De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

do hoje e do passado

do hoje:

hora de colocar a Rebeca pra dormir, ela vem pro meu colo depois do papai ter dado banho. E ele diz:

 - "da um beijo no papai filhinha!
(ela beija a propria mão e encosta nele, dando o eijo do jeito timido dela)
-  Não filha, da um beijo de verdade!
(ela faz a mesma coisa de novo, e quando ele aproxima o rosto dele do dela ela vira de costas dando risadinhas, timida timida)
 - e a mamãe, vai dar um beijo no papai de boa noite? (e virando pra mim) Hein amor? (e me da um beijo)
A Rebeca da mais uma risada e eu dou um beijo estalado nela. Ai ela vai dar outro beijo de mão no Taz que mais uma vez aproxima o rosto do dela ai...
nem pensa duas vezes, encosta a mão no rosto dele e empurra fazendo ele virar pra dar um beijo em mim!
:P esperta a menina!


Ontem...


e por ontem digo ha anos e anos atras.

Muitas pessoas tem chegado ate o blog recentemente atraidos pelo lado bipolar do nome dele. Algumas mulheres que querem ter filhos, umas que terão, outras que querem ter. Todas bipolares. Outros são homens bipolares ou que convivem de alguma forma com um bipolar.

Eu queria agradecer voes por passarem aqui e depositarem nesse cantinho um pouco da sua curiosidade, e quem sabe, da sua esperança. E importante pra mim poder ajudar de alguma forma. Nme que seja so contando parte da minha historia...

E pensando nisso, e no brigadeiro que fiz hoje, e no reencontro de galera que estou organizando, e nos meus problemas no relacionamento, e nos problemas financeiros, e em como lido com as questões que chegam ate mim, minhas, dos outros, enfim, achei que precisava falar um pouco de como eu ja estive.

Estive

é importante dar uma certa enfase nisso: ESTIVE.
Passado
MOMENTO NO PASSADO
Não uma constante
Não quem eu fui
Mas como ja estive.

Pensando em mim hoje, olhando pra como eu encaro as coisas, pra forma como enxergo o mundo, sei que estou mais proxima de quem eu realmente sou do que estive ha um bom tempo.

Eu quero ressaltar que eu estou sempre falando de momentos. Se dizem que a vida de uma pessoa é vivida por momentos, a vida de um bipolar não tem duvidas de que é. Existe o momento que voce é voce mesmo, e depois o momento em que voce esta em crise, e alguns momentos em que voe esta entre crises. E a luta é pra tentar resgatar a sanidade daquele momento inicial. Muitas vezes o problema é que, quando olhamos pra tras, não conseguimos mais enxergar o momento em que eramos apenas nos mesmos, sem exageros, sem doença, sem crise.

E muito comum voce conhecer um bipolar que acredita que o EU verdadeiro dele é um eu dele em algum estado de crise. Seja qualquer cuma delas entre o depressivo e a mania. Muitas vezes a mania, afinal e quando estamos nos sentindo super bem. E quem não quer ser o cara que se sente feliz, bem, hiper inteligente, descolado, popular?

Mas não somos.

E agora entra a parte do brigadeiro :P

Quando eu era criança minha mãe costumava fazer brigadeiros pra nós, para comermos de colher. Ela fazia na panela usando chocolate do padre e depois deixava esfriar no freezer ou na geladeira. E nos iamos la, felizes, com nossas colherinhas de chá, comer brigadeiro.

Minha mãe não cozinha. Simples assim. Não é algo que ela faça. Nunca vi minha mãe na cozinha pra fazer mais do que 3 coisas durante a minha infancia: brigadeiro, pavê e arroz com ovo. Aprendi os tres. Ela nem lembra de fazer...

Bom, acontece que a lembrança do brigadeiro, daqueles gosto especifico de brigadeiro feito com chocolate do padre ficou guardado na minha memoria.

Eu, quando faço brigadeiro, o que hoje em dia é raro, costumo usar Nescau mesmo. Fica bom, mais doce, sempre achei que era a mesma coisa. Mas, hoje em especial, fiz o brigadeiro usando chocolate do padre, sem acrescentar nada. E agora pouco, antes de vir postar, minha colherinha em mãos, fui comer o brigadeiro. E o que aconteceu foi mais do que sentir um gosto gostoso de brigadeiro de colher, mas fui invadida por uma serie de lembranças, que ativaram minha imaginação, que me fizeramlembrar de mais coisas, e eu ate briguei mentalmente com minhamãe por ela levar o brigadeiro pra comer no quarto.

Desde que engravidei da Rebeca eu venho tendo momentos como esse em que relembro a minha propria infancia. Freud explica, um dia pergunto pra ele. Mas uma coisa que achei importante é que nessa epoca, a epoca do brigadeiro, eu com certeza era eu mesma.

Eu tive a minha primeira crise serie quando tinha 12 anos de idade. Seria mesmo. Chorava muito, não ia a escola, cabulava aula, comecei a fumar, sentia uma dor dentro de mim que nem com auto flegelação eu conseguia acalmar.

Sim, eu me atuo flajulava. Por diversas vezes a dor que senti era tão grande que eu acreditava que era melhor sentir uma dor fisica que continuar sentindo a dor que sentia por dentro. E pelo menos a dor fisica não tinha como alguem me falar que era invenção minha, que era rebeldia, que era preguiça. Não fncionava, ja adianto. Nunca funcionou.

