhes, na rotina. A felicidade, mora aqui, no sofá da minha casa.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Sobre pequenas felicidades

Essa semana meus pais voltaram de viagem. Estavam visitando minha irmã e trouxeram com eles o presente de aniversário da Beca adiantado.

Rebeca ganhou um laptop.

O que significa que eu também ganhei um laptop por tabela.

Ela tinha um laptop antigo, velhinho, que deu seus últimos suspiros enquanto meus pais estavam em viagem. Apesar de nossas tentativas em consertar o aparelho, no fim ele virou peça de reposição pro marido brincar de desmontar e remontar coisas.

E aí ficamos com um problema em casa. Nós temos um computador desktop, mas ele é minha TV. Assim, no lugar do monitor ele é ligado diretamente à TV por onde assistimos nossas assinaturas de streaming. E por mais que sejamos uma família muito unida, vamos ser sinceros, tem hora que cada um quer fazer uma coisa.

Rebeca precisa ter acesso a uma ferramenta que permita que ela assista seus vídeos, jogue seus jogos e faça seus trabalhos de escola com conforto e privacidade.

Então fiz toda essa explanação aos avós em viagem para convence-los que era um investimento importante.

E assim foi feito.


E eu ganhei um laptop novo de tabela.

Pra mim o laptop tem todo um sabor especial pois há muito tempo eu sentia falta de ter uma ferramenta adequada para escrever e poder me dedicar aos meus projetos.

Com a mudança de casa para o apto eu sonhava com construir pra mim, na varanda, o ambiente ideal para minhas horas criativas.

Ainda não está pronto mas a possibilidade de usar o laptop da Rebeca já chega perto o suficiente para que eu comece.

Então quando eu ligava e instalava os programas importantes para o uso seguro do computador precisei vasculhar emails antigos que eu nem lembrava que tinha guardados. E encontrei um tesouro pessoal...

No meio dos e-mails perdidos uma troca, uma conversa com uma amiga para quem, anos atrás, eu enviara uma amostra dos livros que havia começado a escrever. E nesse e-mail esses arquivos zipados num anexo.

Quase tive um treco de tamanha felicidade!

Eu perdi a cópia que tinha desses textos há uns 5 anos atrás quando a HD do meu computador pessoal parou de funcionar. E apesar de eu guardar essa HD na esperança de alguém conseguir recuperar esses arquivos pra mim, a verdade é que eu considerava tudo isso parte do meu passado e das minhas memórias.

Mas eu encontrei! Estava lá, esperando por mim!

Que delícia foi reencontrar esses textos! Alguns deles iniciados na minha adolescência e pré adolescência... Foi como encontrar uma janela para a pessoa que fui há 25 anos atrás... 20... 15...

Não sei se a pessoa que sou hoje deve retomar essas histórias ou não, se devo dar a elas um fim digno. Mas independente disso, ler e relembrar, reviver uma época, ver meu desenvolvimento...

É um achado... Meu tesouro....

Pra gente ver que nem sempre tudo está perdido... Basta procurar.

segunda-feira, 12 de agosto de 2019

Sobre conviver com um bipolar...

As férias passaram. Aos poucos a rotina vai voltando ao normal. Conforme os dias vão entrando numa certa normalidade, tento encontrar a melhor forma de retomar os posts no blog.

Eis que recebi uma comentários querendo saber sobre como é a relação minha e de meu esposo e como essa relação é afetada pela bipolaridade. E eu achei que era um assunto que merece atenção e um texto mais longo do que uma resposta rápida.

Não vou entrar em detalhes mas espero abordar a questão de como se relacionar com um bipolar de forma que ajude.

Vamos lá:

Quando eu meu marido começamos a namorar eu já tinha recebido um diagnóstico inicial de Psicose Maníaco Depressiva. No entanto eu não fazia nenhum tipo de tratamento com psiquiatras ou terapia, nada.

Não era algo que eu entendia e considerava relevante. Minhas mudanças de humor constantes eram vistas como parte de quem eu era. Não era visto como uma doença e minhas ações e reações não eram caracterizadas como sintomas.

Era uma peculiaridade. Eu era "difícil" e "briguenta", muitas vezes "sensível" ou "exagerada", sempre "instável". Eu era adolescente e estava vivendo uma "fase rebelde".

O próprio termo bipolaridade ainda não era algo difundido nem na comunidade médica e as pessoas não falavam sobre transtornos mentais. A internet ainda era um bebê caminhando e celulares só faziam ligações.

Ok, sou velha.

Eu e meu esposo namoramos por 5 anos até chegar o momento em que eu comecei meu tratamento.

Não sei se teriam sido 5 anos mais fáceis se já soubéssemos que eu tinha uma doença e já fizesse tratamento.

O que eu sei é o que nos vivemos.

Acho que é importante falar que por mais que fosse difícil pra ele lidar comigo durante as crises, também era difícil pra mim lidar com ele.

Pessoas não são fáceis. Pessoas são. Um indivíduo tem diversas características pessoais que o tornam único, algumas positivas e outras não tanto. A bipolaridade é uma característica médica, como seria ter diabete, pressão alta, ou outra enfermidade que requer tratamento.

Dito isso, eu entendo que não é fácil.

Quando meu namoro começou meus amigos não acreditavam que o relacionamento duraria muito tempo. O fato de eu ser volúvel e inconstante os fazia acreditar que eu enjoaria do relacionamento em 1 ou 2 meses.

Claramente não foi o que aconteceu.

Mas um fator determinante para isso é que eu não estava vivendo nenhuma crise aguda naquele momento. Eu estava relativamente bem e isso se manteve por muito muito tempo. Não que eu não tivesse alterações de humor, mas elas eram administráveis e passavam apenas como uma personalidade forte.

Eu acho que com relação a minha bipolaridade nosso verdadeiro teste veio em 2002, 2003. Já estávamos juntos há anos e uma série de fatores convergiram para que eu tivesse uma crise depressiva muito aguda, muito grave e que foi a que me levou ao tratamento, a uma internação e uma mudança completa na minha vida.

E acho que quem me perguntou deve conhecer alguém talvez com um caso como o desse momento.

