De mãe e louco todas temos um pouco

Sejam bem vindos ao cantinho aconchegante que reservei para essa conversa. Espero que esses relatos possam de alguma forma ajudar aqueles que tem duvidas, receios, e as vezes até mesmo culpa por não serem perfeitos como gostariamos de ser para nossos filhos, que ja estão aqui, ou estão por vir.
Essa é minha forma de compartilhar essa experiencia fantastica que tem sido me tornar mãe, inclusive pelas dificuldades que passei, passo e com certeza irei continuar passando por ser Bipolar. E o quanto nos tornamos mais fortes a cada dia, a cada queda, como essa pessoinha que chegou me mostra a cada dia que passa.
A todos uma boa sorte, uma boa leitura, e uma vida fantastica como tem sido a minha, desde o começo e cada vez mais agora!

quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Sobre falar sempre da mesma coisa sem querer...

Hoje eu acordei de melhor humor.
O dia está quente, o sol brilha e queima ardido mesmo cedo de manhã. A noite fez muito calor e tivemos que dormir com o ventilador ligado no quarto pela primeira vez desde maio quando o frio do outono começou a amenizar as temperaturas...
O ventilador não era a melhor ideia considerando que estou resfriada, mas apesar dele acordei me sentindo menos doente, e talvez graças a ele, de melhor humor.

Ontem conversei muito com o Taz, sobre as dificuldades que estamos passando tanto emocionais como financeiras mesmo. Estamos naquele momento que vemos a mudança ser necessária mas não temos certeza de o que devemos fazer ou como.
Será que existe uma forma de mudar sem abrir mão das poucas coisas que mantemos?

E apesar de não termos chegado a nenhuma solução o simples fato de conversar foi bom. Colocar em voz alta, mostrar que estamos ali pra ouvir as angustias um do outro, lembrar que temos problemas práticos em conjunto. Lembrar que somos uma família e que devemos passar por tudo isso unidos.

Não acho que consigo ter conversas muito sérias sem ter uma crise de choro, ou de raiva.

Antes mesmo de conversar com o Taz, e o motivador para a conversa com ele ter existido, foi uma discussão, mais um desabafo mesmo, com meus pais sobre como viver numa situação desenhada para ser temporária por muito tempo tem me feito mal.

E por mais que nada do que eu sinto ou tenha dito ontem tenha mudado, ainda que nenhum dos fatores que geram minhas aflições e medos tenham sido resolvidos, ainda que eu ainda sinta que se ficar em silêncio por tempo demais vou ser engolida pela escuridão que me cega, ainda sim, hoje eu acordei de melhor humor.

Está calor. O sol brilha e queima ardido mesmo cedo de manhã. Levanto cedo mais uma vez, o corpo melado do suor por causa da noite quente, levo a Rebeca para as aulas de dança. Ela vai se apresentar no fim do ano e é importante não faltar nos ensaios até lá.

A noite deve ser quente, e noites quentes tornam o quintal convidativo para receber amigos ou apenas bater papo sem estar entre quatro paredes. Não temos isso a meses. Na verdade ainda não tinha acontecido de fazer calor a noite e não chover desde que mudamos para o andar de cima da casa onde fica o quintal.

É que até agora o quintal estava sendo aquele espaço descoberto entre os quartos e a cozinha que temos que passar meio correndo porque está chovendo, ou estava frio demais pra ficar por ali. Mas agora o calor parece ter chegado e o quintal é convidativo.

Terminei de ler mais um livro essa semana.

Consegui escrever o começo de uma história, assim, despretensiosamente mesmo, e fiquei feliz com o resultado.
Fiz um curso online rápido para dicas para escrever personagens e tramas de forma mais objetiva.

Estou de bom humor.

Amanhã é feriado.

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Vai passar...

Eu sei que passa.

Hoje eu tenho dificuldade de me concentrar.
Me comunicar, ter que falar com outras pessoas, por mais que eu queira, é difícil, requer esforço e cansa.
Hoje eu so sinto vontade de ficar quietinha, na cama, enrolada em uma coberta, me sentindo quentinha e segura. Mesmo que lá fora esteja um calor de 30°.
É verdade que sair desse estado da trabalho, mas pra algumas coisas eu ainda consigo fazer o esforço: Rebeca. Levar ela as aulas de dança, ajudar a fazer a lição de casa, dar um mínimo de atenção, responder os inúmeros questionamentos sobre o mundo na hora de dormir. Eu gosto, mas requer muito mais esforço que o normal.
Hoje, depois de passar o dia, quando finalmente me permito parar para jantar, eu estou tão exausta que não tenho energia para pensar em comer, o que comer, e a ideia de ter que preparar um prato que seja das sobras do almoço não alcança o meu desejo de me sentir acolhida, reconfortada, que acabo buscando na comida no fim do dia.
Cada um tem sua fuga, sua valvula de escape. Não tenho orgulho disso, no momento é um fato e um fator que não consigo mudar. Sem conseguir direcionar e encontrar essa sensação em mais nada, me parece desesperador tentar mudar isso agora.
Eu ainda sinto prazer nas coisas, eu ainda sinto vontade de fazer algumas coisas, mas é como carregar um enorme peso nas pernas, nos braços, nas costas, na mente...

Mas tudo isso passa.

Nas horas que minha mente simplesmente insiste em pensar apenas em coisas ruins, eu agradeço a existência do computador e do celular, tanto para distrair a Rebeca quando eu não me sinto capaz, quanto para derreter minha mente em redes sociais de forma que os pensamentos ruins escorram junto com a enorme quantidade de informações sem utilidade que se arrastam pela tela.

Mas eu sei que tudo isso passa.