Depois de muito tempo meus pais cederam e decidiram me levar ao medico, psiquiatra que tratava a sindrome de panico de minha mãe, e foi ele quem deu meu primeiro diagnistico: Psicose Maniaco depressiva. Eu tinha 13 anos. Ele receitou paroxetina. Eu tomei por 1 mes e meio, virei, entrei em mania, fiz um monte de outras coisas parei de tomar o remedio e nunca mais voltei la.

Fui ao medico novamente ja com 20 anos de idade, por escolha minha. Ou melhor, desespero meu. mas eu ja sabia o que eu tinha. Eu nunca duvidei do diagnsotico inicial. Eu sempre soube como eu me sentia. Mas tinha passado, e por mais que eu tenha passado os 7 anos seguintes entrando e saindo de crises, elas nunca mais foram tão fortes assim. Ate meus 20 anos...

Nessa epoca eu estava em uma crise mista tão grande, entrei em uma depressão profunda, e fui internada por 14 dias como risco de suicidio. Minha caminhada em busca de mim mesma começou ai.

Foi dificil. Mas não foi impossivel, afinal, estou aqui não?

Eu nucna quis me matar. Nunca. Na epoca que fui internada eu passava 3 noites acordadas seguidas para dormir cerca de 6 horas e fazer tudo de novo. eu estava cansada e queria dormir. E isso era perigoso demais.

Aderir ao trtamento foi dificil. eu tive que reaprender tudo. Tinha que  reaprender a sentir as coisas. O que era rir, o que era dor de verdade, o que era sorrir, ou tedio, ou sono. Eu não tinha controle algum sobre nada. demorei mais de 1 ano pra conseguir fazer alguma coisa sozinha de verdade. Nem lembro quando consegui dormir de luzes apagadas novamente.

Troquei de medico, de psicolologo, não consigo contar quantas vezestive que trocar a medicação pra chegar onde estou hoje. Mas cheguei. estou aqui, tomando a melhor medicação possivel pra mim. E ainda não é facil.

Retomar a medicação correta foi muito custoso, pois batia de frente com o meu ideal de mãe. de estar sempre alerta. Batia não, bate. Ainda sinto muito sono durante o dia, ainda não tenho iniciativa, ainda estou insegura e bastante instavel. Mas isso dentro de um quadro infinitamente melhor que o de 8 anos atras quando comecei a me tratar.

E eu queria dixer isso com esse relato todo. EU realmente QUASE FUI outra pessoa. EU ESTIVE em um estado em que não me reconheço mais quando leio o que escrevi na epoca. Eu lembro, sei que fui eu, mas não sou aquela pessoa.

Eu sou a menina que comia brigadeiro com a mãe quando era criança, usando nada mais que uma colher de chá :D Inocente, sincera, carinhosa, que sonha com a maternidade, e tudo o que quer fazer da vida é escrever e ajudar os outros.

E eu fico feliz, todos os dias, por piores que eles sejam, por saber que hoje eu estou trilhando esse caminho. Por que a cada dia eu fico mais proxima de voltar a minha realidade.

E possivel. É so persistir. E lembrar, como meu namorido sempre costuma citar "que para quem sabe olhar pra tras nenhum caminho é sem saida"

6 comentários:

  1. Que lindinha a Rebeca, toda tímida.

    Também amo brigadeiro, lembra muito minha infância, quando minha mãe nunca deixava eu comer na colher...rsrs

    E obrigada pelos conselhos sobre a medicação lá no blog, a pediatra falou a mesma coisa que vc me disse...rs Bryan já começou a melhorar, e esta sem febre.
    bjos

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  2. Di
    Amo seus post.
    E seu blog me ajuda muito, todos os dias.
    Te Adoro

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  3. Di, seu post me fizeram chorar muito.

    Me fez lembrar que eu já estive melhor do que estou hoje, mas também já estive muito, muito, muito, pior do que estou hoje.
    Também sofro com a doença desde a pré adolescência. Várias crises, algumas tentativas de suicídio e uma internação. Recebi diagnóstico de depressão, Transtorno do Impulso e Bipolar, mas nunca continuei os tratamentos porque nunca me identifiquei com nenhum dos diagnósticos.
    Somente na última crise, há cerca de três meses, depois de dois anos de tratamento para depressão, recebi novamente o diagnóstico de bipolar. Ao buscar mais informações, descobri o tipo misto da doença e finalmente concordei com o diagnóstico. Agora sim, estou aderindo ao tratamento com vontade.
    Sua história é motivadora.
    Brigada.
    Beijos.

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  4. Encontrei seu blog através do Bipolar Brasil. Tbm sou uma mãe bipolar, e das minhas filhas, uma delas já apresenta tbm o transtorno (a caçula de 5 anos). Adorei seu blog, me identifiquei mto com seu jeito de escrever! Voltarei sempre!

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  5. O que me surpreende é a consciencia que vc tem de voce mesma.
    Coisa que dificil até mesmo para quem não é bipolar.
    Vc já experimentou fazer o brigadeiro com metade de chocolate em pó e metade de cacau em pó? Fica menos doce com um toque de chocolate amargo. Adoro!
    Ai, deu vontade de fazer. Rs
    Beijos!

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  6. Di vc é totalmente surpreendente. Adoro a forma como vc se coloca tão transparente diante de um mundo tão fantasioso que é a internet. Realmente me levanto e me reverencio pois assumir suas fraquezas e tentar melhorá-las não é tarefa para qualquer um, é preciso querer, é preciso mover uma força de não sei de onde. E cada dia que passa é um leão a ser abatido.


    Um grande beijo e um ótimo dia viu!!!

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Ai, que bom que você veio! Puxe uma cadeira,sente-se no chão e sinta-se na casa alheia.^^ Mas me da um toque :P