Eu sei o que eu vivia dentro de mim e sei o que meu esposo e família me contaram sobre como foi viver comigo naquela época.

Eles não eram perfeitos, mas posso dizer que o apoio de todos que escolheram se manter próximos foi essencial para o sucesso do meu tratamento.

Agora, não foram todos os meus conhecidos que conseguiram lidar com isso.

Pessoas que eu gostava muito se afastaram de mim, alguns para se preservar, outros por não querer a responsabilidade, e outros apenas porque eu deixei de ser uma companhia agradável.

Meu marido pensou em me deixar mais de uma vez. Meus pais tinham medo do que podia acontecer. Minha irmã sentiu raiva em alguns momentos.

É muito difícil você ver uma pessoa que você gosta ser tomada por um sofrimento que não pode ser medido ou demonstrado, difícil de ser entendido.

Quando é possível saber se aquela reação foi real ou foi por causa da doença? Será que se aceitar um comportamento ou uma ação que teria sido motivada pela crise você não estaria dando justificativas e desculpas para a pessoa bipolar usar quando convir mesmo fora da crise?

Meus pais, minha irmã e eu sempre fomos muito próximos e muito ligados e temos essa ideia de fazer tudo pela família.

Um relacionamento amoroso não tem essa premissa. Pode ter a promessa romântica, mas não a premissa. Porque se relacionar com alguém é uma escolha. (Ou deveria ser)

Então eu entendo que meu esposo, na época namorado, fez uma escolha consciente de ficar comigo. Antes e durante e depois da crise.

E ele teve que se relembrar disso muitas e muitas vezes ao longo dos 20 anos que estamos juntos. Ele faz essa escolha todos os dias ainda hoje.

Se ele sente raiva de vez em quando? Claro que sente. Se brigamos? Sem dúvida. Quase nos separamos diversas vezes.

No fim, quando a poeira abaixa e estamos mais calmos pra pensar e conversar sempre decidimos continuar juntos.

Mas olha, não é pra todo mundo.

E tudo bem.

Tem algo muito importante que é base fundamental para tudo ter dado "certo" até hoje: querer melhorar.

Quando eu tive a tal crise em 2002 eu tive um momento de clareza que me fez entender o que eu estava vivendo e sentindo como parte de uma doença e isso foi algo transformador.

Porque doenças podem ser tratadas e administradas. É possível viver bem. Eu não precisava passar por tudo aquilo, eu não precisava viver daquele jeito e nem ser aquela pessoa. Eu podia melhorar.

Eu acredito que o fato do meu marido ter ido comigo ao médico, ter conversado e aprendido o que estava acontecendo comigo, ter meu terapeuta dando a ele ajuda e dicas do que esperar e o que caracterizava a doença fez diferença na descisão dele de ficar do meu lado e me ajudar.

Ele acreditou em mim. Ele entendeu que era uma doença. Ele acreditou que aquilo podia mudar. E eu, do meu lado, me comprometi a seguir o tratamento.

E olha, não foi fácil nem rápido. Eu cheguei a abandonar o tratamento após uma perda e retomei e me mantive no mesmo porque eu decidi ser mãe e a única forma segura de fazer isso era alcançando uma estabilidade que eu nem sabia como era.

Mas eu queria ficar bem. Eu queria melhorar acima de tudo. E eu sabia dentro de mim que isso era possível porque eu já tinha visto isso acontecer com outra pessoa.

Vamos pular muitos anos pra frente.

O blog me permitiu aprender muito e conhecer muitas pessoas. Muitos conhecidos da minha adolescência apresentaram ao longo dos anos algum tipo de transtorno, seja a bipolaridade seja ansiedade, pânico, etc.

Uma coisa que eu aprendi é que ninguém está a salvo de um dia viver uma crise de algum transtorno mental. Uma pessoa que nunca teve nada pode ter uma depressão pós parto. Ou uma depressão profunda ao tentar migrar para outro país. Ou um transtorno de pânico devido a pressão irreal de um trabalho infeliz.

E todas elas podem precisar de ajuda.

Mas a gente só pode ajudar quem quer ser ajudado.

E a gente só consegue ajudar outra pessoa se a gente estiver bem.

É possível adoecer por tentar ajudar alguém que se recusa a seguir um tratamento.

O mundo não para de girar esperando a gente ficar bem. Nem existe atestado de afastamento pra ficar junto com o amigo ou amor que não está bem e precisa de companhia ou supervisão.

Você não deixa de se ofender ou se magoar porque você sabe racionalmente que aquela pessoa não tem controle do que está fazendo ou falando.

Não é culpa de ninguém. Nem do doente nem do companheiro. Só é.

Se a pessoa não quiser se tratar ela vai ter ações para boicotar o tratamento. Consciente ou inconscientemente.

Agora, como pessoa bipolar, eu sei como é difícil aceitar que você não vai tratar só a crise. Que o que você tem é uma doença crônica e que para alcançar e manter-se sob controle você vai precisar se tratar para o resto da vida.

Cara, o resto da vida é muito tempo.

E o caminho pra alcançar a estabilidade é muito lento. Você começa o tratamento muitas vezes sendo dopado. Você precisa interiorizar e aceitar que muito do que você achava que era algo que te definia na verdade era um sintoma de uma doença e que pra ficar bem você vai ter que abrir mão do que você sabe sobre você e passar por um longo processo de reaprender e redefinir a si mesmo.

Você vai tentar diferentes remédios e diferentes doses e combinações antes de encontrar algo que te faça mais bem do que mal. Vai passar meses e anos, no começo duvidando de si mesmo e depois recuperando sua auto estima.

Quem estiver do seu lado vai escolher estar ali.

Então, acho que depois de tudo que eu contei e disse, quero terminar com um:

Vale a pena.

Fazer o tratamento vale a pena. Insistir, lutar, vale a pena. O que você ganha é muito mais do que você deixa para trás.

Ninguém merece sofrer.

E se você for a pessoa que está próximo de um bipolar vivendo uma crise, força.

