Essa semana tive que recusar um trabalho.
Assim, dizer não.
Era um trabalho que eu queria muito, que eu estou esperando pela oportunidade há anos, e quando finalmente a coisa se apresentou, eu tive que dizer não.
Era um trabalho em uma sala de roteiro. Roteirista Junior. Mas logo na conversa preliminar eu tive que pular fora.
Porque era uma vaga de período integral, presencial, longe da minha casa.
E eu não tenho essa disponibilidade.
Eu sou uma mãe solo que mantém o cuidado quase total com minha filha sozinha. E por mais que ela seja adolescente e em teoria poderia ficar sozinha e se virar no horário que eu estaria fora, ela está num momento com problemas de depressão, em tratamento, e requer um acompanhamento mais próximo. O fato é que eu não posso estar longe de casa o dia todo, e se eu sair, preciso ter a possibilidade de voltar facilmente e nunca com frequência diária.
Além disso eu sou o único apoio do meu pai, que mora no mesmo condomínio que o meu, nos cuidados com a minha mãe.
Minha mãe tem síndrome do pânico e uma serie de limitações físicas, e para que ele possa sair e resolver pendências na rua eu preciso estar disponível para ficar com ela.
Então eu não posso ficar pelo menos 10h por dia fora, em horário comercial. Eu preciso estar por perto.
Cheguei a perguntar na conversa sobre o trabalho se não haveria a possibilidade de fazer meio período presencial apenas ou fazer algo híbrido, mas eles não abriram essa opção.
Então eu tive que pedir mil desculpas e rejeitar o trabalho.
Não me arrependo.
Estou desenvolvendo outros projetos pessoais que eu espero possam me render algum retorno financeiro em breve e que me permitem ter essa flexibilidade de horário.
São projetos de desenvolvimento de roteiro, de produção, e empreendedorismo, que vão me ocupar quase o dia todo, mas que eu posso fazer boa parte do tempo em casa e equilibrar melhor minhas saídas.
Sim, são mais de 2 projetos ao mesmo tempo.
E além disso eu tenho que continuar estudando e fazendo faculdade e cursos livres pra continuar me aperfeiçoando.
Tenho que cuidar da casa, nem que seja fazendo o mínimo pra subsistência, cuidar da minha saúde física e mental pra não deixar que a sobrecarga de coisas me prejudique, e continuar indo na academia pelo menos 4 vezes por semana.
E tenho uma gata e um cachorro pra cuidar também.
E aí, finalmente, eu chego nesse lugar: sobrecarga e maternidade solo.
Meu acordo de separação não limita visitas nem nada. Mas meu ex-marido tem uma série de problemas de saúde mental que está tratando também, o que limitam a capacidade dele de se manter presente.
E tem parte grande do machismo estrutural, não vou dizer que não. É fácil dizer que você vai cuidar da sua saúde mental e que precisa de tempo e espaço se você tem uma outra pessoa assumindo toda a responsabilidade.
Mas é um processo de adaptação a realidade do estar separado que nós ainda estamos passando, nós 3. Aos poucos ele tem se aproximado e tentado estar mais presente, e eu tento incentivar que ele e minha filha mantenham contato constante nem que seja por telefone e online.
Mas quem vive isso sabe que não é suficiente.
Mas ok. Eu vou ser muito sincera e dizer que eu já faço isso há tanto tempo, porque essas coisas já eram uma questão mesmo quando ainda estava casada, que acho que hoje eu prefiro que seja assim.
Faça o que pode e está ao seu alcance, só não me atrapalhe e questione as decisões que eu preciso tomar por ter que fazer 90% das coisas sozinha.
E ele não atrapalha e não questiona. Falando de coisas de ordem prática, claro. Pro emocional, graças a ajuda, temos terapia.
No fim eu a Beca vamos aprendendo a nos virar, e fazemos nossos planos mais entre nós duas que outra coisa.
No entanto, pra tudo isso dar certo, as vezes coisas assim acontecem: eu tive que rejeitar um trabalho.
Eu sei que outras oportunidades vão surgir, e que boa parte delas vai me permitir fazer as coisas equilibrando com minha demanda pessoal, mas é uma decisão difícil.
E a vida da mãe solo é de decisões difíceis e por vezes de abrir mão de coisas que não se encaixam no que a gente pode fazer.
De tudo que aprendi é que tudo tem seu tempo e nada é definitivo. Então eu trabalho com o que esta dentro das minhas limitações hoje.
Amanhã é outro dia.
Vida que segue.
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