De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

sábado, 23 de março de 2024

Sobre a rotina e os silêncios...

 Meu ex-marido era uma pessoa barulhenta. 

Não entenda isso mal, era apenas parte de quem ele é.  

Ele é um homem grande, de 1.90m de altura e eu sempre senti que isso afetava a presença dele no mundo de forma que ele sempre ocupava muito espaço. 

Meio desajeitado, as vezes não tinha noção do próprio tamanho.

Mas isso incluía o nosso espaço sonoro.

E as vezes com questões peculiares...

Ele é uma pessoa musical, adora música, ouve todo tipo nem que seja só para conhecer e ter uma opinião. Por gosto mesmo ele sempre gostou de rock pauleira e com letras inteligentes e sarcásticas. Mas barulhentas. Matanza, A Cana, Velhas Virgens, entre outros do gênero eram ouvidas em volume alto com frequência nos 23 anos que estivemos juntos.

Teve outras coisas também que faziam mais meu agrado: Legião Urbana por exemplo foi a trilha sonora do dia do parto da Rebeca. Nós ficamos cantando no quarto durante as horas que esperamos até a cesariana começar e, coincidentemente,  era o que tocava na rádio que os médicos colocaram pra tocar na hora do parto. 22h40 da noite e nosso coração foi embalado por um resmungo e Renato Russo cantando.

Mas voltando, o barulho.

Quando não estava ouvindo música ele estava assistindo algo na TV. Assobiava com frequência. Se mexia e fazia barulho. Sua altura fazia com que até ir ao banheiro fosse algo barulhento, como uma torneira aberta. Ele respirava alto pois tinha problemas respiratórios e estava sempre com sinusite. E roncava, muito e muito alto.


Um amigo meu, terapeuta, disse que se eu estava no ponto em que a respiração dele me incomodava eu fiz muito bem em terminar.


Mas o fato é que esse era o barulho externo.

Existe um outro barulho constante na minha vida que algumas pessoas talvez se identifiquem, que é o barulho interno. 

Dentro da minha cabeça, 24h por dia, eu sou incapaz de manter minha mente sem pensar em nada. Existe uma sensação constante de barulho, como se eu estivesse em uma festa, do lado das caixas de som que tocam uma música muito alta, e as pessoas estão conversando, e o ambiente é de tal forma que essas vozes e a música me fazem não conseguir ouvir esses pensamentos.


As vezes é mais baixo, as vezes é mais alto, mas está sempre lá. Ou estava. A minha medicação tem a capacidade quase mágica de fazer esse barulho passar por algumas horas - é isso que me permite dormir, por exemplo.


Quando eu estou passando por um período de mais estresse,  esse barulho fica mais alto, e por consequência, pra conseguir me manter mais calma, eu preciso que o barulho externo seja, então, quase nulo.

Eu preciso de silêncio. 

Cada vez mais nos últimos anos eu senti necessidade de silêncio.

Eu trabalho melhor em silêncio. Eu penso melhor em silêncio. Eu me acalmo com silêncio. Eu aprecio os momentos que posso curtir minha solitude e descansar em silêncio. 


Isso faz com que eu adore a madrugada. 

E isso me fez pensar esses dias que eu sempre fui assim. Adoradora da calma e do silêncio da madrugada, quando o mundo inteiro está em suspenso, no sono. Sem barulho na rua, sem preocupações, sem lugar pra ir,  sem estar atrasado pra nada e sem ter compromisso algum com ninguém. Só eu e a noite.

Durante minha adolescência eu aproveitava esses momentos para escrever. Eu esperava todos irem dormir, fazia uma batida de leite com chocolate e muito gelo,  sentava no computador no meu quarto e escrevia madrugada adentro. Nossa, era incrível...


Não tenho mais 14 anos e não aguento mais passar madrugadas acordada, além de ter diversas outras obrigações durante o dia. O mundo não me espera mais.

Mas eu sinto necessidade desses momentos de solitude e silêncio.

Então criei o hábito de acordar de madrugada. 

Acordo as 5h todos os dias,  inclusive nos fins de semana, para curtir um pouco esses momentos. Durante a semana dura pouco, coisa de 30 min até eu ter que acordar a Beca pra aula e o dia começar a se movimentar.  Mas nos finais de semana em que ela dorme até mais tarde eu posso aproveitar melhor esse tempo.

Vejo o sol raiar pela varanda e aproveito o vento gelado do começo da manhã. Faço meu café e fico ali, na mesa, apenas contemplando a casa que eu tanto amo.

Penso em mim, no meu dia, na minha semana. Respiro e sinto o tempo passar. Mexo no celular sem ver nada muito específico. Só deixo o tempo passar em silêncio...

As coisas não estão fáceis. Tem muita coisa boa acontecendo, mas nem tudo é assim e isso não torna tudo mais fácil. Eu ando com muito barulho interno.

Então eu tenho aproveitado cada vez mais o silêncio. 



E você? Que  tipo de pessoa é você?

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