Ninguém pode fazer a escolha de ficar por você. Eu espero que você faça a melhor escolha pra você e pra quem você ama.
Que vocês encontrem paz e felicidade em suas vidas. Eu não sei qual escolha vai ser essa. Nem sempre o melhor pra mim vai ser o melhor pra você. E tudo bem.
Mas eu te aconselho a fazer isso de forma honesta e calma. Sem culpa ou pressões.
O caminho de cada um é de si mesmo.
Nos podemos apenas escolher caminhar lado a lado, ou não.

Espero ter ajudado vocês a pensar sobre isso.

sexta-feira, 5 de julho de 2019

De férias

A vida continua uma bagunça. Vou levando conforme posso. Casa, familia, vida pessoal... Mas agora estamos de férias e com isso fico com mais dificuldade de escrever.

Ferias são sinônimo de criança em casa, de primo passando ferias, de visitas de amigos e visitas a fazer, de passeios e de ficar em casa sem fazer nada. Mas essas férias também tem sinônimo de decisão séria a ser tomada. Muito séria.

Então, calma, logo logo estamos de volta.

Espero que com boas noticias.

Boas férias!

terça-feira, 4 de junho de 2019

O bom filho a casa torna... Ou, olha só eu aqui!

Estamos aqui.

A casa já está mais arrumada. Já tem seus problemas, já tem alguns dos detalhes que a fazem nossa. Mas ainda fico achando que a qualquer momento chegará o dia de voltar atrás. De "voltar para casa".
Me lembro que essa é minha casa agora, e deixo a sensação de "AirBnB" ir embora.

São as pequenas coisas que tento focar pra me ajudar a me sentir mais a vontade: o quarto com a cama grande... O banho delicioso e estupidamente quente e com muita água... A sensação de segurança ao ficar acordada até mais tarde, de madrugada, sem me sentir exposta...

Preparar a mudança, tomar essa decisão e levá-la em frente até o fim, encaixotar tudo e mais um pouco e ver que tanto ainda ficou pra trás... Tudo mexe comigo de uma forma muito mais intensa do que minha estabilidade permitia. Fui pro alto, pra muito alto... E fiz isso consciente de que tudo que sobe tem que descer. Já nos mostrou Ícaro ao tentar chegar perto demais do sol...

Estou completamente instável. Por vezes sinto um desespero tremendo me dominar e simplesmente não consigo fazer nada de produtivo no dia.

Ainda não consigo cozinhar todos os dias. Comemos fora com muito mais frequência que minhas possibilidades financeiras permitem. Muito mais.

Tenho dificuldades pra dormir. Dificuldade pra acordar de manhã.

Não estou arrependida nem nada disso. Nem triste de ter mudado. Pelo contrário, estou muito feliz de estar aqui e ter dado esse passo.

Mas existe todo o resto. Existe a rotina. Existe o dia a dia. O trabalho, a escola, as contas, os médicos, o clube, a família, os amigos, o carro, o carro do trabalho, a cidade, o estado, o país, o mundo...

Me sinto triste e choro por tudo e por nada. Quero fazer as coisas mais simples e percebo que não consigo fazer sozinha.

De repente percebo que todo aquele sentimento de inadequação, incapacidade, inutilidade, e todas as coisas ruins que sinto sobre mim mesma não passaram. Que os represei com a promessa que olharia pra isso depois. Depois... 

Ao mesmo tempo estou feliz. Quero cuidar da minha casa. Quero chegar no momento em que eu entre pela porta e sinta aquela sensação agradável de alívio por estar em casa e posso deixar toda a tensão pra trás.

Colocamos as prateleiras, instalamos o escorredor de pratos suspenso que eu tanto queria... Rebeca tem a cama que pediu pra poder receber os amigos... 

Minhas tias vieram almoçar aqui no último domingo.

O aspirador quebrou...

Ficamos doentes a semana passada inteira graças ao frio de inverno que finalmente chegou.

Hoje eu me deixei descansar.

Tomei aquele banho pelando de tão quente que tanto gosto, coloquei uma roupa bem quentinha, e deitei na cama debaixo das cobertas a tarde toda...

Ganhei meias fofas e quentinhas no dia das mães e elas estão sendo muito úteis.

E me lembrei que tenho que levar um dia de cada vez mesmo. E fazer o melhor que eu puder todo dia.

Está frio e estamos assistindo TV a meia noite porque Rebeca não conseguia dormir...

Amanhã... Bom, amanhã nos vemos como vai ser...

sexta-feira, 3 de maio de 2019

Sobre dizer adeus...

Meu sogro faleceu no mês passado.

Eu ainda estou tentando lidar com essa informação.

Não sei se posso dizer que foi repentino. A saúde dele vinha se deteriorando nos últimos 2 anos. Antes disso, bem antes, ele já convivia com a Diabete e com a hipertensão.

Acho que por serem doenças controláveis hoje em dia nós já não as vemos com a gravidade que merecem.

Ele fazia o tratamento com medicamentos e desde o ano passado tomava injeções de insulina diariamente.


Quando ele completou 60 anos nós tivemos uma conversa onde ele me disse que sentia que já tinha feito sua parte na vida: fez sua família, trabalhou, criou seus filhos, comprou sua casa. Viveu, fez besteira e cometeu erros. A partir dali, dizia ele, cada ano vivido era lucro.

Esse ano ele faleceu aos 72 anos.
Fumava muito.
Reclamava de tudo e brigava com todos. Não tinha controle emocional e falava coisas que não queria e talvez se arrependesse depois. Era uma pessoa difícil de conviver. Chegou a apanhar na rua uns 2 anos atrás por xingar um motorista desconhecido.

Mas eu e ele tínhamos essa relação boa. Não nos víamos com tanta frequência mesmo morando perto, mas sempre que nos encontramos o que tive e retribui foi carinho, preocupação e cuidado.

Tive a oportunidade de dar a ele algumas alegrias e organizar suas festas de aniversário nos últimos anos. Seu aniversário era no dia 26 de Dezembro e depois que a família cresceu muito e juntar os filhos, netos e bisnetos no fim do ano se tornava cada vez mais difícil, tentei tornar o aniversário dele nossa reunião oficial. Acredito que tive sucesso e que ele ficava grato por isso.

