De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

terça-feira, 13 de outubro de 2020

Aquele sobre o aniversário de 11 anos



 Rebeca completou 11 anos em um Brasil em quarentena. Um lugar que, apesar das flexibilizações duvidosas país afora, as pessoas permanecem tendo de ficar o áximo possível em suas casas, se protegendo e protegendo os outros de uma doença perigosa, sem cura.

As vezes banalizamos para poder continuar vivendo sem estar em pânico constantemente, mas a verdade é que a Epidemia não acabou e continua matando quase mil pessoas todos os dias.

E nesse cenário de incertezas e medo, Rebeca fez 11 anos.

Muito mais do que uma mudança de um número, eu acho que ela não percebeu as mudanças que aconteceram com ela durante esse ano. Ela era uma criança de 10 anos, no aniverário do ano passado quando ainda me pediu para ganhar um boneca, das caras, de presente de aniversário.

Esse ano nós vamos pintar o cabelo dela de colorido como presente de aniversário.

E como se comemora aniversário em meio a quarentena? Com parabéns virtual? Sim, claro!
Mas eu achava que era pouco.

Eu queria fazer o aniversário dela ser especial, memorável, divertido!

Rebeca gosta de festas grandes, preparar as festas, monstar lembrancinhas. O que poderia suprir esse gosto?


Decidi que iríamos viajar.


Pedi a uma prima minha que tem casa na praia se ela poderia nos emprestar a casa dela por alguns dias para comemorar o aniversário da Rebeca, Conversei com ela com mais de um mês de antecedência para ter certeza que daria certo e que fosse no dia mais proximo possivel do aniversário da Beca.

Minha prima concordou. Nos organizamos e ela conseguiu que nós fossemos passar 5 dias exatamente no intervalo que aconteceria o aniversário da Rebeca. estaríamos na praia no dia certo!

Comecei então a organizar as coisas.

Eu queria que ela tivesse contato com outras crianças. Conversei com dois casis de amigos meus proximos e com quem nós temos convivido durante a quarentena por motivos de trabalho e saúde mental cujos filhos são amigos da Rebeca para que eu pudesse levar as crianças na viagem.

Com isso em mente, tentei fazer com que eles se sentissem seguros de deixar as crianças comigo e planejei a viagem para que meus pais pudessem ir conosco alguns dias e os amigos da Rebeca em outros, assim ela teria um pouco de cada coisa.

Arrumei também para que a irmã dela pudesse ir junto. Convidei um amigo meu que esta trabalhando conosco e esta sempre aqui em casa para nos acompanhar, assim poderiamos ir com dois carros pois ele poderia nos auxiliar sendo um dos motoristas.

Semanas passam e meus amigos não me dão a resposta definitiva sobre as crianças. Meus pais estão com duvidas pois minha mãe tem muita dificuldade de sair de casa. Eu sigo organizando a viagem conforme posso, contando com a presença deles.

Eis que 3 dias antes de irmos viajar um dos meus amigo dias que não vão poder. Duas das tres crianças que eu tinha convidado estavam ali deixando de participar.

No dia seguinte disso meus pais dizem que não vão também. Minha mãe não esta confiante o suficiente.

1 dia antes da viagem eu sinto como se tudo estivesse dando errado. Fico pessima. Peço ajuda para lidar com a frustração. Recebo a ajuda. Recupero o folego. Bola pra frente e vamos em frente!


E fomos


E foi ótimo! Foi uma viagem deliciosa! Apesar de não irmos realmente até a praia em si para não nos arriscar com COVID nem nada, a casa tinha piscina. OS dias estavam muito quentes e ensolarados e pudemos aproveitar bastante a água, os dias na rede, passar a noite jogando jogos. Relaxar e apenas curtir o momento.
NO dia do aniversário propriamente dito nós cantamos parabéns e cortamos o bolo que eu havia feito e levado para a ocasião, do jeito que ela pediu. Fizemos o parabéns virtual com meus pais e minha irmã.