Eu tento lutar o tempo todo com o sentimento de desespero que me assola. A voz que repete todo o tempo o quanto sou incapaz de fazer qualquer coisa, que não tenho controle nenhum sobre a minha vida, que sou dependente de outros inclusive nas poucas coisas que insisto em achar que faço bem. Que ecoa frases ouvidas em diferentes momentos da minha vida, os flashes repetidos de cenas vividas, a dor e a vergonha revivida a cada vez que pisco e perco o foco que tenho que manter para afastar tudo isso que escurece minha visão do mundo.

Hoje eu me sinto sozinha e desamparada, me sinto triste e perdida.

Mas eu sei que isso passa.

Então eu levanto pela manhã e me forço a abrir os olhos e continuar. Simplesmente continuar.

Não me sinto sem esperança, isso realmente não acontece. Eu tenho esperança, mais do que isso, eu tenho certeza, eu sei que isso tudo que eu estou sentindo vai passar.

Mas eu não quero que tudo passe. Acho que é importante ouvir um pouco do que esse lobo de escuridão tem a me dizer.

Tenho que ouvir minhas dores para poder mudar o que é real. Tenho que ouvir minhas dores para distinguir o medo e o exagero do que pode ser feito.

Para que depois eu possa usar minhas vitórias para me proteger.

Eu sei que isso passa.

Saiba você também.

Vai passar. FORÇA.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Sobre Natais passados...

Hoje é segunda feira de manhã. Acordo cedo para começar a rotina: trocar de roupa, arrumar Rebeca para a aula, tomar café...

Enquanto ela está na aula eu estou aqui pensando nas fotos que fiquei vendo ontem no meu domingo preguiçoso. Entre elas, fotos do Natal de quando eu era criança.

Eu tenho essa memória de uma época mais simples. De um Natal cheio de pessoas em casa, tios e primos, muita comida e bebida, presentes e mais presentes, bagunça das crianças e risadas dos adultos.

Uma das coisas que gostaria de ter feito diferente se pudesse seria ter mais filhos. Não tê-los não foi uma decisão fácil, mas foi sensata. Hoje eu dependo de ajuda para dar a minha filha o que posso, o melhor. Não seria possível fazer metade do que faço, dar a ela metade do que dou, se tivésse uma única boca a mais para alimentar.

No entanto essas fotos mexem comigo e fico pensando como seria possível fazer mais, dar a Rebeca memórias tão boas do Natal como as minhas...

Muito da graca do Natal estava em ter a família em casa. Meus tios por parte de mãe passavam a noite do dia 24 conosco numa enorme festa, ou é assim que eu me lembro.
Meus primos vinham e passávamos horas animados brincando juntos, bonecas, bolas, cordas de pular, rede na varanda, jogos e mais jogos. Em determinado momento o Papai Noel chegava e enquanto olhavamos para o céu, todos reunidos no jardim, na esperança de ver o bom velhinho passar, a árvore se enchia de pacotes embrulhados de papel colorido.

A ceia era farta, deliciosa. Lembro, claro, da vez que minha mãe deixou o Chester queimar. Suspeito que ela apenas tirou a casca queimada de fora e comemos o interior da carne queimada mesmo.

Lembro de passar a noite acordada com minha prima, conversando e fazendo chocolates na Fábrica de Chocolates que ela ganhou naquele Natal.

Lembro do último Natal que passei com minha avó Beth, tia da minha mãe, que me deu o meu primeiro vídeo game realmente meu, e uma linda arvorezinha de pedrinhas coloridas, essa última com o pedido que eu a guardasse com carinho e que sempre que olhasse para o pequeno enfeite lembrasse dela.

Eu tenho a arvorezinha ate hoje, e sim, sempre lembro dela.

Todo dia 25, desde sempre, acordavamos para o café, nos arrumavamos, e passávamos o almoço de Natal na casa da família do meu pai, no começo na casa de minha avó, depois que ela se foi, na casa da minha tia.

Mas conforme os anos foram passando as famílias foram se afastando. Primeiro meu tio e a família que decidiram passar os Natais com os pais da minha tia por valorizar o tempo com eles que já estavam com idade avançada. Depois minha tia que mudou-se para outro país com os filhos, para um doutorado, e mesmo quando ela voltou às coisas não foram as mesmas. Minha prima havia se casado e ficado no outro país, meu primo voltará anos antes mas manteve distância, minha tia continuou sua busca por si mesma.

O Natal passou então a ser com minha tia, prima de minha mãe, e meus primos menores. As vezes em nossa casa, depois na deles, num sítio no interior.

Depois que Rebeca nasceu isso mudou de novo. Por pedido de minha irmã e minha mãe passamos a fazer a véspera de Natal apenas com nosso núcleo.

E então eu não tive como dar essa experiência pra ela.

Sim, ainda passamos o almoço de Natal na casa da minha tia, e lá se reúnem tios e primos, crianças por todo lado, bagunça, risadas, muita conversa, muita comida e bebida.

Mas não é a mesma coisa.

Por mais que eu me esforce o dia 24 acaba sendo vazio. Falta vida, falta alegria, falta aquilo que faz o dia ser mágico, falta aquilo que cria boas memórias.

Minha irmã diz que não gosta de Natal e de trocar presentes nesse dia por ele ser muito comercial, muito voltado ao consumo. Mas ela não entende que quando você não tem uma festa, uma reunião, algo a esperar nesse dia, é aí que o foco acaba ficando apenas no ganhar.

E eu estou aqui, nessa crise que vocês têm acompanhado, saudosa desse tempo e pensando no futuro.

Como será o Natal esse ano? E o dos próximos anos?

Quando o que eu tenho hoje não existir mais, com quem estarei passando meu Natal daqui 10 ou 15 anos?

Como eu posso dar o que eu mais quero pra Rebeca nesse e nos próximos Natais?

Boas memórias...