Aos 5 ela me trouxe pela primeira vez o sentimento de inadequação e de achar que não merecia viver.
Se sentia infeliz consigo mesma e com sua aparência. Sofria bullying nas aulas de ballet de meninas magérrimas que a consideravam gordinha demais para a dança.
Não, ela não era.
A pandemia fez com ela o que fez com grande parte dos adolescentes e agravou enormemente seu quadro de saúde mental e o que eram episódios pontuais e mais leves se tornaram um claro transtorno de ansiedade e depressão profunda.
E nós estamos lutando contra isso e tratando com médicos e terapeutas desde então.
Eu quis trazer isso para falar de um medo que eu sei que toda pessoa que se descobre bipolar e deseja ter filhos tem: e se meu filho acabar sendo bipolar também?
Quando eu decidi ser mãe eu ponderei bastante sobre isso e eu cheguei a conclusão que ninguém melhor para cuidar de um filho bipolar do que eu que já passei por isso.
Durante a gravidez eu conversei muito com meu terapeuta, conversei muito com minha filha ainda na barriga, e ensaiei como eu falaria com ela sobre a minha condição de saúde.
Ao longo desses anos ela viveu comigo minhas instabilidades. Sempre de forma honesta e transparente, dando a ela toda a informação necessária para cada fase da vida dela.
E isso tem sido importante num momento que nos voltamos para a saúde dela.
Com uma mãe bipolar e um pai depressivo, era quase inevitável que ela apresentasse algum quadro de transtorno emocional. E sabendo disso eu me preparei.
Não é facil. Não é fácil pra ela, mesmo com toda a informação e apoio, viver nessa montanha russa. Não é fácil pra mim ter que reviver tudo isso para poder ajudar ela da melhor forma que eu posso.
Mas nós estamos levando.
Uma das coisas que fiz esse ano e que sinto que foi um acerto, foi trocar ela de escola e buscar uma escola mais aberta e preparada para lidar com essas questões. A escola e a rotina escolar, pra ela, são um gatilho forte e ser acolhida nessa dificuldade tem feito diferença.
Ter um psiquiatra bom acompanhando o caso e um terapeuta que ela se sente confortável e confia tem sido outro fator muito importante.
Apoio da família e amigos são imprescindíveis.
Mas a coisa que eu sinto que faz mais diferença é poder estar perto dela.
Ela me acessa muito e precisa muito de contato e cuidado durante os dias mais escuros. E ela acaba sendo também um apoio nos meus dias difíceis.
Não é ideal, talvez, mas é o que temos. Temos uma a outra e um amor muito forte.
E eu me esforço pra ser para ela o exemplo de que tudo o que ela sente hoje de ruim, não vai durar pra sempre. Que é possível ser feliz, ser capaz, e alcançar nossos sonhos. Temos que ter paciência, resiliência e coragem.
E temos uma a outra.
Podemos conquistar o mundo.
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