O último Natal ele e minha sogra passaram conosco. Independente de divergências e diferenças focamos no que nos unia e tivemos uma noite alegre e agradável.
Combinamos de repetir no fim desse ano.

O levei para ver a Rebeca se apresentar. Ensinei a ela a respeitar e entender o avô tão diferente do que ela estava acostumada. Ele ensinou ela a fazer cuscuz e por várias vezes elogiou sua educação.

Nós mudamos de casa na semana passada e todo o trabalho de preparar e fazer a mudança me mantiveram ocupada pelas semanas que se seguiram ao seu falecimento e sinto que não me permiti sentir de verdade a perda.

Com os ânimos mais calmos e a mudança já quase finalizada, muitas noites de sono depois, me vejo sentindo saudade. Lembrando de pequenos momentos, cenas, as vezes nada que parecesse especial quando aconteceu é que agora me voltam a mente em momentos aleatórios.

Sinto saudade e parece que começo a entender que agora só poderei matar parte dessa falta olhando as fotos e conversando sobre o passado.

De repente virou passado.
Deixou de ser presente para virar lembrança.

E tudo que posso fazer é me esforçar para dizer adeus...

segunda-feira, 15 de abril de 2019

Sumiço

Nas últimas semanas uma série de acontecimentos me fizeram perder o tempo para escrever.

Existiram coisas boas, como as relativas a nossa iminente mudança de casa, e coisas muito ruins, como o falecimento do meu sogro, que tiraram nosso chão.

O ano não está sendo fácil, e peço que vocês tenham um pouco de paciência.

Quero voltar e detalhar um pouco mais cada uma dessas coisas, mas preciso de tempo.

Por agora senti que precisava pelo menos falar.

Estou aqui, estou levando e organizando as coisas num ambiente um tanto caótico. Estou bem pois alguém precisa estar.
Meus pais tem ajudado muito, diria que até demais pois vejo como eles ficam sobrecarregados. Mas eu agradeço.

Seguimos em frente.

Vamos nos mudar. E quando eu conseguir parar pra respirar, eu sento e conto tudo da melhor forma possível.

quarta-feira, 3 de abril de 2019

Aquele sobre o Natal...

As vezes somos pressionados a fazer coisas mesmo não estando seguros se e a coisa certa a fazer. Tenho certeza que isso já aconteceu com você. Esse Natal aconteceu comigo, e o resultado não foi nada bom...

Rebeca tem 9 anos. É uma menina meiga, alegre, uma criança imaginativa e que vive toda a fantasia permitida para sua idade.

Dai que esse ano começaram as indagações se ela ja não é muito grande para acreditar em Papai Noel. Que já teria idade para deixar esse tipo de fantasia pra trás.

E essa perguntas vinham de pessoas muito próximas, irmã, marido, mãe, e eu sentia que por tras dessas indagações tinha uma acusação de que eu estaria mantendo uma fantasia desnecessaria porque não aceito que ela está crescendo.


Insegura, tentei argumentar que não, que achava que Rebeca ainda não é grande demais, que não acho que exista uma idade certa para isso e que não vejo ela se apegar a existência de Papai Noel e outros seres mágicos como algo ruim.

Mas, como comecei, estava muito insegura. E acabei cedendo e resolvi fazer um teste.

Na família do Taz, meu marido, a tradição era de abrir os presentes na manhã do dia 25, e na minha na meia noite do dia 24 para 25. Durante todos esses anos seguimos a tradição da minha família. Esse último ano resolvi mudar, como um teste, para ver como Rebeca iria reagir.

Não contei a ela, mas conversamos várias vezes sobre como era na família do pai dela, etc etc...

Na noite do dia 24 abrimos os presentes mais cedo do que o de costume. Meus sogros passaram o Natal conosco e precisavam voltar pra casa e como não teria a necessidade de esperar o Sr Noel, mudamos nosso cronograma.

Mas Rebeca continuava aflita, ansiosa, esperançosa. As horas iam passando e era possível notar a inquietação dela.

Tentei falar com ela, e ela dizia que entendia, que não é porque ele, Papai Noel, tinha vindo sempre a meia noite nos últimos anos, que ele viria esse horario sempre. Que ela já tinha ganhado presentes e podia se divertir com o que tinha ganhado... E ela concordava, mas era visivel que não estava tudo bem.

Eu não quis falar que Papai Noel não viria. Eu queria ver se ela chegava a conclusão sozinha, se sentia falta desse momento de fantasia.

Deu meia noite... 1h da manhã... E eu declarei que era hora de dormir e que não iríamos esperar mais.

Ela foi para o quarto se trocar, esperei uns minutos e a segui. E Rebeca chorava. Chorava muito. Eu sentia sua dor em cada soluçar.

"Ele não veio! Ele não veio mesmo! Ele me esqueceu! Ele esqueceu!"

E de repente eu entendi o que eu tinha feito.
Entendi que eu quis adiantar algo para o que ela não estava pronta. Que provoquei não apenas uma frustração mas um sentimento de abandono. E por quê? Por causa da pressão de outras pessoas...

Mas eu não podia voltar atrás. Sentia que seria pior se eu a fizesse passar por tudo isso por nada, e cedesse no final.

Ficamos juntas por quase uma hora, eu consolando e ela chorando, ate que ela aceitou dormir.

Providenciei que Papai Noel passasse na madrugada e deixasse seu presente para ela abrir quando acordasse. Depositei embaixo da árvore o presente que havia separado e fui dormir.

Quando acordamos no dia 25 ela não acordou animada. Não estava feliz ou esperançosa. Continuava triste.
Eu a chamei para vir a sala, tomar café. E quando ela entrou e viu o presente embaixo da árvore foi como se as luzes do Natal se acendescem de novo!

"Ele veio!"

E tudo que consegui dizer foi: "Viu só, ele não esqueceu de você!"

Porque temos a necessidade de tirar a infância de nossas crianças? Porque temos essa pressa em vê-las crescer? Que mal há em manter a magia pelo tempo delas e não o nosso?