Meu amigo que nos acompanhou é fotógrafo, levou a camera, e nos presenteou com um registro cuidadoso e delicado de um aniversário fora do normal.


Mas tudo que sobre, desce, não é mesmo?

No sábado, ainda na casa de praia, o dia amanheceu chuvoso e frio, Todos cansados dos dias anteriores, cada um se fechou em seu mundo. Baixas de humor. Uma crise.

E então que ela veio. Uma crise forte, certeira, avassaladora.

Eu sabia que eu ia ter um rebote devido a ansiedade de ter preparado a viagem. Eu me dediquei muito e dei muita importância e estava muito preocupada para que o aniversário da Rebeca fosse tudo de melhor que eu pudesse fazer. E isso sempr tem uma consequência.

Mas eu estava esperando a consequencia quando voltasse para casa, não no meio da viagem.

Passei o dia entre o lá e o cá, brigando com o sentimento dentro de mim. Perdi. Em determinada hora apenas pedi que o Taz assumisse o cuidado com as crianças e me deixasse tentar descansar. Eu tinha esperanças de que, se eu conseguisse dormir, o sentimento fosse embora.

Mas ela veio. A dor. Uma dor de proporções que eu não sentia há mais de 10 anos. Um sentimento de vazio, de inadequação. De solidão. De abandono. Uma dor dentro de mim, uma dor na alma, que tentava me convencer que eu não tinha valor nenhum, que eu era fraca, que tudo que eu tinha ali era por pena. Que no fim eu estav sozinha, sempre. Que eu iria perder tudo que eu achava que tinha conquistado. Que nada daquela felicidade do dia anterior iria permanecer...

Eu chorei copiosamente deitada na cama por mais de uma hora. Entre ondas de choro e alguns poucos minutos de calma eu tentava me levantar para pedir ajuda, para pedir companhia e não conseguia me mexer.

Quando depois dessa 1h hora, ainda em crise e chorando, percebi que talvez eu finalmente conseguiria levantar eu ainda consegui pensar que não queria que Rebeca ou meu sobrinho me vissem assim, não queria assusta-los. Então eu não podia chamar o Taz. Eu precisava que ele continuasse com as crianças.

Então levantei e fui até o quarto mais perto, onde meu amigo e minha entenada estavam cochilando e  gritando, batendo a porta, implorei por ajuda. O tom que usei foi o de uma briga. Foi um grito, uma bronca. Foi a única forma que consegui fazer as palavras saírem da minha boca. Eu brigava não com eles mas com a dor dentro de mim que me sufocava.

Por sorte meu amigo entendeu e sem questionar apenas levantou e veio a minha ajuda. E ficou comigo, no quarto até que eu conseguisse me acalmar, falando comigo e me dando carinho.

Foi importante e necessário e serei grata sempre.

Naquela noite fui deitar cedo para deixar que tudo passasse, que o dia acabasse.

Acordei um pouco melhor no dia seguinte. Domingo. Dia de voltar para casa.

A viagem de volta foi boa. Lenta, por causa d echuva e neblina. Boa.

Demorei mais alguns dias para conseguir voltar ao normal. Não me culpei. Não fui culpada.


Olho para esse dias com muito carinho. Mesmo tendo tido essa crise tão forte eu não acredito que ela tenha estragado nada do que foi. Tivemos momentos maravilhosos, divertidos, e o mais impotante de tudo é que Rebeca ficou feliz com o aniversário dela. Ela se divertiu.

Eu alcancei o meu objetivo de dar a ela dias especiais para que ela lembrasse desse aniversário com carinho.

No meio de tantas coisas, eu recebi muito amor. Muita ajuda.

E se tem algo que eu quero lembrar desses dias é desse carinho.

Quero guardar na memória o amor.

Rebeca agora tem 11 anos.



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