De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Sobre se reencontrar...

Depois da festa e da animação vem o dia a dia, e a realidade é outra...

Não estou nada bem. Esse ano foi emocionalmente desgastante e eu me vejo imersa a inúmeras questões pessoais, buscando respostas e não encontrando nenhuma senão a certeza de continuar procurando até me encontrar.

Me sentindo constantemente triste, cansada, insatisfeita. Não tenho vontade de sair, e mesmo que sinta falta e querer os amigos por perto, não tenha ânimo para fazer convites. Ter que pensar em conversas, que não sejam reclamar de como me sinto, causa uma sensação automática de exaustão. Não consigo me alimentar direito, a comida na maioria das vezes tem gosto ruim e eu acabo passando os dias a base de sanduíches, miojo com muito, muito, queijo ralado, pizza de salsicha e arroz com ovo.

Na esperança de essa deficiência alimentar não causar tanto dano, continuo tomando as vitaminas indicadas pelo médico...

Mas as vitaminas não impedem os números na balança de aumentar e a minha energia de diminuir.

Durmo o máximo que posso porque sei que esse é o caminho para me manter no limite do aceitável.

Me sinto uma fraude. Não, não é isso. Fraude seria se eu estivesse enganando alguém. Não sei se é o caso.

Me sinto incapaz. Sem conseguir um trabalho formal fico pensando em soluções mirabolantes. Falo sobre um curso que quero fazer como se essa fosse ser uma saída para a independência financeira que nunca tive. Nåo acredito que a ideia seja boa o suficiente se eu apenas quiser fazer o curso porque gosto do assunto e quero conhecer mais e estudar. Vou depender de outra pessoa para pagar pelo curso e sinto que só conseguirei apoio se acreditarem que, dessa vez, mais uma vez, vai dar certo e eu vou alcançar o tal sucesso profissional medido em sua capacidade de receber pelo que você faz...

Eu escrevo o que consigo. Não há nada que eu queira fazer diferente disso. Tenho lido livros que ensinam técnicas de redação, narração, apresentação, como tornar o que você escreve um produto. Se não consigo ir muito longe na criação então que eu procure me aperfeiçoar. Não quero fazer nada diferente do que escrever...

A sensação de incompetência me puxa de volta e as idéias somem rápido. Não há iniciativa forte o suficiente para quebrar a barreira.

Quem sou eu? O que eu quero? O que eu tenho? Se tudo a minha volta ruir, o que eu terei que sera meu?

Quando meus pais não estiverem mais por aqui, qual sera a família com quem irei passar meu Natal? Quem seråo as pessoas do meu lado no Ano Novo daqui a 15 anos?

Se meu esposo sofrer um acidente, como vou poder sustentar a mim e a Rebeca?
Que tipo de vida eu terei e poderei proporcionar?

Quando eu sinto que tenho uma casa logo sou lembrada que a mesma não é minha. Que não tenho nada que seja meu. Que tudo que existe a minha volta e mantém a minha vida existe por vontade e favor de outra pessoa.

Não fui capaz de estudar, fazer uma graduação, ter um diploma, exercer uma profissão, ter uma vida normal. E hoje, aos 36, simplesmente continuo me sentindo tão fragilizada e incapaz de mudar esse quadro quanto aos 13 anos e tive minha primeira crise.

O país inteiro numa crise fabricada por interesses excusos, o aumento da violência, onde criar minha filha com segurança? Como me esconder dessa onda de intolerância e permitir que ela viva livre e segura? Como fazer isso sem ter nada?

Então me concentro nas pequenas coisas.
Acordo de manhã e ajudo a Rebeca a se arrumar pra aula. Acompanho minha filha a suas aulas de dança e me lembro que pra tudo é preciso dedicação e persistência.
Faço companhia para minha mãe e tento entender suas limitações, tão parecidas com as minhas, e apenas fico com ela na esperança que por não se sentir sozinha ela se sinta mais segura.

Programo as compras. Tento fazer planos de controle de gastos e onde focar os esforços para pagar dívidas que não deveriam existir mas existem e precisam ser pagas.

Ajudo os amigos quando e como posso. Pode estar ruim pra mim mas o pouco que posso fazer pelos outros será feito. Estamos perdidos em nossas bolhas e nossos problemas mas não estamos sozinhos. Me afundo um pouco mais no sofá, giro os juros do banco, mas ajudo e mostro talvez o que eu queira me lembrar: não estamos sozinhos.

A noite na hora de dormir converso com a Rebeca sempre que o humor e o tempo permitem. Ela me conta sobre a escola, sobre os amigos, sobre o curso, sobre os programas que assiste e as músicas que ouve. Vou descobrindo como ela vê o mundo, e respondo todas as perguntas que ela me faz da melhor forma possível.

Ela cresce tão rápido e eu não quero um dia olhar pra trás e pensar que poderia ter aproveitado mais esses momentos se... Não há um "se". Reclamo, me canso, arranjo briga com o marido que espera ela dormir para ir deitar e tem feito isso cada vez mais tarde. Mas eu aproveito o tempo que tenho.

Porque hoje eu sinto que tudo o que tenho são as pequenas coisas e esses preciosos momentos. Então e neles que me apego até ganhar força e voltar a tentar construir minhas bases, criar minha historia. 


E hoje é o que tenho.

Amanhã é outro dia.

E essa nuvem que hoje me acompanha vai passar. Ela sempre passa.

Amanhã é outro dia.

Um comentário:

Ai, que bom que você veio! Puxe uma cadeira,sente-se no chão e sinta-se na casa alheia.^^ Mas me da um toque :P