Ela não estava preparada e eu, na minha pressa e insegurança, provoquei uma dor que não precisava ter existido se eu apenas tivesse confiado mais em mim e ouvido o que meu coração me dizia desde o começo: respeito. Respeito a infância de minha filha. Respeito ao tempo dela. Respeito a sua inocência, a sua vontade, e a seus sonhos. Respeito.

Espero ter aprendido minha lição.

segunda-feira, 18 de março de 2019

Sobre rotina e segurança

Antes de começar meu tratamento para bipolaridade eu abominava a ideia de rotina. Sei que muita gente, especialmente jovens, acham a ideia de rotina algo impensável.

Como se ater a fazer as mesmas coisas todos os dias do mesmo jeito?

Mas a verdade é que não entendemos a ideia da rotina no nosso bem estar.

Tomar remédio todo dia no mesmo horário, por consequência, era um desafio real. E complicado adotar um tratamento de longo prazo se você não sabe nem onde vai estar todas as noites, não é?

Mas eu olho pra trás e penso que eu subestimava o bem que a rotina podia fazer por mim, e superestimava a minha "falta de rotina".

Nos primeiros meses do tratamento, la em 2003, eu não conseguia seguir horários muito regrados, esquecia de tomar os remédios, desobedecia instruções médicas e tomava doses extras quando achava que devia. Era um comportamento perigoso, e que intensificou a necessidade de uma internação.

Vou contar pra quem chegou agora que naquele momento eu fui internada, fiquei 14 dias no hospital onde tive um tratamento intensivo e foi quando eu considero que realmente meu tratamento começou a funcionar.

Durante a internação eu fiz o que não conseguia fora do hospital: dormir. Sai de uma rotina, que eu não sabia que tinha pois não era voluntária, de passar 72h sem dormir para dormir 6h e depois mais 72h acordada, para dormir o dia todo enquanto estava no hospital devido a medicação.

E era exatamente o que eu estava precisando.

Dali em diante, anos para frente, muitas coisas aconteceram, idas e vindas, troca de remédios, de medicos, mas uma coisa foi sempre priorizada: dormir. Se começo a oscilar demais a primeira reação é dormir mais e melhor por alguns dias.

Quase como dar um reboot no cerebro.

Depois que tive a Rebeca eu entendi e adotei a rotina como parte integrante da minha vida.

Se antes eu já havia me entendido com a rotina da medicação, a maternidade me ajudou a fazer as pazes com os horários e com atividades e comportamentos repetitivos.

Rotina, eu descobri, é o que nos faz sentir em casa. Nos faz sentir seguros. É a ação que fazemos sem precisar de esforço e que nos permite prever os acontecimentos. E saber o que vai acontecer nos permite relaxar.

Num mundo que nos mantém ligados o tempo todo, atentos, de prontidão, que nos cobra atenção constante e em uma cidade onde a sensação de segurança falha, ter esses momentos de paz são essenciais para manter nossa sanidade.

Num mundo louco a sanidade é ouro.

Num mundo louco a rotina pode ser nossa âncora de segurança.

quinta-feira, 7 de março de 2019

Derrapa, escorrega, cai, levanta e segue em frente

Ansiedade. Insegurança. Medo.
São definições para muito do que venho sentindo.

Incapaz de mudar como me sinto, passo os dias me distraindo e tentando não pensar muito no que me aflige. E considero bons os dias em que as coisas não pioram de quadro.

O trabalho do Taz começou muito mal esse ano. Estamos hoje com metade do número de clientes que precisaríamos estar nessa altura do ano. Diversas manutenções tiveram de ser feitas no carro de trabalho e devido a problemas externos não conseguem ser finalizadas, fazendo com que tenhamos menos procura do serviço do que o esperado.

Com os problemas no trabalho somados aos da casa, Taz não consegue se sentir seguro do que está fazendo. Inseguro, ansioso e deprimido, ele não consegue ver ou agir para melhorar o quadro no trabalho, ou a si mesmo. Duvidando de si e de sua capacidade ele tenta apenas seguir fazendo o que sabe e consegue, mas vê com temor como isso não é o suficiente.

Se pergunta o tempo todo se está fazendo a coisa certa. E apesar de minha insistente tentativa de anima-lo, em sua cabeça as respostas que ouve de si mesmo não o ajudam a reencontrar o caminho.


Precisamos nos ajudar. Fazemos isso tentando ajudar os outros. Um amigo que se sente tão perdido quanto nós e precisa de um lugar seguro para se abrigar? Ok, venha. Aqui sempre será um local neutro e nossa hospitalidade será sempre a mesma para aqueles que queremos bem. Não chegou o tempo em que negarei ajuda ou abrigo.

Se sentir perdido parece uma constante nesse momento para muita gente.

Se o que podemos fazer e nos juntar para um jogo ou um jantar para ter um momento de relaxamento e felicidade então e o que faremos.

E quem sabe encontremos uns nos outros o apoio necessário para encontrar nossas respostas.

Hoje resolvemos um dos inumeros problemas que temos à resolver.
Hoje já é um dia bom...

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Sobre ter uma filha incrível!

Com frequência as pessoas me perguntam, com um misto de surpresa e curiosidade, como eu fiz pra Rebeca ser uma criança tão educada, comportada, prestativa entre outros adjetivos.

Eu sei, ok, é minha filha e eu sou coruja, mas eu preciso dizer: eu tenho uma filha incrível!

Diversas são as vezes em que me vejo num grupo de mães e pais falando de seus proprios filhos, muitas vezes reclamando de algum comportamento e simplesmente me calo. Não tenho do que reclamar.

Já me peguei pensando em reclamar de algum hábito, ou forçar um pouco pra pensar em alguma coisa ruim, mas a verdade é que, de modo geral, eu realmente não tenho do que reclamar.

Rebeca não é perfeita, claro. Não existe perfeição. Mas ela e, sem sombra de dúvida, ė tudo que eu poderia querer em uma filha.

Rebeca é uma pessoa calma. Ela não é dada a reclamar das coisas ou de responder atravessado. Não grita, pelo contrário, tende a falar baixo. É bem humorada, acorda de bom humor e é muito otimista.
Tenta sempre se dar bem com as outras crianças, costuma se esforçar e ceder se necessário para aproveitar a companhia que tem. Consegue se entender com crianças mais velhas, e cuidar das pequenas. É muito paciente.

