De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Uma conversa sobre depressão...

Não, não sumi de verdade, de novo.
Só esta bem difícil de escrever.
Então quero falar um pouco sobre isso. Sobre depressão.

A depressão sempre foi um dos aspectos mais fortes no meu tipo de bipolaridade. Sim, existe mais de um tipo de bipolaridade, e vale a pena pesquisar sobre isso. Inclusive, você pode apresentar tipos diferentes em etapas diferentes da sua vida.

No meu caso, apesar de já ter tido diversos episódios de Mania e de Ciclotimia, a depressão sempre foi uma companheira mais constante.

Minha primeira crise depressiva foi entre os meus 12 e 13 anos. Não foi um episodio rápido, de dias ou semanas. Estou falando aqui de um quadro que teve inicio discreto quando eu tinha 9 ou 10 anos, e que foi se agravando muito quando eu troquei de escola e passei a ser alvo de bullying e a ficar isolada, aos 10. E isso culminou numa crise tão severa, por volta do final dos meus 12 anos,  que, ai sim com 13 anos, no meio da sétima série, eu não tinha mais condições de frequentar a escola. Nesse momento meus pais, finalmente, deixaram de achar que era “uma fase” e me levaram ao médico.
Fui diagnosticada com PMD – Psicose Maníaco Depressiva – e tratada com antidepressivo. E ai vocês podem imaginar o que aconteceu: o remédio desencadeou um episodio de mania, todo mundo inclusive eu acharam que eu estava melhor, e adeus remédios e médicos e olá crises cíclicas pelos próximos 9 anos.
Quando eu iniciei meu tratamento aos 21, portanto, eu já sabia o meu diagnostico. E acho que isso ajudou, pois fez com que eu conseguisse enxergar o que eu estava vivendo não como “um momento” ou “uma tristeza” mas como parte de uma doença muito mais grave e a qual eu não conseguia mais controlar sozinha.
O fato de ter visto minha mãe lutar por toda a minha vida contra a Síndrome de Pânico também ajudou, pois eu sabia que se eu me tratasse e insistisse no tratamento, eu ficaria melhor, e poderia ter uma vida produtiva. Com limitações, sim. Mas eu sabia que aquele horror pelo qual eu estava vivendo iria passar.
E eu sei disso hoje também.
E eu sei disso todos os dias.
E eu digo isso pra você: Vai passar. Isso vai passar.

Quando comecei meu tratamento em 2003 eu cheguei a ficar 14 dias internada para ajustar a medicação, pois minha psiquiatra tinha medo que eu “sofresse um suicídio”. Eu digo sofrer e não cometer por que nunca existiu a intenção de morte, mas o meu comportamento com a medicação que eu estava apenas começando a tomar era tão perigoso que isso poderia acabar acontecendo da mesma forma.

Após ser liberada da internação, onde eu praticamente dormia o dia inteiro, eu precisei voltar a morar na casa dos meus pais e a partir daí levaram muitos meses até que eu tivesse condição de ficar sozinha de novo.

Começar o tratamento foi muito difícil. Pra mim, claro, mas pra todas as pessoas que conviviam comigo – meu marido, meus pais, minha irmã, meus amigos, minha família. Nós tínhamos que aceitar que eu estava doente, que o meu comportamento não era intencional, que eu não era capaz de controlar meus sentimentos ou minhas ações.
Que eu precisava, conforme a medicação fazia efeito, aprender a sentir tudo de novo. Precisava aprender a pensar, a acalmar minha mente.
Era como se antes eu pensasse à 200km por hora e de um dia pro outro não conseguisse passar de 20Km mesmo que eu me esforçasse.
E uma das coisas que o remédio fez, naquele momento, foi me manter deprimida.

Louco isso não?

Mas o fato é que uma das primeiras coisas que a medicação faz é evitar as mudanças de humor e te manter com um humor só. E, fato é, é muito mais fácil se manter deprimido do que em Mania não?

E é mais fácil tratar um paciente depressivo, por que mesmo que ele não acredite que possa ficar melhor, ele está mais disposto a seguir as instruções do médico, terapeuta e da família, do que uma pessoa em mania que acredita que não precisa daquilo.

De lá pra cá eu alcancei a estabilidade 5 anos depois, engravidei, fiquei quase sem medicação durantes a gravidez, tive uma filha que é tudo pra mim, retomei a medicação, levei mais de um ano pra voltar a me sentir normal de novo, tive altos e baixos, alguns mais altos, outros mais baixos, mas nada comparado ao que eu vivi sem o tratamento.

2015 não tem sido um bom ano. Muitas coisas aconteceram e meu humor, que desde o final de 2014 já estava ruim, mas lutando contra a depressão, foi de mal a pior. A cada vez que eu me percebia melhorando, algum fator externo me devolvia pro olho do furacão.
Doi muito. É difícil lidar com outras pessoas, ou ter paciência. É difícil sentir vontade de fazer qualquer coisa, e de sentir prazer genuíno nas coisas que eu consigo fazer. Existem dias melhores, e eu tento aproveitá-los como posso. Mas existem os dias de rebote, de ressaca mental desses dias melhores, em que tudo que eu consigo fazer é tentar não ser muito desagradável.

É um esforço falar, pensar e fazer qualquer coisa. Cansa. E eu me sinto constantemente cansada.

Ficar e fazer coisas com a Rebeca, com meu Marido, com minha família, são momentos em que sinto que estou saindo debaixo da água e conseguindo respirar. São momentos bons e eu sou grata todos os dias por tê-los e minha vida.

E mesmo assim, eu sei isso sobre a depressão: Isso vai passar.

Se eu for ao médico, falar sobre a medicação, tomar a medicação corretamente, continuar na terapia, e usar os gatilhos que eu aprendi nos últimos 12 anos para me ajudar a sair dessa, isso vai passar.

Terão diz que eu só vou conseguir fazer o mínimo. E tudo bem. Tudo bem fazer o mínimo.

Terão dias, no entanto, em que eu vou ter mais vontade e mais energia, e nesses dias eu preciso tentar agir para que esses momentos se multipliquem.

Tem muita gente que acha que deixar de estar deprimido tem a ver com se sentir bem.
O que eu aprendi é que tem a ver com parar de se sentir mal o tempo todo.

Ninguém é feliz o tempo inteiro. O segredo não é buscar a felicidade, mas buscar não se sentir mal.
É se sentir normal. É ser capaz de ter uma conversa sem que isso te cause uma estafa mental.
É ser capaz de levantar da cama de manhã e reclamar que acordou cedo.
É querer que suas férias cheguem para você viajar.
É esperar pelo fim de semana e reclamar do trabalho, mas ser capaz de ir trabalhar.

É não se sentir mal o tempo todo.

É deixar de estar deprimido.


Então, eu vou repetir, pra mim e pra você:

Calma. Respira. Isso vai passar.

Isso vai passar.

Busque ajuda. Se cerque de pessoas e coisas que você gosta. Fique num lugar que te traga segurança. E confie no seu tratamento.

Isso vai passar.

Um comentário:

  1. Me identifiquei muito. Obrigada por compartilhar tua experiência e a forma que encontrou de lidar. Um abraço.

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Ai, que bom que você veio! Puxe uma cadeira,sente-se no chão e sinta-se na casa alheia.^^ Mas me da um toque :P