Era um mês de julho e eu simplesmente não sentia vontade de
fazer nada.
Em casa a coisa não era melhor. Chorava sem motivo algum, comia muita besteira,
passava as madrugadas acordada assistindo TV e jogando vídeo game, e de manhã
me recusava ao máximo a levantar para ir à escola.
Meu pai, mais de uma vez, cortou o fio da TV com faca para
que, já que eu ia ficar em casa, não tivesse a TV como distração. Ele não
entendia que a TV não era o problema. E ignorava que eu sabia refazer a fiação.
Brigava muito com meus pais, em especial com minha mãe. Me sentia incompreendida o tempo todo. Por mim mesma, inclusive. Não entendia aquela dor que eu sentia dentro de mim o tempo todo.
Em determinado momento decidi começar a me cortar, autoflagelar,
especialmente depois de uma briga, para ver se a dor que eu sentia com os
cortes podia por um momento me fazer esquecer a dor que eu sentia dentro de
mim.
Quando eu ainda estava na 6 série, perto do final do ano,
meus pais pediram que minha irmã começasse a me levar para sair com os amigos
dela, para que eu saísse um pouco de casa.
Eu sou muito grata a eles todos por isso. Por que esse foi o começo de algo que me salvou por muitos anos sem fazer tratamento.
Eu sou muito grata a eles todos por isso. Por que esse foi o começo de algo que me salvou por muitos anos sem fazer tratamento.
Não foi fácil, mas eles estavam dispostos a me ajudar, e me
aceitaram junto deles. Eu me sentia mais como uma mascote, mas mesmo assim, foi
mais do que eu havia tido nos últimos 2 anos.
Minha irmã e seus amigos jogavam RPG. Saiam a noite para ir
à bares, sim, por que a maioria deles era maior de idade ou quase. Mas muitas
vezes apenas iam lá em casa, jogar RPG, passar tempo, conversando ou mesmo
jogando vídeo game.
Eles foram os primeiros a adotar nossa casa como um segundo lar temporário. E no auge da minha crise, foi a diversão de jogar RPG e as pessoas que conheci através deles que iriam, por fim, me ajudar a sair do abismo que eu me encontrava.
Com eles houveram dois momentos bem marcantes, e uma pessoa que me adotou como irmã e cuidou de mim ainda por muitos anos pra frente.
O primeiro momento foi numa discussão que eu os ouvi ter em casa onde eu ouvi minha irmã, brigando, dizer “Mas vocês são MEUS amigos!” e um deles responder “Nós somos amigos DELA também!”
Eu nunca esqueci isso.
Mas ainda sim, a dor persistia dentro de mim, e eu tinha dificuldade de me
adaptar a tudo aquilo. Ao atender o telefone de casa e reconhecer a voz de
qualquer um deles, nem esperava que pedissem, já avisava que ia chamar minha
irmã e passava o telefone pra ela.
Então um dia fui pega de surpresa por um dos amigos dela. “Eu não liguei pra falar com ela, eu liguei pra falar com você!”. André... Nós passamos uma hora conversando no telefone aquele dia, e no fim ele não pediu para falar com minha irmã. Nós nos despedimos e ele só ligou pra ela no outro dia.
Então um dia fui pega de surpresa por um dos amigos dela. “Eu não liguei pra falar com ela, eu liguei pra falar com você!”. André... Nós passamos uma hora conversando no telefone aquele dia, e no fim ele não pediu para falar com minha irmã. Nós nos despedimos e ele só ligou pra ela no outro dia.
Aquele dia ele ligou e falou comigo.
Eu ainda acho que ele fez isso por pirraça pela forma como
eu atendia o telefone. Mas não importa. Nós fomos amigos até o final, quando
ele foi levado da vida mais cedo...
Queria que ele soubesse que aquele simples telefonema foi de
imensa importância na minha vida. Mas se hoje não posso contar pra ele, conto
para você.
Ele foi alguém que esteve do meu lado quando eu mais
precisei...
Dos amigos de minha irmã eu me apaixonei por um deles.
Daqueles bons amores impossíveis que temos na pré-adolescência, eu tinha 12
anos e ele 20. E por mais que a reputação dele fosse de galinha que sai com
todo mundo, ele era um cara bem correto. Obviamente nunca se interessou por
mim, e eu agradeço por isso também. Por que foi importante ter contato com
pessoas que faziam o que era certo. E ele me adotou como irmã, cuidou de mim, e
esteve ao meu lado em bons e maus bocados. Ele tomou para si a responsabilidade
de cuidar de mim quando eu não estivesse em casa, ficando comigo quando meus
pais saiam, me levando para sair, me buscando quando eu eventualmente conheci
outros amigos e saia sozinha, mesmo que eu ligasse pra ele ás 3 da manhã e ele
estivesse dormindo. Foi, é, meu irmão. Sempre será. Por que amor se constrói,
se mantém, assim, com pequenas e grandes ações. Mas principalmente por estar lá
quando parece que estamos sozinhos.
Amizades... nunca tive...
ResponderExcluirDepois dos trinta descobrimos que é mais difícil ainda se fazer amizade e para completar moro em um lugar onde mal conheço as pessoas.
Tenho plena consciência de como amigos de verdade são fundamentais!