Se tem algo que nos desentendemos é com o tempo. Eu sempre fui uma pessoa pratica, Rebeca faz tudo com muita calma. Eu sou apressada e ela tem o tempo dela pra fazer as coisas. Mas ainda sim não considero algo que eu possa reclamar. Entendendo a mecânica dela e respeitando seu jeito e o seu tempo ela faz as coisas com capricho.
E assim desde sempre. Tomou seu tempo para engatinhar, andar, falar... É como se ela só fizesse as coisas quando tem certeza do que está fazendo. Engatinhou mesmo só com 10 meses, antes disso ia na base dos pulinhos, mas no dia que engatinhou parecia que fazia isso a meses. Andar foi a mesma coisa. Falar então... Desde pequenininha, ainda trocando as letras, se expressava bem, com muito vocabulário e no tempo verbal correto.

Essa caracterisca dela se mantém ate hoje. E só é um problema quando eu estou com pressa ou emocionalmente abalada. E veja que aí o problema é comigo e não com ela. Quando percebo isso, paro, explico a situação, e ela se esforça para se adequar a necessidade daquele momento. Sem briga. Pelo contrário, sempre disposta a ajudar.

Ela e muito determinada. E bastante persistente. Quando gosta de alguma coisa e decide algo ela se esforça para conseguir. Se entende que lhe faltam meios ela da uma recuada e espera. Não desiste, espera. Guarda dentro de si aquela decisão e se prepara internamente. Quando a situação parece favorável ela relembra e retoma.

Na escola é um pouco distraída, mas muita dedicada. Gosta muito da escola, não apresenta dificuldades com as matérias, faz a lição de casa sem preguiça, sem onda.

Tem dificuldade, talvez, em lidar com pressão. Com frustrações. É bastante perfeccionista e fica muito mal quando as coisas não saem como ela espera. Desde um trabalho de escola a um penteado novo.

Conversa muito. Comigo principalmente. Quer entender o mundo, as pessoas. É muito curiosa e está sempre buscando saber coisas novas. Adora música e já entende mais disso do que eu. Adora dançar, cantar... Tudo na vida dela tem trilha sonora.

Se leva uma bronca ou recebe uma ordem, questiona, no máximo resmunga, mas aceita. E isso eu tomo crédito pra mim sim. Eu sempre conversei e expliquei o motivo pra tudo pra ela. Cada bronca, cada castigo, cada ordem, tudo sempre tem uma razão de ser. Eu acredito que isso criou uma relação de confiança e permite que ela saiba que quando eu falo algo, ou mando ela fazer alguma coisa, mesmo que na hora ela não entenda, ela saiba que tem uma razão. E aceita. Se não concorda, questiona. E nos resolvemos na conversa, se não imediatamente em uma hora mais apropriada.

Sempre muito disposta a ajudar e a fazer a sua parte, ela assume os cuidados com seu cachorro sem reclamar muito. Como toda criança ela não gosta de ter que parar um momento de diversão para limpar sujeira, mas mesmo assim ela faz. Limpa sujeira, da banho, comida, brinca, faz carinho.

Com as pessoas sua dedicação é ainda maior. Cuida com a mesma naturalidade com que é cuidada. Ouve, fala, responde e pergunta. E compreensiva com os sentimentos dos outros, e sempre que pode tenta fazer as pessoas sorrirem.

Tem uma imaginação incrível. Inventa histórias, personagens, viagens, músicas... Inventa uma festa, um jantar, uma brincadeira...

Eu dei muita sorte, essa é a verdade...

Sou mãe de uma pessoa muito especial.

O mínimo que posso fazer em troca é ser o melhor de mim, por ela, pra ela. Fazer o melhor que puder e um pouco mais.

Por hoje eu sou grata por ter essa pessoa na minha vida.
Ela veio de mim, um privilégio. Tenho a chance de, com ela, dar ao mundo o melhor de mim. De colocar em prática cada valor meu, cada ideia, cada sonho, cada certeza de que com amor e possível.

Sou grata.
Hoje é só o que quero sentir.
...

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Sentir, agir, viver, seguir

Seguimos.

A rotina ainda nem havia se instalado direito e já precisa ser revista.
E eu não sei como levar nem as pequenas responsabilidades.

Faço o possível.

Levo Rebeca pra aula. Recebo visitas. Essas são coisas que parecem ajudar, mas infelizmente duram pouco.

Na verdade o que dura pouco é o humor.

Não estou bem e tinha muito tempo que eu ficava tão mal por tanto tempo.

Por mais que nas férias eu tenha conseguido levar os dias razoavelmente bem, não chegou nem perto de ser bom. De poder dizer que eu não estava deprimida ou ansiosa. De poder bater no e dizer: "estável".

Se nas férias que eu estava um pouco melhor eu não conseguia fazer um bolo de aniversário, agora com mais atividades e a iminência das mudanças e problemas de saúde voltando a ser mais presentes, tenho dificuldade de fazer o almoço. Tirar roupas do varal. Escrever. Levantar da cama. Dormir...
Tudo requer um esforço muito maior. Como se o tempo todo eu carregasse um saco de 5kg de arroz em cada ombro, cada pé...
Pensar e interagir exigem concentração, calma. Sinto como se estivesse o tempo todo de mal humor. Tenho dormido pouco.
Com mais dificuldade de adormecer fico na cama torcendo que o tempo passe e o dia seguinte chegue e eu não precise me sentir culpada por estar acordada: já é dia.
Não consigo aproveitar o tempo extra acordada nem pra assistir filmes. Sozinha de madrugada fico com medo de ficar na sala ou outro lugar da casa que não o quarto fechado e seguro. Me sinto exposta. Vulnerável. E por dividir o quarto com o marido e a filha não uso muito o celular para não correr o risco de acordar qualquer um dos dois...

Então o que consigo fazer é apenas seguir.
Um dia de cada vez.
Quando me sinto mais disposta adianto alguma coisa. No resto do tempo procuro me permitir não estar bem ao máximo do que é possível com toda a culpa que me consome.

