De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

quarta-feira, 27 de março de 2013

Sobre Violência Obstétrica

Saiu esses dias um artigo que está rodando as redes sociais sobre violência obstétrica. Você já deve ter pelo menos visto ele rodando por ai, é esse AQUI (vai lá, lê e volta, ok?)

Hoje pela manhã me vi quase entrando numa discussão no Facebook por causa dele. Quase.

Primeiro quero dizer que eu não fico bem discutindo com ninguém. Nunca. Existiu um tempo que eu gostava de uma boa discussão, mas esse era o tempo que eu me achava dona da verdade, e tinha facilidade para me comunicar e argumentar. Esse tempo já passou. Um dos efeitos colaterais desagradáveis que tive com os medicamentos para bipolaridade foi a afazia. Um efeito colateral que tenha da própria bipolaridade é a facilidade de perder o controle e não conseguir mais argumentar por causa do nervoso de uma discussão. Unindo-se os dois eu fujo de discussões como o diabo na cruz.

Fugir de discussões, no entanto, não significa que eu não tenha uma opinião. E ter uma opinião não significa que eu não absorva mais informações e possa mudar ou manter a minha opinião ao obter essas informações.

E por fim acho que discutir com as pessoas através de uma rede social é uma das coisas mais desagradáveis a se fazer com você, com o outro, e com todos os outros que estão lendo a partir do momento que essas redes não permitem ter contato suficiente com uma pessoa para saber o por que daquela opinião a qual você foi contrário ou não, não permitindo um julgamento descente mas favorecendo pré-julgamentos tão vazios quanto um meme.


Voltando ao assunto. Eu quase entrei numa discussão por causa desse texto. Por que as pessoas que postaram o mesmo e nos comentários seguintes taxaram-no de melodramático. E eu não concordei com isso como vocês devem ter imaginado já. Só que eu preferi não entrar na discussão ali, nos comentários de um post do FB. No entanto eu fiquei incomodada o suficiente para agora, horas depois, isso ainda estar engasgado na minha garganta. Então achei que o blog, aqui, meu espaço, esse sim era um bom lugar para expressar minha opinião.

Eu conheço pessoas que foram vítimas de pelo menos uma forma de violência obstétrica.

Eu não sou uma delas.

Não acho que a minha boa experiência torne-a real para todos. Eu sei que eu vivi uma situação única, onde meu parto foi agendado por meu pedido, onde a médica que efetuou a cesárea era minha médica a 13 anos. Meu marido esteve ao meu lado o tempo todo, tirando fotos, conversando comigo. E eu sei que o acolhimento que recebi naquele momento era real, mas eu já sabia que eu era uma exceção a regra. e ainda sim hoje eu sei que algumas coisas que aconteceram poderiam ser diferentes, coisas que na época eu não sabia ou não tinha certeza.

E mesmo assim não me senti violentada. Não. eu me senti bem, feliz, com meu desejo atendido, segura.

Hoje eu faria escolhas diferentes? Faria algumas poucas. A mais óbvia é que eu não teria pedido por uma cesariana. Acho. Não sei. Talvez se eu me visse na mesma situação física e psicológica de então eu pedisse de novo.

Mas o que aconteceu comigo não foi o que aconteceu com basicamente nenhuma das minhas amigas próximas, conhecidas, leitoras do blog.

Mais de uma amiga minha teve impedido o direito a um acompanhante no pré parto, parto e pós parto. E vocês sabem que isso é lei, né? Elas também sabiam.

Mais de uma amiga fez uma cesárea desnecessária, induzidas pelo médico na crença de que eles estavam pensando no melhor para elas e seus bebês. Pelo menos uma delas eu tenho certeza que não era o caso.

Uma moça que trabalhou na casa da minha mãe relatou ter recebido uma chinelada da enfermeira durante o trabalho de parto por que estava gritando de dor. Trabalho de parto que resultou no parto de uma criança de 4,5kg. ela sofreu uma episiotomia, não recebeu anestesia. foi agredida verbalmente, fisicamente, por deixar transparecer uma dor mais que justa.

Eu tenho uma coisa em comum com essas mulheres. Eu sou mãe. Eu sei o estado real de fragilidade que uma mulher gestante vive. Uma fragilidade que vai crescendo junto com a barriga e que nos é alimentada por todos os lados. Que quando chegamos ao final do caminho, cansadas, pesadas, sem dormir, ansiosas, precisamos confiar naqueles que juraram não fazer nenhum mal. Que teoricamente dedicam suas vidas a cuidar dos outros.

E eu ouço os relatos das pessoas que amo e daquelas que não conheço e eu entendo boa parte disso.

Por que privar uma pessoa dos seus direitos é errado. Tratar uma pessoa agressivamente ou com indiferença durante um momento de extrema fragilidade é crueldade. E agredir fisicamente uma pessoa num momento que ela não tem condições de se defender de nenhuma forma é absurdo. E não aceitaríamos essas atitudes no nosso dia a dia e não devemos aceitar esse tipo de atitude das pessoas que deveriam estar ali para nos amparar, dar apoio e cuidar. Pessoas que confiamos nossas vidas e as vidas dos nossos filhos.

E não acho que seja um melodrama. Ou que não devemos reclamar disso já que a saúde de forma geral no país está um caos.

O País está um caos como um todo, certo? Vemos problemas por todos os lados. E eu acho que um dos motivos que não encontramos solução é por que não entramos mais num consenso. Cada um acha sua luta mais válida que a do outro e esquecemos que para mudar todas as situações encontramos a força nos unindo.

Violência obstétrica não é melodrama. É real, é um problema sério. Não é o único, mas nem por isso deve ser diminuído de seu valor. E se eu fizer pelo menos uma pessoa repensar sobre isso e entender que podia ser alguém que ama nessa mesma situação, que pode ser ou ter sido, então eu vou me sentir satisfeita por ter falado alguma coisa.


Um comentário:

  1. Ora Viva!
    Violência Obstétrica e doença bipolar são dois assuntos que me são caros e no meu caso estão interrelacionados. Aqui em Portugal, nos hospitais do estado, tenta-se que as crianças nascem por parto normal por forma a evitar os custos das cesarianas. Quando nasceu a minha primeira criança, há 16 anos, apesar de ter um bebé grande, mal posicionado, de me ter rebentado as águas há muitas horas, tentaram tudo por tudo para que a minha bebé nasce-se por parto normal. O meu periodo expulsivo levou um dia inteiro de sofrimento sem levar epidural ou uma simples anestesia. Por fim ela nasceu, de forcepes, e teve de ser reanimada. Teve que ir para o serviço de neotologia e eu fiquei sozinha e um farrapo. Saí da maternidade muito magrinha, exausta, tendo que arranjar forças para cuidar de uma bebé recem nascida. Claro que isto acabou por correr mal e passado uns tempos tive a minha primeira crise maníaca (sei eu hoje). Estive internada umas duas ou três vezes em consequência disso.
    Mas isto foi a minha história na primeira viagem da maternidade. Da segunda vez foi mesmo de cesariana (outro bebé grande e mal posicionado) mas correu tudo bem.
    Violência Obstétrica é um assunto muito sério e acho muito importante ser falado no teu blog porque acredito que alguns casos de depressão pós parto começam logo na maternidade e são originados neste tipo de violência.
    Beijinhos

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