De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Sobre passado, presente e futuro

Quando eu era pequena, com uns 8 anos +-, eu fugi de casa.

Assim, fugi naquelas... Brava com meus pais por terem brigado comigo por alguma coisa que hoje já não lembro mais, eu fui decidida ao meu quarto, esvaziei minha mochila da escola e coloquei ali as coisas que achava essenciais. Quando me dei por satisfeita e não cabia mais nada na mochila, fui até a sala, fiz uma despedida dramática e sai porta afora para o mundo!

Não lembro tudo o que coloquei na mochila. Lembro de roupas, gibis... Na garagem de casa esquivei das nossas cachorras querendo brincar, abri o portão e fui pra rua.

Cheguei ate a esquina. Era de noite, a rua estava escura e vazia. Tive medo e voltei para casa. No entanto, sem querer dar o braço a torcer, e querendo que sentissem minha falta e se arrependessem de ter brigado comigo injustamente e viessem atrás de mim, decidi não entrar em casa e ficar na garagem. Lá havia uma casinha de cachorro enorme para nossas 4 cadelinhas, onde eu subi e fiquei sentada em cima pelo que me pareceram horas.

Cansada e com sono e sem ninguém ter vindo atrás de mim, vencida, entrei em casa. Meus pais, sentado no sofá da sala, me olham espantados e me perguntam onde eu estava.

Se foi verdade ou não que eles não sabiam eu não sei. Hoje eu conto essa história e eles nem ao menos se lembram do acontecido. Para mim a sensação de que eles nem ao menos perceberão minha ausência ou sentiram minha falta foi desoladora.


Mas minhas tentativas de mostrar minha frustração com broncas e querer que eles se arrependessem e demonstrassem isso não parou por ai. Desisti de fugir de casa, mas passei a me esconder embaixo da escada da nossa casa, um sobrado, e ficava lá embaixo, o mais fundo que podia, para que se eles olhassem só de longe não conseguissem me ver, e esperava que eles me procurassem.

Não lembro deles me procurarem mas acredito que eles o tenham feito. O que me lembro é das vezes que esperei em vão. A mais longa delas eu acabei adormecendo ali escondida e acordei horas depois sem ninguém ter ido me chamar.

Eventualmente desisti dessa prática, não sem um profundo sentimento de abandono.


Hoje olho pra trás e se por um lado olho para minhas próprias atitudes e penso em como estava sendo manhosa e mimada, por outro lado não tenho certeza se acredito nisso.

Talvez meus pais fizessem isso de proposito, exatamente para não me mimar demais. Talvez alguém tenha dito a eles que eu não podia vencer essas disputas pois isso tiraria a autoridade deles, ou faria com que eu respeitasse menos quando fizesse algo errado. Não sei. Todas essas hipóteses foram coisas que ouvi e li falarem sobre crianças ao longo dos anos.

No entanto, como meu terapeuta costumava me dizer, e como minha terapeuta atual me diz, e ate como uma astróloga que fez meu mapa astral anos atrás também comentou, eu sou uma pessoa muito consciente de mim mesmo.

E tenho ótima memória. E memória emocional.

E durante a gravidez da Rebeca eu me conectei muito comigo mesma e encarei medos, seguranças, sonhos, lembranças.
E uma das muitas coisas que trouxe dessa experiência foi a de tentar entender como minha filha se sente, e levar isso em consideração quando fizesse minhas escolhas de como lidar com ela.

Eu não queria, ou quero, que ela carregue esse tipo de sentimento de abandono como eu carreguei.

Isso nunca significou no oferecer disciplina, ou fazer todos os desejos, mas significou levar em consideração o modo.

No começo um pouco mais dura, hoje talvez mais livre, eu procurava e procuro observar a ação e a reação.

Quando ela era pequena e nos precisávamos ir embora de algum lugar onde ela se divertia, era claro que ela não ia querer parar de brincar. Então eu começava com um aviso: "Daqui 10 min vamos embora!". Dali a pouco um segundo aviso: "Só mais 5 min!". Até chegar no "vamos embora!". Entre os 1 ano e meio e uns 3 anos essa parte era seguida de choro, de não querer ir, de se jogar no chão.
Sim, é sempre assim. E eu aceitava esse comportamento dela e entendia sua frustração e a amparava. Abraçava, dizia que estava tudo bem, que era normal o que ela estava sentindo e tentava ajudá-la a se acalmar. Pacientemente. E quando ela parava eu levantava e dizia que iríamos embora.

Por vezes tive que esperar e fazer esse trabalho 2, 3 vezes até ela se acalmar e aceitar ir embora. Mas conforme os meses iam passando ela se acalmava mais rápido, insistia menos, até que finalmente os avisos se tornaram suficientes.

A ideia de que era possível ser coerente e firme nas decisões e ao mesmo tempo amparar e ser solidária ao que ela sentia fazia parte da essencia do tipo de mãe que eu desejava ser.


Hoje Rebeca tem 9 anos e está vivendo uma novidade em seu comportamento. É uma novidade que não vai passar. Não, é o começo de algo que depois reconhecemos como adolescência.

É um movimento tímido ainda, mas presente. Ela agora responde, quer ser ouvida, quer ser levada a serio. Quer demonstrações que confiamos nela.

Mesmo nos momentos que ela sabe que a gente sabe que ela não está sendo lá tão sincera.

Nada grave. Coisas simples, como dizer que já penteou o cabelo para ir a escola, ou que esqueceu de colocar o tênis nos dias de educação física e por isso estava de sapatilhas.

Conversamos, explicamos. Quantas vezes são necessarias e um pouco mais.

As vezes pedimos algo ou perguntamos alguma coisa que ela já explicou antes só para ouvir um "mas eu já disse isso! Você não ouviu?".

Ela nunca grita. Nem nós.

Ela questiona porque de algumas ordens. E fica magoada verdadeiramente se mandamos ela fazer algo ou chamamos sua atenção por alguma coisa de pouca importância ou que ela sente que não estava errada.

Hoje meu trabalho é o mesmo. Amparar e acolher. Explicar. Dar disciplina sim. Mas saber voltar atrás e pedir desculpas e mostrar pra ela que ela foi ouvida, que sua opiniao importa, que seus sentimentos são levados em consideração e que é possível ela estar certa e nos errados. E isso tudo sem deixar de ser firme quando necessário. Sem deixar de ter regras claras e rotinas. Sem fazer todos os seus desejos. Mostrando limites sim.

E tudo que eu espero é ter a chance de agir com ela como eu acho certo. Como senti falta de ter comigo.

Posso estar errada.

Mas as vezes ser mãe e isso. Ter a chance de tentar fazer diferente e cometer nossos próprios erros.


Mas ca entre nós?

Por enquanto eu acho que está dando certo...

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