Se o ciclo de me sentir incapaz já não fosse suficiente ele se auto alimenta me impedindo de fazer o que preciso. Vivo do mínimo e tento aceitar.

Eu sei que é só uma fase. Sei que isso vai passar. Sei que demora, que é difícil, mas também sei que passa.

Sempre passa.

A certeza de, mesmo durante a tempestade, saber que o sol vai brilhar de novo amanhã. Só não o vemos por trás das nuvens mas ele continua ali.

Espero por ventos melhores para soprar esse mal estar de dentro de mim. Espero.
Quando posso faço os meus esforços para ajudar a mim mesma e virar essa página mais rápido.
Mas não adianta ter pressa por mais que o desespero apareça para assombrar minhas parcas tentativas. Tem mais a ver com resiliência. Com continuar aqui e seguir em frente independente de qualquer coisa.
De seguir.
Ter a certeza que o caminho e longo mas não e todo de barro. Que a estrada vai voltar a fluir.
Enquanto isso, presto atenção nas flores.
Paro, respiro, sigo em frente.

Hoje eu já consegui escrever.
Hoje já é um dia bom.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Sobre o que acontece por aqui...

Já contei em outros posts do blog sobre o processo de mudança que se iniciou por aqui no ano passado na época que minha mãe começou a ficar doente.

2018 terminou como se eu tivesse sido arrastada por um furacão. 2019 tem pouco mais de um mês que chegou e já me sinto atropelada.

Sei que muitos se sentem assim.

2019 vem para dar continuidade a esse movimento que minha vida entrou ano passado.

Se não tenho controle sobre o que acontece lá fora o jeito é me concentrar no processo interno.

Queremos nos mudar de casa ainda nesse primeiro semestre. Esse é o plano.

Eu venho pensando muito no que quero, no que preciso, no que sou capaz.

Minhas respostas tem sido amargas e me levado para um desespero ainda maior que os próprios acontecimentos em volta. Mas eu preciso encontrar algumas respostas.

Uma questão que aparece várias vezes e que acaba sempre memlevando propmesmo lugar é se iremos morar próximo dos meus pais para podermos continuar nos ajudando ou não.

Um lado meu sente vontade de sair da cidade grande e ir para o interior. Uma parte de mim quer ir ainda mais longe e tentar a chance em outro país. Ir para algum lugar mais seguro onde minha filha possa crescer com a liberdade de ser ela mesma, sem medo.

No entanto a ideia de deixar meus pais pra trás é paralisante. Mesmo a ideia simples de deixar a cidade pra tentar a vida em outro lugar, sem eles me parece impossível depois de tudo que passamos no último ano.

Essas últimas duas semanas meu pai teve uma crise de labirintite. Ficou vários dias de repouso tomando remédio e voltou às atividades devagar conforme foi melhorando. Nossa rotina foi profundamente afetada visto que ele é o principal responsável por levar as pessoas de um lado pro outro (eu, Rebeca, minha mãe) e por fazer as compras.

Semana passada a médica de minha mãe voltou das férias e minha mãe decidiu parar de fingir que estava bem e aceitou ir ao PS depois do segundo dia de febre.

Lá a médica dela constatou uma nova pneumonia. Tratamento em casa, antibióticos mais fortes, e tudo o que já sabíamos.

Em casa após o médico minha mãe admite que vinha sentindo dores no peito há semanas, desde que voltou da praia, mas como a dor passava com analgésicos ela achava que estava tudo bem...

E isso me lembrou que podemos ter tido uma melhora sim, mas que essa história ainda não acabou...

No meio do caminho, vamos ver apartamentos na nossa cidade mesmo.

Meus pais vão precisar de ajuda e cuidado. Eles não vão ficar mais novos. Não vai ficar mais facil. E eu não conseguiria ficar bem comigo mesma se eu não tentasse oferecer à eles o mesmo cuidado que eles até hoje tem comigo. Então vamos mudar de casa sim, mas para 2 aptos no mesmo prédio, para ter a proximidade e a individualidade preservadas na medida.
Então estamos vendo aptos por perto.

Eu leio as notícias do dia e fico tonta.
Não sei se é melhor me alienar ou me manter informada.
Tento me concentrar em nós.

Acordo cedo e mantenho a rotina.

Eu não sei se tenho direito de opinar nas decisões da casa. Não me sinto capaz de mudar minha realidade.
Muitas coisas estão fora do meu controle.

Mas eu posso acordar cedo e trazer a Rebeca a aula de dança. Posso acompanhar ela até a escola, e ajudar na lição de casa. Posso me esforçar para ajudar meus pais em sua decisão e a entender que a palavra final e deles.

E eu posso vir aqui e escrever e contar um pouco disso tudo. Porque isso ajuda.

Quando tudo em volta parece se mover rápido demais vir aqui me ajuda a acompanhar o movimento.

E isso eu posso fazer...

sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

E sexta feira e eu não sei...

Tive uma conversa ontem que virou discussão e por fim desabafo.

As férias acabaram e o que senti foi que a cortina de humor e disposição que me cobre nesse período se fechou.

Aplausos, foi um belo espetáculo. Mas ao fim de cada teatro nós pegamos nossas coisas e voltamos para casa.

E em casa nos deparamos com a bagunça que deixamos antes de sair. "Arrumo quando eu voltar" falamos sem pensar no cansaço da volta.

De repente uma notícia de jornal me tirou o chão e me fez sentir medo.

Em minha mente vi toda a falta de segurança, de liberdade, de civilidade, de humanidade, sumirem em segundos.

Em segundos me senti em perigo. Em segundos eu senti que precisava defender minha filha e seus direitos mais básicos.

E em minutos uma conversa sobre um artigo no jornal virou uma discussão e por fim um desabafo.

E me senti inundar por todo o sentimento de inadequação, de incapacidade, de ...

Olhei pra mim e vi alguém que fez escolhas ruins. Alguém que fez as escolhas possíveis, mas que hoje se vê presa a uma realidade que não me completa. Presa numa casa, cidade, estado, país, sem chances de buscar ou tentar conhecer novos horizontes por mérito próprio.

Alguém incapaz de mudar a própria realidade.

De garantir a segurança, a autonomia e a liberdade de minha filha. De protege-la... De dar a ela chances melhores, de ser quem ela quiser ser, onde ela quiser ir.

Alguém incapaz. Alguém que depende dos outros para tudo e exatamente por isso incapaz de mudar isso.

Em segundos fui inundada por uma tristeza e um enorme desespero.

A conversa acabou, as lágrimas secaram, me concentrei em respirar e deixar o dia terminar.

A intensidade desses sentimentos me cega para o mundo real.

A bagunça na casa me impede de ver a sala, os quartos, e cada canto desse que é o meu lar.

A bagunca de sentimentos intensos demais nessa retomada da rotina após as férias me impede de ver as coisas boas que vivo e faço.

Então eu apenas deixo o dia acabar para poder dormir e descansar um pouco. Apreciar o silêncio da noite quando tudo em volta já dorme, e deixar que esse silêncio me preencha.

Encontro refúgio nos pequenos luxos e prazeres que posso alcançar. Uma tarde menos quente, um jantar de sabor forte, uma fuga gastronomica para calar e engolir o choro.

Vai passar.

Arrumar a casa pode dar trabalho mas é necessário para encontrar o conforto escondido por trás das almofadas fora do lugar.

Respiro. Tomo um café.
Em alguns dias as coisas voltam ao normal.
Eu também.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Da volta a rotina que tanto amamos!

E as férias chegam ao fim.

Foi um mês bem aproveitado. Viajamos 2 vezes, uma para uma chácara no interior, outra para uma casa na praia.

Junto conosco o primo da Rebeca, fiel companheiro.

Recebemos meu sobrinho por algumas semanas. Teve jogos e brincadeiras, alguns desentendimentos, e infelizmente muito tempo em celular e computador. Mas o saldo no final foi positivo e as crianças ficaram felizes de ter companhia.

Teve Natal e Ano Novo. Teve aniversariante do sobrinho e do marido.

Teve ida ao parque de diversões, com montanha russa e barco viking. Teve calor, muito calor. Aliás, ainda tem muito calor! Ufa!

Mas tudo tem um começo, um meio e um fim, e as férias terminaram.

Não estamos nada tristes com o fim das férias e isso se deve por amarmos muito a nossa rotina, nosso dia a dia.

Voltam às aulas de dança, tão amadas. Volta tímida mas aguardada. Rever os amigos, mexer o corpo com a música, conhecer pessoas novas...

Volta às aulas na escola. Série nova, professora nova, velhos amigos, novos desafios.

Acorda cedo mas acorda feliz. Corre pra fazer lição, pra almoçar, pra não se atrasar, mas tudo com um sorriso.

Sorriso banguela. Mais um dentinho caiu nas ferias. Mas sem fada do dente. Agora ela quer guardar os dentinhos.

Janta, assiste vídeo, ou TV, descansa. Dorme cedo, lê um livro, não nessa ordem.

Começa de novo amanhã.

Feliz.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Sometimes...

I'm not feeling bad all the time.
And I'm not happy all the time either.

Being bipolar is not about being sad or happy. It's not about that normal Mood swings everybody has several times a day.

It's about living in a rollercoaster inside your own mind. It's about being overwelmed by the smallest things. It's about depression, and the kind of pain you can't hope to describe how hard it is to just
 breath and be.

Being bipolar is about thinking too much, too fast, too big. It's going in this loop of thoughts that you know makes no sense racionaly and yet you don't seen to be able to make It stop. You Just can't stop.

Sometimes it's so exausting that you feel you could sleep for days. But you don't. You close your eyes and the thoughts get stronger, more real, more scary, more. When you finaly manage to sleep you wake up after Just a few hours. You still tired, but staying in bed seen Impossible.

Sometimes your so happy and has so much energy It feels you could do anything.
And as fast as a heartbeat, It fades away and you feel miserable again.

You feel you can't Trust yourself, why Others should? Why they shouldn 't?

And sometimes you Just feel ok. Normal.

It doesnt have to be like that.

Bipolar disorder is a treatable illness.
There are several treatments.
They are hard,  because It Takes time for then to really work. Months, years.
Yes, It needs commitment.
You start to see a diference in feel weeks, but the treatment need ajustment. But it's worth It.
Terapy helps a Lot. Like, really, a Lot.
You nedd to be patient, and I know it's hard to be patient when we are in pain.

But is worth It.

I'm in treatment now for 15 years.
I still have my ups and downs. I had a Lot of downs the last few years. But is nothing compared to How It was before the treatment.

Sometimes the days are bad.
Sometimes they are better.
Sometimes I'm Just ok.

Sometimes It rains.

Sometimes...


sábado, 5 de janeiro de 2019

O mundo que Atropela

O mundo que atropela.


Respira.
Levanta a cabeça,
Senta na cama,
Respira.

O ano começa com velocidade,
As mudanças,
Dentro e fora,
Agitam os pensamentos
Que mal tem tempo
De se formar.

Liga a TV,
Assiste o jornal,
Mexe no celular,
Olha só isso!
Não, pera, o que?

Somos atropelados
Pelo passado
E sem tempo de reagir
Tudo que consigo pensar e:
Respira. Para. Levanta a cabeça.
Respira.

A festa de Réveillon foi
Tão boa,
Tão alegre,
Tão fantástica,
Que parece que os dias passam,
Mas a ressaca fica.

Olha pra tela,
Lê mais uma história,
Engole em seco.
Tem que ser sede,
Só pode.

Lê mais uma,
A cabeça gira,
Toma o analgésico,
Esse mal estar todo
Tem que ser gripe.
Só pode.

Troca de aplicativo,
De música,
De roupa,
Desliga.

Muda o foco,
Muda de ideia,
Muda de casa.

Não, pera, o que?
Respira.
Levanta a cabeça,
Levanta do chão,
Respira.
Continua.

Só não desiste.
Continua.
Desliga o celular,
Desliga a TV.
Me liga.
Vamos juntos.
Respira.